Agronegócios
21/11/2016 10:01

Exclusivo: recuperação econômica lenta vai atrasar retomada do emprego, dizem analistas


São Paulo, 21/11/2016 - A frustração recente em relação ao ritmo da retomada da atividade econômica, que deve ser lenta e gradual, e a sensação de que a virada na economia foi adiada podem produzir efeitos negativos também na recuperação do mercado de trabalho, tipicamente o último item a se restabelecer em uma recessão, afirmaram analistas consultados pelo Broadcast.

Com a previsão, no início deste ano, de que o Produto Interno Bruto se estabilizaria no terceiro trimestre, a perspectiva do mercado era de que o trabalho pararia de se deteriorar em meados de 2017. Agora, com a expectativa de que o PIB só deve voltar ao campo positivo no primeiro trimestre do ano que vem, aumenta o risco de atraso na geração de vagas de emprego.

"Há o perigo de atrasar para o final do ano que vem ou para o início de 2018", disse Sarah Bretones, economista e especialista em mercado de trabalho da MCM Consultores. Sarah explicou que dois fatores prejudicam a recuperação do emprego: a atividade mais fraca do que o previsto e o recuo maior do que o imaginado na população ocupada.

Segundo ela, no começo da crise, as pessoas que perdiam o emprego formal começavam a trabalhar por conta própria, mas a última Pnad deu indícios fortes de que esse movimento está perto de se esgotar. "O que prevíamos é que esse movimento de migração para o trabalho por conta própria permanecesse até o ano que vem. Sem a recuperação, a população ocupada vai cair ainda mais e as pessoas vão sair da força de trabalho, o que caracteriza desalento."

Sarah atualmente prevê que o desemprego vai atingir o pico no meio de 2017 e, a partir daí, começa a declinar gradualmente, fechando o ano em 13,1%, na série sem ajuste. "Contudo, a atividade fraca e o fim da precarização podem atrasar essa inclinação positiva", alertou. A economista vai revisar suas contas e aumentar a taxa de desemprego esperada se a previsão de retração do PIB do terceiro trimestre da consultoria, rebaixada recentemente para 0,8%, de 0,6%, se confirmar.

Em fevereiro, o desemprego ultrapassou a marca de 10% pela primeira vez desde o início da Pnad Contínua, em 2012, com 10,2%. E, segundo os analistas consultados, ainda não se avista no horizonte o momento em que a taxa vai ficar abaixo dos dois dígitos. Já é certo, no entanto, que, no fechamento de 2017, o desemprego ainda vai estar longe de um dígito.

"É muito difícil ver a taxa em um dígito em 2017", afirmou o economista Thiago Xavier, da Tendências Consultoria Integrada. Ele considera difícil cravar um prazo para a recuperação efetiva do mercado de trabalho, mas admite que um PIB ainda menor no ano que vem adiciona riscos para a dinâmica complicada da retomada do emprego. A Tendências ainda projeta 1,5% para o PIB em 2017, mas, após dados fracos recentes da atividade, o mercado já espera 1,13%, conforme mediana das estimativas da pesquisa Focus desta semana.

Xavier disse que vê a desocupação crescendo constantemente até meados do segundo trimestre de 2017 - excluindo o período do Natal, que tem sazonalidade tradicionalmente positiva -, chegando a taxa de 12,6% ou 12,7%, na série com ajustes. No entanto, assim como o PIB, o ritmo de melhora deve ser lento, uma vez que o economista prevê taxa em 12,5% no final de 2017, também com ajustes. Ele ainda acrescentou que, nos primeiros cálculos para 2018, ainda não se vislumbra a taxa de desemprego em um dígito. Na última Pnad divulgada, a taxa de desocupação fechou o terceiro trimestre em 11,8%.

"Na nossa avaliação, não conseguimos ver uma melhora consistente. Mas, mais do que tentar acertar uma taxa, devemos apontar esse conjunto de riscos que ameaçam o emprego. E esses riscos, como o PIB mais fraco, são bem fortes para os cálculos sobre o mercado de trabalho", afirmou.

Entre os perigos, Xavier explicou que o início da retomada na economia pode implicar um retorno do crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) com as pessoas voltando a procurar emprego, o que poderia aumentar a taxa de desemprego, assim como pode motivar uma migração de postos de trabalho informais para formais, o que, embora traga mais qualidade para o emprego, não mexe na taxa de desocupação.

Everton Carneiro, analista econômico da RC Consultores, também avaliou que a taxa de desemprego vai estar "ainda muito acima dos dois dígitos" no final de 2017. Na série sem ajuste, ele prevê que a desocupação alcançará 11,3% na Pnad Contínua do trimestre terminado em dezembro do ano que vem.

Mas Carneiro ainda espera que a situação do mercado de trabalho comece a esboçar um progresso em meados de 2017 com a recuperação do varejo e dos serviços, setores, segundo ele, que mais empregam. Em sua opinião, o comércio volta a apresentar números positivos no primeiro trimestre do ano que vem e os serviços terão retomada no segundo trimestre. Até lá, a taxa de desemprego deve atingir 12%. (Thaís Barcellos - thais.barcellos@estadao.com)
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