Agronegócios
22/03/2022 08:29

Tecnologia: Solinftec terá robô para aplicação variável de insumos; lançamento será na Agrishow


Por Clarice Couto

São Paulo, 22/03/2022 - A agtech Solinftec, fundada em 2007 em Araçatuba (SP), criou uma divisão de soluções robóticas e na Agrishow, no fim de abril em Ribeirão Preto (SP), lançará seu primeiro produto comercial: o robô Solix. Destinado a lavouras de grãos e algodão, o Solix é programado para percorrer as plantações dia e noite, analisar planta por planta, identificar pragas ainda em estágio inicial de desenvolvimento, entre outros problemas, e recomendar ações de controle. Em um ano, a empresa prevê monitorar cerca de 1,5 milhão de hectares de grãos, principalmente no Brasil, de um total de 3,1 milhão de hectares de grãos sob supervisão da agtech no mundo.

O lançamento ocorrerá no Brasil, com foco especialmente em aplicação a taxa variável de inseticidas, nos Estados Unidos (herbicidas e fungicidas) e no Canadá, (adubos e emissões de gases de efeito estufa). Há planos também de iniciar as vendas do produto no continente africano ainda em 2022.

Com 2,5 metros por 2 metros e dotado de software que integra recursos de machine learning, inteligência artificial e análise de dados, o Solix possui câmeras que analisam a planta não somente por cima das folhas, mas também por baixo, local onde algumas pragas aparecem em seu estágio inicial, ainda em forma de larva. Percorrendo o campo 24 horas por dia, especialmente na entressafra e em períodos de manejo, o equipamento permitirá o combate às pragas, inclusive as noturnas, antes que a planta chegue a uma etapa sensível de vida, a reprodutiva. O Solix começou a ser desenvolvido há cerca de 3,5 anos.

"Controlar a praga em seu estágio inicial, na entressafra, tira uma grande quantidade de pragas do período reprodutivo da planta", explica o líder da divisão Robotic Systems da Solinftec, Thiago Rodrigues. Também viabilizará a maior efetividade de agroquímicos, de acordo com o executivo.

O Solix será autônomo e contará com placas solares para gerarem a energia necessária às atividades; terá capacidade para percorrer 200 hectares em uma semana e somar 14 milhões de plantas analisadas nesta área. Como termo de comparação, na análise convencional das lavouras, feita presencialmente por um técnico, são avaliadas cerca de 250 plantas na mesma área e período.

Ao traçar mapas de ação com base nas condições de cada planta, a Solinftec pretende atacar também um problema trazido pela mecanização no campo: a compactação do solo. Tratores, pulverizadores e outros implementos não precisarão mais percorrer toda a área para pulverizar defensivos ou fertilizantes, apenas os pontos onde for de fato necessário. Entre outros dispositivos, o equipamento também será dotado de um sensor de compactação do solo, para fazer as recomendações necessárias e evitar o agravamento do problema.

Também se espera uma redução do volume de defensivos e fertilizantes aplicados. No caso de inseticidas, o volume poder ser até 70% menor, caso a praga seja identificada em estágio inicial. Defensivos e fertilizantes, em geral, podem ter redução de uso ao redor de 30%, de acordo com a companhia. "Todas as máquinas agrícolas hoje estão prontas para trabalhar com taxa variável de aplicação de insumos, mas como fazer isso com dados coletados à mão? Apenas mapas de satélites e imagens baseadas na cor das plantas não fornecem informações suficientes", comenta Rodrigues.

Outra tendência a ser trazida pelo uso de robôs no campo, aponta o executivo, é a adoção de tratores e implementos menores para o manejo das lavouras, já que para percorrer apenas as áreas com pragas tende a ser desnecessário usar equipamentos grandes e com maior custo. O emprego de grandes máquinas ocorreria nos períodos de plantio e lavoura, quando as atividades precisam ser feitas de forma rápida e em grandes áreas.

Para utilizar o robô Solix, produtores precisarão adquirir o equipamento, que deve custar "menos do que um carro popular" e contratar uma assinatura mensal, que garantirá treinamento para uso e monitoramento das operações. De acordo com Rodrigues, já há cerca de uma centena de grandes produtores e empresas interessadas na solução.

A divisão trabalha no lançamento de outros robôs para as demais culturas que monitora, como a cana-de-açúcar. O segmento, que vem reportando à empresa redução de produtividade em virtude da compactação do solo, deve ser o próximo atendido. Serão iniciados testes e há possibilidade de iniciar a pré-venda do equipamento até o fim do ano, diz Rodrigues. A Solinftec também começa a desenvolver robôs para as culturas de laranja e café, para as quais a maior demanda, vinda do consumidor final, é por rastreabilidade da produção.

A empresa não pretende produzir o Solix em fábricas próprias, mas licenciar empresas de eletrônicos em cada país para produzir os robôs. No médio prazo, o equipamento tende a se tornar uma "commodity", na avaliação de Rodrigues, e o que diferenciará uma máquina da outra serão os softwares e algoritmos utilizados. "Estamos investido em robôs agora porque o mercado está mais focado em outras máquinas. No futuro, quem sabe, poderemos fazer parcerias com outras empresas", disse.

Crescimento e unicórnio A Solinftec cresceu 60% no ano passado e atingiu uma receita de R$ 200 milhões - considerando a receita esperada com contratos fechados no período. A nova divisão de negócios deve "dar um boom" no faturamento do grupo, segundo Rodrigues. A agtech também se prepara para uma nova captação em série C, que deve ocorrer no fim do ano - é umas das startups do agro cotadas para se tornar o primeiro unicórnio brasileiro no segmento, ou seja, empresa com valor de mercado de mais de US$ 1 bilhão.

A Solinftec atua em todo o Brasil, países da América Latina, Estados Unidos e Canadá e tem um centro de tecnologia em Shenzen, na China, com soluções para pequenos, médios e grandes produtores de soja, milho e algodão, do setor sucroenergético, citrus, café e florestal. Tem sob gestão, em tempo real, mais de 11 milhões de hectares.

Contato: clarice.couto@estadao.com
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