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Tarcísio fecha parceria com distribuidoras e não descarta ‘nenhuma hipótese’ sobre intoxicação

6 de outubro de 2025

Por Geovani Bucci

São Paulo, 06/10/2025 – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou nesta segunda-feira, 6, o firmamento de um convênio entre o Estado e a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) a Associação Brasileira de Bebidas (Abrade) para o enfrentamento dos casos de intoxicação por metanol. Segundo Tarcísio, haverá parceria com a iniciativa privada para solucionar o problema e que há “enorme vontade” por parte dos maiores players do Brasil de colaborar.

“Assim como fizemos reunião com a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) e a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), vamos também reunir o setor de bares e restaurantes”, disse Tarcísio. “Quem esteve aqui foram os fabricantes, os maiores players do Brasil – como Jack Daniel’s, Johnnie Walker, entre outras. […] Eles sofrem muito com isso, porque hoje há uma crise de confiança.”

O convênio terá como foco a criação de um programa de combate à falsificação, estruturado em três eixos: o treinamento de agentes públicos e também de comerciantes para reforçar instrumentos de fiscalização; a orientação direta ao cidadão, com cartilhas e materiais em redes sociais sobre como identificar falsificações e verificar a procedência das garrafas; e campanhas de divulgação em parceria com a mídia, a fim de ampliar a conscientização.

Tarcísio também destacou a criação de um sistema de qualidade voltado a distribuidores e comerciantes, com a concessão de um selo que ateste a compra regular com nota fiscal, a comprovação de origem e a capacitação adequada de seus funcionários. Além disso, haverá promoção da destruição de todas as bebidas, rótulos, lacres, tampas e selos apreendidos, que serão encaminhados para reciclagem mediante autorização judicial.

Paralelamente, serão elaboradas propostas legislativas nos âmbitos estadual e federal para aperfeiçoar as regras de logística reversa e fortalecer a fiscalização em toda a cadeia de bebidas, em complemento ao projeto já em discussão na Câmara que busca classificar a falsificação como crime hediondo.

O balanço mais recente aponta 192 casos registrados, dos quais 14 já foram confirmados e 178 seguem em investigação. Esses pacientes procuraram a rede de saúde nos municípios e tiveram seus casos notificados. As coletas de amostras são encaminhadas para laboratórios, que confirmam ou descartam as suspeitas. Até o momento, além das confirmações, já houve 15 descartes clínicos. Em relação a óbitos, são dois confirmados e sete em investigação.

Diante do avanço do problema, foi montado um gabinete de crise, que realiza reuniões periódicas com a participação do governador, das secretarias de Segurança Pública, Saúde, Fazenda e Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Comunicação, além do Procon-SP e representantes municipais.

Como resultado das ações, 11 estabelecimentos – entre bares, adegas e distribuidoras – foram interditados cautelarmente por comercializar bebidas sem comprovação de origem. Também houve a suspensão preventiva da inscrição estadual de seis distribuidoras e dois bares, medida que impede o funcionamento imediato desses locais. “Quem não comprovar a origem perderá a inscrição estadual. O mercado precisa se conscientizar: sabe-se a diferença entre o preço de uma bebida legítima e o de uma falsificada”, disse o governador.

Tarcísio recua sobre hipótese de participação de crime organizado

O governador foi menos enfático que na semana passada – quando descartou que há participação do crime organizado (do Primeiro Comando da Capital, o PCC) na falsificação das bebidas – e disse que não se pode descartar “nenhuma hipótese”. A hipótese de elo com a facção foi levantada pela Associação Brasileira de Combate à Falsificação.

“Nas operações, não podemos descartar nenhuma hipótese. Mas, à medida que avançamos, encontramos destilarias clandestinas[…] vemos que não têm ligação entre si. Isso ajuda a construir hipóteses críveis”, disse Tarcísio. “Temos que ser cautelosos. Não podemos passar nada sem evidência. Hoje, há muitos casos suspeitos, mas poucos confirmados.”

A declaração mais enfática ficou a cargo do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, que negou a existência de indício de participação do crime organizado. Segundo ele, o que existe é “associação criminosa: grupos de três ou mais pessoas que se unem para cometer crimes”, o que seria diferente de organização criminosa, que tem “estrutura hierárquica”. “Por que descartamos participação do PCC, por exemplo? Porque o crime organizado busca lucro exponencial, principalmente com tráfico de drogas. O mercado de bebidas falsificadas não se compara em rentabilidade”, destacou Derrite.

As operações de fiscalização resultaram, até agora, na apreensão de 128 mil garrafas em Barueri e 1.500 em Araraquara. Somente em setembro, foram mais de 43 mil ações em todos os 645 municípios do Estado. Em apenas uma semana, foram realizadas 60 operações, com apreensão de mais de 7 mil garrafas suspeitas e 100 mil insumos usados em falsificação, como rótulos, tampas e lacres.

No acumulado de 2025, as autoridades já apreenderam 50 mil garrafas e efetuaram 41 prisões. Uma das linhas de investigação apura a hipótese de que o metanol tenha entrado no processo por manipulação ou lavagem de garrafas reaproveitadas, sem observância das regras de logística reversa. Esse descumprimento facilita a atuação de falsificadores, que utilizam os recipientes descartados de forma irregular como insumo para adulterar bebidas.

Contato: geovani.bucci@estadao.com

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