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Serasa: pedidos de recuperação judicial no Agro batem recorde no 3º trimestre, com 628 casos

15 de dezembro de 2025

Por Gabriel Azevedo

São Paulo, 15/12/2025 – O agronegócio brasileiro registrou 628 pedidos de recuperação judicial no terceiro trimestre de 2025, maior volume desde o início da série histórica em 2021, segundo o Índice de Recuperação Judicial do Agronegócio divulgado pela Serasa Experian. O número representa crescimento de 147,2% em relação aos 254 pedidos registrados no mesmo período de 2024 e reflete a piora no ambiente de crédito do setor, que envolve produtores rurais pessoa física e jurídica, além de empresas relacionadas ao agronegócio.

“O avanço dos pedidos de recuperação judicial evidencia um período mais desafiador sobre a capacidade de produtores rurais e empresas do setor manter seus fluxos de caixa e pagamentos, em especial para aqueles que já estão há alguns anos rolando dívidas sem fazer os ajustes necessários para diminuir custos, rever patrimônio e encerrar expansões mal planejadas”, afirmou o head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, em nota.

No recorte geográfico, Mato Grosso liderou o número de pedidos de julho a setembro, seguido por Goiás e Paraná. A concentração nos principais Estados produtores indica que as dificuldades financeiras atingem regiões de elevada intensidade produtiva e forte dependência de crédito. Os dados foram desenvolvidos pela empresa a partir de processos registrados nos tribunais de justiça de todos os estados brasileiros.

Produtores rurais pessoa física somaram 255 pedidos de recuperação judicial no trimestre ante 106 solicitações no mesmo período de 2024. A maior parte das requisições foi realizada por produtores arrendatários ou de grupos econômicos e familiares (84), seguidos por grandes proprietários (69), pequenos produtores (58) e médios (44). O avanço indica que esse grupo, historicamente com menor participação em processos judiciais, passou a utilizar o instrumento diante de dificuldades crescentes de renegociação.

Produtores rurais pessoa jurídica acumularam 242 pedidos no terceiro trimestre de 2025, também em expansão frente ao ano anterior. Nessa categoria, o maior número de solicitações foi feito por produtores que atuam com cultivo de soja (156), seguidos por criadores de bovinos (45). O crescimento simultâneo de pessoa física e jurídica evidencia pressão generalizada sobre diferentes perfis de produtores.

Empresas ligadas ao agronegócio registraram 131 pedidos de recuperação judicial de julho a setembro, acima dos 56 do mesmo período de 2024. O segmento que mais buscou o recurso foi comércio atacadista de produtos agropecuários primários (31 pedidos), seguido por indústria de processamento de agroderivados como óleo e farelo de soja, açúcar, etanol e laticínios (27) e agroindústria de transformação primária (25). O movimento mostra que as dificuldades se estendem para além dos produtores, atingindo revendas, cooperativas e processadores.

“Nesse cenário é importante o credor reforçar a relevância da análise de crédito com base em dados. Quanto mais precisão e profundidade na avaliação dos riscos, maior a capacidade do mercado de antecipar dificuldades, ajustar limites e evitar que situações de estresse financeiro evoluam”, disse Pimenta. Segundo ele, a inteligência de crédito permite operar com previsibilidade, reduzindo inadimplência e contribuindo para sustentabilidade de toda a cadeia produtiva.

A Serasa Experian destacou que o Agro Score, solução desenvolvida pela empresa para análise de risco de crédito específica do agronegócio, permite identificar sinais de instabilidade financeira meses antes do pedido de recuperação judicial. Segundo levantamento da empresa, três anos antes do protocolo do pedido, o score médio dos produtores que ingressaram com a medida já se mantinha consideravelmente inferior ao da população geral de produtores. O índice considera produtores rurais de todos os portes que atuam como pessoa física e jurídica, além de empresas com Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) principal da cadeia agro.

Contato: gabriel.azevedo@estadao.com

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