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Sem BRB, fundos de pensão e banco público correm risco de levar calote de até R$ 3 bi do Master

8 de setembro de 2025

Por Alvaro Gribel, do Estadão, e Gabriel Baldocchi da Broadcast

Brasília, 08/09/2025 – A reprovação pelo Banco Central da operação da compra de parte do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB) deixará fundos de pensão e pelo menos um banco estatal expostos ao risco de não pagamento por parte do Master. Essas instituições – o Estadão/Broadcast identificou pelo menos 13 – fizeram investimentos em letras financeiras do Master, que não têm garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Segundo pessoas próximas à operação entre o Master e o BRB, o Banco de Brasília carregaria no negócio R$ 2,96 bilhões de letras financeiras do Master. Isso significa que, caso o BC tivesse aprovado o negócio, esses papéis seriam pagos pelo BRB. Com a negativa, se o Master tiver problemas de solvência, os investidores que compraram esses títulos correm o risco de não resgatar o valor investido – ou seja, levar um calote. Procurado, o Master não se manifestou.

O Banco Central, por sua vez, ao analisar a operação como um todo, entendeu que havia riscos de o BRB ser contaminado por “ativos podres” do Master (com valor de mercado menor do que o valor em balanço), o que geraria um outro problema para o banco estatal. A visão do BC, portanto, foi mais ampla, e levou em consideração outros efeitos colaterais para negar a operação.

O Estadão/Broadcast conseguiu identificar 12 fundos de pensão e um banco público que carregam letras financeiras do Master, chegando a um montante de R$ 1,81 bilhão, pelo valor da emissão. Há ainda mais R$ 1,14 bilhão de outros compradores.

Pelo levantamento, a RioPrevidência, fundo de previdência vinculado ao governo do Rio de Janeiro e que gere recursos dos funcionários públicos do Estado, comprou R$ 970 milhões em letras financeiras do Master – cerca de 8% do patrimônio da entidade, pelo balanço do fim de 2024.

Em segundo lugar aparece Amapá Previdência (Amprev), gestora do Sistema Próprio de Previdência Social dos servidores públicos do Estado do Amapá, com outros R$ 400 milhões.

O instituto tem entre os seus conselheiros o advogado Alberto Alcolumbre, irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e aplicou, neste ano, também R$ 250 milhões em letras financeiras do BRB, numa operação irregular, já que a compra de títulos de bancos públicos é proibida a entidades de previdência de servidores.

O fundo de pensão Maceió Previdência, dos funcionários públicos da prefeitura da capital de Alagoas, também comprou R$ 100 milhões de letras financeiras do Master.

Procuradas, as entidades não responderam à reportagem.

O Master começou a vender letras financeiras depois que as maiores plataformas de investimentos fecharam as portas ao banco para a venda de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Nos últimos anos, o Master teve um crescimento exponencial do seu negócio, tendo como base a emissão de CDBs a taxas de retorno bem acima da média do mercado, como 140% do CDI, cobertos pelo FGC até R$ 250 mil por CPF.

À medida que o volume de CDBs cresceu demais, grandes bancos – que compraram essas plataformas de investimentos – decidiram parar de vender esses papéis do Master pelo aumento da exposição do FGC ao risco do banco. A saída, para o Master, foi partir para a venda de letras financeiras, principalmente para fundos de pensão. Esses títulos, por sua vez, não contam com garantia do FGC.

Como revelou o Estadão/Broadcast, o Banco da Amazônia (Basa), que é controlado pelo governo federal, fez duas compras de letras financeiras do Master em 2024, totalizando R$ 40 milhões. Em abril, foram R$ 25 milhões, com nova compra dois meses depois, em junho, no valor de R$ 15 milhões.

O esforço para conseguir os recursos nos fundos de pensão nem sempre se deu de forma fácil. Em Aparecida de Goiânia (GO), membros do conselho do instituto de previdência da prefeitura tentaram barrar, em fevereiro de 2024, uma oferta para comprar R$ 50 milhões em letras do Banco Master. Mesmo sem a aprovação do colegiado, o investimento seguiu adiante.

A aposta dessas entidades em títulos de bancos chamou a atenção dos reguladores. Em julho do ano passado, a Secretaria que cuida dos institutos (RPPS) no Ministério da Previdência emitiu um documento aos fundos para destacar os riscos e os cuidados na aplicação de letras financeiras. O alerta se deu na mesma época em que o Master avançava sobre os fundos de pensão.

No texto, os técnicos dizem ter recebido relatos de participantes do mercado “manifestando preocupação” sobre critérios adotados na escolha dos ativos e “eventual influência” de entes federativos (prefeituras e governos estaduais). O documento não cita o Master, mas destaca dúvidas sobre a “enorme diferença” de porte das instituições financeiras emissoras na hora da escolha.

Agora, com o banco na berlinda, as operações feitas pelos fundos de pensão são alvo de auditorias internas e apurações por tribunais de contas e autoridades.

A operação envolvendo o Master e o BRB também levaria para o banco estatal R$ 4,61 bilhões em CDBs do Master acima de R$ 250 mil, que não são cobertos pelo FGC. Com a negativa pelo Banco Central, os detentores desses papéis também ficam expostos ao risco, na parte que excede o montante de R$ 250 mil.

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