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Relato de ‘alucinação’ e ‘paranoia’ fragiliza Bolsonaro como líder da direita, reconhecem aliados

24 de novembro de 2025

Por Bianca Gomes, do Estadão

Brasília, 24/11/2025 – Ao atribuir a violação da tornozeleira eletrônica a “paranoia” e “alucinação”, Jair Bolsonaro (PL) deu uma demonstração de fraqueza que, na avaliação de lideranças da direita e especialistas, fragiliza sua imagem de principal líder do campo conservador.

Ao ser indagado acerca do equipamento de monitoramento em audiência de custódia no domingo, Bolsonaro respondeu que teve “certa paranoia” causada por medicamentos prescritos por médicos diferentes que teriam interagido de forma inadequada.

“A alucinação, do ponto de vista eleitoral, é catastrófica. Mostra que ele está desequilibrado e despreparado. Só é boa para o bolsonarismo raiz. O resto vai achar que o tempo de Bolsonaro passou definitivamente”, diz o cientista político Renato Dorgan, CEO do Instituto Travessia e especialista em pesquisas qualitativas.

A avaliação é compartilhada por aliados, que admitem, ainda que reservadamente, que a justificativa baseada em “paranoia” é politicamente ruim para o ex-presidente. Um deles afirma que, para o eleitor comum, é difícil confiar em alguém nesse estado; no máximo, diz ele, as pessoas podem “sentir pena”.

O bolsonarista avalia que o episódio expôs uma fragilidade enorme e deixou o ambiente “pastoso” até entre apoiadores. Segundo conta, a notícia da prisão provocou indignação dentro do grupo, mas, após vir à tona que Bolsonaro tentou violar a tornozeleira com ferro de solda, houve uma evidente perda de entusiasmo entre os próprios aliados.

Um dirigente de um partido de centro-direita que pediu para não ser identificado também avalia que o episódio fragiliza ainda mais a imagem pública de Bolsonaro, sobretudo após a divulgação do vídeo em que ele admite ter usado um ferro de solda no equipamento. Já um estrategista ligado ao campo diz que o caso é ruim para a direita como um todo e marca um desfecho melancólico para o ex-presidente.

Há divergências sobre o impacto do caso na definição do candidato da direita para a disputa presidencial do ano que vem. Parte deles acredita que a crise pode acelerar essa escolha, já que Bolsonaro ficou enfraquecido com a prisão e não houve grande mobilização popular em sua defesa. Como apontou levantamento da AP Exata, as redes mostram tanto Lula (PT) quanto Bolsonaro em queda após a decretação da preventiva do ex-presidente e revelam um país sem clima para mobilização das massas.

A maioria, porém, entende que a definição só deve ficar para o ano que vem. De um lado, adiar a escolha do sucessor é uma forma de Bolsonaro preservar sua influência sobre a direita, justificam aliados. Do outro, antecipar a candidatura de um nome como o de Tarcísio de Freitas (Republicanos) só abriria espaço para ataques antecipados da oposição. Além disso, há toda uma negociação de espaços entre partidos de centro-direita para tirar o projeto de união do campo do papel.

Bolsonaristas minimizam episódio publicamente e evitam falar em desgaste

Publicamente, aliados têm tratado a “paranoia” como efeito colateral da medicação e atribuído o episódio à perseguição que Bolsonaro sofre.

O pastor Silas Malafaia afirma que uma alucinação ou surto provocado por remédios revela apenas um “momento emocional ou de saúde”, e não coloca em dúvida a capacidade de Bolsonaro de liderar a direita ou exercer qualquer função.

“Qualquer pessoa pode ter um mal por tomar remédios, e aquele conjunto de remédios produzir um mal no seu físico e no seu emocional. Por causa disso a pessoa não tem condições? Pelo amor de Deus. Não cabe. O que vocês tinham que estar falando é: por que Alexandre de Morares não aceita um documento médico. Ele é médico?”, questiona o pastor.

A doutora e mestre em Ciências Políticas, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Juliana Fratini, avalia que este deve ser o foco de Bolsonaro e de seus aliados.

“(Ele tem dito que) Na realidade ele é a vítima de uma perseguição E eu acredito que ele vai seguir nesse discurso Você, enquanto vítima de uma perseguição, fica sujeito a ter esse tipo de crise comportamental”, aponta.

A deputada federal Rosana Valle (PL-SP) argumenta que “qualquer um” estaria fragilizado na situação de Bolsonaro.

“O presidente não está no seu estado perfeito, mas isso não muda o fato central: ele não tentou fugir. A tornozeleira é simbólica; ele está sendo monitorado 24 horas por dia. Por que mexeria na tornozeleira sabendo que não sairia dali de forma alguma?”, questiona.

Para o deputado estadual Tenente Coimbra (PL-SP), mesmo preso, Bolsonaro continua sendo “o principal líder da direita na América do Sul”.

“O ato de colocá-lo na prisão é um dos últimos atos de uma perseguição sem precedentes no Brasil. Bolsonaro continua sendo o líder, a pessoa que vai indicar os rumos da direita em 2026. Precisamos permanecer firmes e pressionar o Congresso para tirar ele dessa situação.”

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