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PF confrontou Vorcaro e ex-presidente BRB sobre origem de falsas carteiras de crédito consignado

31 de dezembro de 2025

Por Aguirre Talento, do Estadão

Brasília, 31/12/2025 – Na acareação realizada entre o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, e o ex-presidente do Banco Regional de Brasília (BRB) Paulo Henrique Costa, a Polícia Federal fez questionamentos sobre a origem das falsas carteiras de crédito consignado vendidas por R$ 12,2 bilhões pelo banco de Vorcaro ao banco público do governo do Distrito Federal e se os valores tinham sido integralmente recuperados pelo BRB.

A delegada da PF responsável por conduzir a acareação, Janaína Palazzo, questionou Paulo Henrique Costa se ele sabia que as carteiras de crédito consignado vendidas pelo Master ao BRB tiveram origem em uma outra instituição, a Tirreno – segundo as investigações, era uma empresa montada por pessoas ligadas ao Master apenas para fraudar essas carteiras de crédito consignado.

Como revelou o Estadão, Paulo Henrique Costa admitiu em seu depoimento que o BRB não conseguiu recuperar cerca de R$ 2 bilhoes investidos nessa carteira suspeita de fraude, o que indica um potencial prejuízo ao banco.

A própria investigação conduzida pela delegada já havia detectado uma divergência nas versões apresentadas pelo Master e pelo BRB sobre esse ponto. Segundo a PF, as instituições apresentaram diferentes explicações ao Banco Central. O Master informou que essas carteiras de crédito tiveram origem em associações de servidores do governo da Bahia, mas havia graves inconsistências nos dados. Foi o BRB quem revelou que a origem das carteiras era uma outra empresa, a Tirreno. Por causa desses pontos, a delegada quis se aprofundar o assunto.

O ex-presidente do BRB disse que, quando o banco público acertou a compra das carteiras de crédito oferecidas pelo Master, acreditava que essas carteiras pertenciam diretamente ao banco de Daniel Vorcaro, e não a uma terceira instituição. A investigação detectou que o Master somente intermediou essa venda de falsas carteiras fabricadas pela Tirreno e não verificou a credibilidade desses ativos.

Vorcaro, porém, negou ter fornecido informações falsas. Em seu depoimento, ele afirmou que o BRB não teve prejuízo no negócio e disse que foi “surpreendido” pela liquidação do Master pelo Banco Central, em um momento no qual havia encontrado uma solução de mercado para a venda do banco a um consórcio de investidores dos Emirados Árabes Unidos.

O advogado de Paulo Henrique Costa, Cléber Lopes, afirmou que “não houve contradições” entre os depoimentos e disse que foram “percepções distintas sobre os mesmos fatos”.

“A acareação realizada foi breve e suficiente para esclarecer essas diferenças. Paulo Henrique Costa foi ouvido por mais de duas horas, respondeu a todos os questionamentos e sempre destacou que sua atuação se deu no âmbito de decisões técnicas, colegiadas e formalmente documentadas, indicando os registros que comprovam a correção e a regularidade de sua atuação como presidente do banco BRB”, afirmou.

O BRB afirmou, em nota, que é uma “instituição é sólida”, que “todo o processo de substituição de carteiras e adição de garantias, previsto em contrato, foi reportado e acompanhado pelo Banco Central” e que aguarda o resultado de auditoria “para avaliar o cenário e tomar as medidas necessárias”.

“O Banco reafirma sua robustez e ressalta que, dos R$ 12,76 bilhões mencionados pela imprensa, referentes à exposição bruta com documentação fora do padrão, mais de R$ 10 bilhões já foram liquidados ou substituídos; o restante não representa exposição direta ao Master. Todo o processo de substituição de carteiras e adição de garantias, previsto em contrato, foi reportado e acompanhado pelo Banco Central”, diz o texto.

“Em fase de auditoria, o BRB aguarda a conclusão de apuração relacionada a eventual prejuízo no BRB para avaliar o cenário e tomar as medidas necessárias. Essa apuração está sendo conduzida pelo escritório Machado Meyer Advogados, com suporte técnico da Kroll Associates Brasil.”

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