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NYT: “O Brasil teve sucesso onde a América falhou”

12 de setembro de 2025

Por Aline Bronzati, correspondente

Nova York, 12/09/2025 – O Supremo Tribunal Federal (STF) fez o que as instituições norte-americanas se recusaram a fazer: responsabilizar um ex-presidente que atentou contra a democracia. A conclusão é dos professores Filipe Campante, da Johns Hopkins, e Steven Levitsky, de Harvard, em artigo publicado nas páginas de editorial do The New York Times, nesta sexta-feira.

A Primeira Turma do STF condenou, por 4 votos a 1, o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentar dar um golpe de Estado após perder as eleições de 2022. A pena foi fixada em 27 anos e três meses em regime inicial fechado. A Corte “trouxe à Justiça o primeiro líder de golpe da História do País”, avaliam Campante e Levitsky.

Os autores contrastam a decisão brasileira com o desfecho nos EUA. O presidente Donald Trump, recordam, também tentou reverter sua derrota eleitoral, mas foi “enviado não à prisão, e sim de volta à Casa Branca”. O Senado absolveu o republicano no impeachment, a Justiça demorou a indiciá-lo e, em 2024, a Suprema Corte reconheceu ampla imunidade presidencial, permitindo seu retorno ao poder em janeiro deste ano. O resultado, afirmam, é um segundo governo “abertamente autoritário”, que persegue críticos e ameaça instituições, empurrando a maior economia do mundo para um regime “competitivo-autoritário”.

Campante e Levitsky enfatizam ainda a reação de Washington ao julgamento de Bolsonaro. Antes mesmo da sentença, o governo Trump impôs tarifa de 50% à maioria das exportações brasileiras e aplicou sanções a autoridades, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, em um “passo sem precedentes” reservado a violadores de direitos humanos. Após a decisão do STF, ontem, o secretário de Estado Marco Rubio prometeu “responder a essa caça às bruxas”, mencionam.

Para os acadêmicos, trata-se de uma tentativa dos EUA de “intimidar brasileiros a subverter seu sistema legal” – uma guinada que abandona três décadas de política norte-americana de apoio à democracia na América Latina. Eles avaliam que, diferentemente dos EUA, autoridades brasileiras identificaram cedo o risco autoritário, criaram o inquérito das fake news, derrubaram atos de sabotagem eleitoral e isolaram o ex-capitão politicamente. Afastado da corrida presidencial de 2026, Bolsonaro deixou de ser opção viável para a direita convencional, dizem.

A principal lição, concluem, é que democracias “não se defendem sozinhas”. Se, com todos os seus problemas, o Brasil está hoje “mais saudável” institucionalmente que os EUA, é porque não tratou o Estado de Direito como mero “pedaço de papel”. “Em vez de minar o esforço brasileiro”, escrevem, “os americanos deveriam aprendê-lo”.

Contato: aline.bronzati@estadao.com

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