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Gleisi reitera crítica a Derrite na relatoria do PL Antifacção: Dá ‘salvo-conduto’ ao crime

10 de novembro de 2025

Por Gabriel Hirabahasi

Brasília, 10/11/2025 – A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, criticou a escolha do secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite (PP), para ser relator do projeto de lei antifacções criminosas. Derrite é deputado federal por São Paulo e está licenciado para atuar no governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nesta semana, ele retoma o mandato parlamentar para assumir a relatoria do texto.

Em entrevista à GloboNews, a ministra disse que conversará com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), sobre a tramitação do projeto do governo. A ministra chegou a dizer que o texto já divulgado por Derrite “realmente é um salvo-conduto às organizações criminosas”.

“Não sei o que está por trás. Vai se tornar uma lei da blindagem e da bandidagem, porque vai blindar o crime organizado no País”, declarou. Ela reforçou não entender “por que estão fazendo isso, a não ser para blindar interesses”.

A ministra citou duas principais mudanças que, no seu entendimento, são as piores promovidas pelo texto já divulgado por Derrite. A primeira delas é pôr na lei antiterrorismo a menção às penas para os crimes relacionados às facções criminosas. Afirmou que isso dá “espaço para interpretações sobre se uma facção é terrorista”.

A segunda, que, nas palavras dela é “matadora”, refere-se ao papel da Polícia Federal nas investigações envolvendo as facções criminosas. “A segunda, e essa é matadora, é tirar a Polícia Federal da investigação de organizações criminosas. Tivemos uma operação muito importante e teve resultado positivo, que foi a Carbono Oculto, com atuação da Polícia Federal, da Receita Federal e do Gaeco, com pedido de auxílio às polícias locais. Essa operação, se o relatório do Derrite fosse lei já, a PF teria de ter pedido autorização ao governador de São Paulo”, declarou.

Gleisi continuou dizendo que o pedido do governo não é para que um aliado seja o relator do projeto, mas, sim, uma pessoa “neutra”. “Não estávamos pedindo para pôr um aliado próximo, mas uma pessoa mais neutra, que pudesse fazer a discussão sem estar contaminada com a disputa política. Derrite está contaminado. É secretário do governador Tarcísio, que declaradamente é oposição ao governo”, afirmou.

A ministra ressaltou que Motta “indicou o secretário de segurança de um governador que é declaradamente oposição e que pretende disputar eleição, ou pelo menos pretendia”.

“A prerrogativa de escolher relator é de Motta, mas na política costumamos construir as coisas, a gente se relaciona e constrói. Fiz um pedido a ele por causa da importância desse projeto para o nosso governo, para fazer um debate descontaminado da política”, alegou.

“Não existe questão técnica desprovida da política. Toda questão técnica carrega olhar e posição de quem está fazendo. Avaliamos de maneira muito negativa a indicação do Derrite exatamente por isso. Conversei com o presidente Hugo Motta na sexta-feira, disse a ele que não seria positivo, soaria como desrespeito ao governo e ao presidente”, afirmou a ministra.

Gleisi disse que pretende falar com Motta novamente nesta segunda-feira, 10, sobre a escolha de Guilherme Derrite e “levar a ele as preocupações” do Palácio do Planalto. Defendeu “desfazer isso” e disse que o relatório do secretário de Tarcísio “é ruim para o País”.

A ministra afirmou que pretende se reunir com o Ministério da Justiça para definir a estratégia do governo na tramitação da proposta. Defendeu que, caso não seja possível retirar alguns pontos do texto, “é preferível ser derrotado”.

“Se é assim, que eles façam a maioria e aprovem. Acho muito ruim. Não dá para aceitar esses pontos no projeto. É preferível ser derrotado, fazer a disputa, defender o que acreditamos, do que fazer mediação com algo que vai prejudicar o enfrentamento ao crime organizado”, afirmou.

Contato: gabriel.hirabahasi@broadcast.com.br

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