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Formato de capitalização desagrada e Cosan cai mais de 20%, maior queda diária de sua história

22 de setembro de 2025

Por Talita Nascimento, Vinicius Novais e Mateus Fagundes

São Paulo, 22/09/2025 – As ações da Cosan registram nesta segunda-feira, 22, a maior queda diária de sua história, com tombo de 22,53% logo na abertura dos negócios e recuo de cerca de 20% no início da tarde. Por trás da liquidação do papel está a decepção do mercado com o desenrolar da capitalização de até R$ 10 bilhões anunciada neste domingo. Embora os recursos sirvam para aliviar a elevada dívida da companhia, a diluição dos minoritários na injeção de capital preocupa investidores.

Pelo acordo, os controladores, os family offices Aguassanta e Queluz, ligados à família de Rubens Ometto, e os veículos de investimento do BTG e da Perfin aportarão R$ 7,25 bilhões a um preço por ação de R$ 5.

Haverá ainda um “hot issue” – oferta adicional – de R$ 1,81 bilhão, ou 25% da oferta base, destinada exclusivamente à atual base acionária da empresa. Nessa etapa, não participarão BTG, Perfin, Aguassanta e Queluz.

O restante dos recursos – até R$ 2,75 bilhões – virá de uma segunda oferta, condicionada ao volume captado na primeira. A estrutura definida no acordo com os acionistas garante uma capitalização total de até R$ 10 bilhões.

No processo de bookbuilding da oferta inicial, a gestão da Cosan informou que dará preferência aos acionistas atuais, “mas sem regra escrita”. Essa “discricionariedade” preocupa os minoritários, que podem ser mais ou menos diluídos conforme o resultado. Na prática, portanto, apenas até 27,5% das novas ações serão destinadas ao mercado em geral.

Todo o processo depende de aprovação em assembleia extraordinária a ser convocada. Nessa reunião, o controlador, Rubens Ometto, votará.

“Caso os minoritários não acompanhem, serão prejudicados”, diz o sócio da Fatorial Investimentos, Fábio Lemos.

Na mesma linha, o sócio da Ajax Asset, Rafael Passos, vê o movimento da ação nesta segunda-feira refletindo a pressão sobre os minoritários, que serão diluídos em toda a operação. Há também, segundo ele, frustração com o valor da ação na capitalização, R$ 5, inferior à cotação da sexta-feira (R$ 7,50).

“O preço que foi definido para a entrada do BTG e da Perfin foi muito aquém do que o mercado esperava”, afirma Passos.

Além de ser indiretamente impulsionada pela operação Carbono Oculto, que desbaratou a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis, as ações da Cosan receberam estímulo nas últimas semanas de movimentações de bastidores na expectativa de um desfecho que ajudasse na desalavancagem da companhia. Os papéis acumulavam ganhos de 28% em setembro até o fechamento de sexta-feira.

Contraponto

A dívida do conglomerado vinha sendo motivo de alerta nos últimos balanços. No fim do segundo trimestre, a alavancagem estava em 3,4 vezes, 0,6 vez acima do registrado nos três meses anteriores.

Após a injeção de capital, a dívida da Cosan deve cair para R$ 13,7 bilhões (de R$ 23,7 bilhões no segundo trimestre), incluindo R$ 6,2 bilhões em valor de resgate de ações preferenciais, antes de contabilizar o consumo de caixa contínuo da holding. A intenção da Cosan é, no futuro, zerar a dívida fiscalmente ineficiente.

Em relatório, os analistas da XP Regis Cardoso e João Rodrigues afirmam que os benefícios de resolver a estrutura de capital da holding podem compensar a diluição da transação.

“Por um lado, ela permite que a Cosan obtenha capital de investidores de longo prazo (lock-up de quatro anos para metade das ações e acordo de acionistas de 20 anos) com comprovada experiência em finanças e nos setores em que a Cosan atua. Além disso, permite a assinatura de um acordo de acionistas e a estruturação de uma sucessão gradual na estrutura de controle da empresa”, escreveram.

Contatos: talita.nascimento@broadcast.com.br, vinicius.novais@broadcast.com.br e mateus.fagundes@broadcast.com.br

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