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8 de outubro de 2025
Por Francisco Carlos de Assis
O impasse orçamentário que paralisa há uma semana a máquina pública norte-americana reforça o movimento de desvalorização global do dólar, somando-se a uma série de outros fatores, como o risco fiscal e ciclo de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed). A avaliação foi feita pelo economista-chefe da consultoria Análise Econômica, André Galhardo Fernandes, com exclusividade à Broadcast.
Ele diz que o dólar “continua na sua sina de desvalorização”, decorrente até então de causas conhecidas, como aumento do déficit público; desconfiança institucional – dada a tentativa de interferência do presidente Donald Trump em alguns departamentos importantes e até sobre o Fed; e início do ciclo de redução dos juros.
“Adicione a esses motivos o shutdown, que aumentou as incertezas com relação ao futuro da maior economia do mundo. As dúvidas crescentes sobre os Estados Unidos têm feito os investidores a buscarem outras moedas, mas, principalmente, o ouro. O metal é um ativo considerado extremamente seguro e a corrida a ele indica uma perda de confiança no dólar”, analisa Galhardo.
O economista destaca que o ouro já subiu quase 50% neste ano e, embora não seja possível afirmar categoricamente – dada a natureza errática de Donald Trump -, a perda de valor do dólar pode ser uma estratégia para reindustrializar o país, uma das principais promessas do presidente.
“Ademais, pode ter um efeito positivo sobre a balança comercial, pois torna as exportações mais baratas e as importações mais caras. A perda de valor da moeda norte-americana, por outro lado, tem significado a valorização das demais moedas do globo”, avalia. Galhardo afirma que o euro, por exemplo, valorizou-se aproximadamente 13% desde o começo do ano.
Segundo ele, esse movimento refletiu também no Brasil, com o real se fortalecendo cerca de 14%. “No entanto, a moeda brasileira não se valorizou apenas com relação ao dólar. Na comparação anual, o real valorizou-se em cerca de 24,7% com relação ao Índice de Moedas dos Emergentes, calculado pela Análise Econômica”, contou Galhardo.
Esse avanço do real, destaca, ocorre mesmo em um cenário de queda nos preços das principais commodities. Segundo o economista, a valorização da moeda brasileira pode ser explicada tanto pelos fatores externos mencionados como pelo elevado patamar da taxa básica de juros (Selic) no Brasil. Galhardo menciona o diferencial de juros, que cresceu a favor do País com a redução das taxas nos Estados Unidos, o que mantém a economia brasileira atrativa ao capital.
“Esse diferencial deverá aumentar, já que a tendência é que o Fed corte ainda mais os juros e, por aqui, de que a redução dos riscos inflacionários implique em taxas reais maiores com a Selic mantida em 15%”, observa Galhardo, lembrando que, por outro lado, o atual patamar da Selic e seus reflexos no câmbio tem afetado a competitividade das exportações brasileiras. “Em um momento no qual os preços das commodities estão em queda, a política monetária adiciona mais um efeito negativo para as exportações”, disse.
Essa pressão pode gerar impactos mais difusos – e prolongados – da atual política monetária sobre a atividade interna, atesta o chefe do Departamento Econômico da Análise Econômica. O índice de inadimplência no crédito rural para pessoas físicas, exemplifica, atingiu o maior nível da série histórica: 9,3% dos contratos, ante 3,7% em dezembro de 2024 e 1,2% em dezembro de 2023.
“Embora os fundamentos técnicos justifiquem a adoção de uma política monetária restritiva, a manutenção de uma taxa de juros em patamar tão elevado – com o objetivo de perseguir uma meta de inflação impraticável – tende a produzir efeitos de segunda ordem relevantes”, pontua Galhardo.
Nesse sentido, esses desdobramentos podem não se restringir ao setor produtivo, que já enfrenta os efeitos de um custo de capital muito elevado, mas também ao sistema financeiro, impondo riscos adicionais à rentabilidade bancária e criando um ambiente macroeconômico adverso, diz.
Em outras palavras, “alguns setores produtivos brasileiros enfrentam a configuração de uma tempestade perfeita”, que reúne o impacto do tarifaço, da retração nos preços das commodities, da valorização cambial, do encarecimento expressivo dos insumos e matérias-primas, somado a um custo de crédito em patamar proibitivo. “Cria um ambiente de forte estresse”, afirma. “Esse conjunto de choques pode desencadear um processo de histerese mais severo e persistente do que aquele atualmente considerado pelos formuladores de política econômica”, acrescenta.
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