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Exclusivo: ao menos 4 fundos de pensão públicos podem ter perdas com investimento na Ambipar

5 de novembro de 2025

Por Gabriel Baldocchi

Ao menos quatro fundos de pensão de servidores de Estados e municípios correm risco de sofrer perdas relevantes por investimentos feitos neste ano num fundo que detém ações da Ambipar. Os papéis da companhia despencaram com a crise que culminou num pedido de recuperação judicial do grupo em novembro, envolvendo dívidas de R$ 11 bilhões. A empresa acumula queda de 97% na B3 neste ano.

Com atuação em gestão ambiental e resposta a emergências, a Ambipar virou uma multinacional depois de comprar mais de 40 empresas pelo mundo. A companhia abriu capital na B3 em 2020, ao vender suas ações por R$ 24,75, e listou a subsidiária de emergências na Bolsa de Nova York, três anos depois. O grupo tem hoje 23 mil funcionários, somou R$ 3,5 bilhões em receitas no primeiro semestre deste ano e apurou um prejuízo de R$ 300 milhões no período.

No pedido de recuperação, a companhia alega que a crise atual foi deflagrada por vencimentos em contratos de derivativos que anteciparam a cobrança de dívidas. Já os credores questionam a real posição do caixa da empresa, uma vez que parte dos recursos reportados em balanço (R$ 4,7 bilhões) está num fundo de direitos creditórios (FDIC).

O Rioprevidência, dos servidores do Estado do Rio de Janeiro, é o que responde pela maior fatia de aplicações no fundo Texas, que detinha, na época do investimento, mais de 96% da carteira em ações da Ambipar. O aporte de
R$ 100 milhões foi feito em junho. Na data, o papel valia acima de R$ 16. Nesta terça-feira, 4, a ação é negociada próxima de R$ 0,33.

Outros três fundos de pensão de servidores municipais também aplicaram no papel neste ano: Santa Rita D’Oeste, em São Paulo, com R$ 2,4 milhões, além de Tacuru (R$ 2,4 milhões) e Fátima do Sul (R$ 2 milhões), ambos no Mato Grosso do Sul. Os investimentos foram feitos, em sua maioria, ao longo do primeiro semestre, quando a ação ainda se mantinha em patamar superior a R$ 10.

Segundo apurou a Broadcast, ao menos cinco outras entidades estatais de previdência também chegaram a iniciar negociações para um eventual aporte no fundo Texas. Em Canoas (RS), o credenciamento para fazer a aplicação seguiu adiante, apesar de recomendação de uma consultoria contrária ao investimento. A decisão pelo aporte, porém, acabou suspensa por conta da piora na crise da Ambipar e o pedido inicial de proteção feito pelo grupo à Justiça para evitar a cobrança de dívidas, em setembro.

“Considerando a volatilidade recente, com valorização e perdas acentuadas, em poucos dias, reforço a necessidade de acompanhamento cauteloso antes de qualquer decisão de aporte”, afirmou um dos membros do comitê de investimentos do Canoasprev sobre o fundo Texas, conforme registro em ata.

Alerta

O fundo Texas também entrou no radar das autoridades por ter o Banco Master como administrador. A instituição financeira enfrenta dificuldades para honrar compromissos e teve vetada pelo Banco Central a operação de venda de parte do capital para o Banco de Brasília (BRB).

Uma representação de maio do Ministério Público de Contas de São Paulo (MPC-SP) sobre aplicações de fundos de pensão em investimentos ligados ao Banco Master levantou questionamentos sobre o aporte feito pelo instituto de previdência de Santa Rita D’Oeste no fundo Texas. O MP considerou que, por ter a carteira praticamente 100% investida em ações da Ambipar, o fundo era arriscado demais para entidades de previdência.

Além disso, destacou o baixo número de cotistas no fundo, a baixa liquidez e o risco reputacional da gestão do Banco Master. “O MPC pondera que as aplicações no fundo Texas não seguiram as regras que garantem limites de proteção e prudência financeira exigidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal e pela Lei Geral dos Regimes Próprios de Previdência.”

No começo de outubro, o Tribunal de Contas do Rio de Janeiro também apontou problemas nas aplicações do fundo Texas feitas pelo Rioprevidência. A análise se deu como parte da checagem sobre investimentos no Banco Master. A corte considerou que o aporte no fundo Texas representava uma concentração típica de um fundo “mono-ação” e incompatível com os “princípios de diversificação e proteção”.

O relatório também destaca como fragilidade o fato de a Ambipar ser alvo de um processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por suspeita de manipulação de mercado, “com forte oscilação de preços em 2024.” A corte diz que a própria contabilidade do Rioprevidência já indicava perdas, com o registro do valor investido no fundo caindo de R$ 100 milhões para R$ 75 milhões de junho para julho.

A relatora do caso no TCE decidiu acolher um pedido dos técnicos para proibir o Rioprevidência de fazer novos investimentos em produtos ligados ao Banco Master, depois de identificar uma exposição de R$ 2,6 bilhões da entidade em títulos do banco e fundos administrados pelo grupo.

Procurados, Ambipar, o Banco Master e os fundos de Santa Rita D’Oeste, Tacuru e Fátima do Sul não responderam até o fechamento desta reportagem.

O Rioprevidência informou que o investimento esta em conformidade com a regulação e que a decisão do aporte foi embasada por “análise técnica”. A entidade diz que, na época, a Ambipar apresentava forte crescimento operacional e “resultados robustos”.

“As oscilações recentes nas cotas do fundo decorrem de ajustes de mercado típicos da renda variável e não representam perda efetiva”, afirma o Rioprevidênca, por meio da assessoria. O instituto diz ainda que o investimento corresponde a 1,5% da carteira do total do plano, “não impactando de forma relevante o desempenho previdenciário, que segue acima da meta atuarial (cálculo para o pagamento de aposentadorias futuras) – 8,63% acumulado até setembro de 2025, contra 7,46% da meta (INPC +5,05%).

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