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EUA-China destrava minério de ferro em outubro e mercado eleva projeções, mas Simandou é risco

31 de outubro de 2025

Por Ana Paula Machado

São Paulo, 31/10/2025 – A perspectiva de um acordo comercial entre Estados Unidos e China impulsionou os preços do minério de ferro em outubro, após o feriado nacional, a Golden Week, que suspendeu as negociações por uma semana na praça chinesa.

O contrato futuro negociado na Bolsa de Dalian subiu 2,63% no mês, fechando em US$ 112,50 a tonelada. No acumulado de 2025, a valorização chega a 7,92%. Já o contrato futuro na Bolsa de Cingapura avançou 2,85% em outubro, cotado a US$ 106,50 a tonelada. Nos dez meses deste ano, a alta foi de 5,60%.

A resiliência do setor levou grandes bancos e corretoras a elevarem as estimativas de preço da commodity para 2025 e 2026. Ainda assim, a tendência de queda em 2026 permanece, sobretudo pela maior oferta decorrente do início de produção da mina de Simandou, projeto da Rio Tinto na Guiné.

O Goldman Sachs revisou sua projeção de US$ 88 para US$ 93 a tonelada, diante de um mercado mais aquecido do que o previsto nos últimos meses, impulsionado pela persistente produção chinesa de aço, que manteve os estoques do metal estáveis no segundo e no terceiro trimestres.

Adiante, o banco norte-americano manteve visão cautelosa e espera que a cotação recue para US$ 88 a tonelada até o quarto trimestre de 2026, ante US$ 80 estimados anteriormente.

O Itaú BBA também elevou suas projeções. Segundo o analista de mineração e siderurgia Daniel Sasson, a cotação média pode chegar a US$ 102 a tonelada em 2025 e registrar média de US$ 100 em 2026.

“O minério tem se mantido em níveis mais elevados do que o mercado estimava já há algum tempo. Mostra aí uma resiliência, na verdade, de oferta e demanda do setor”, afirma Sasson à Broadcast.

Segundo ele, a revisão ocorreu pelo bom momento do minério de ferro, com o alívio nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China, fato que beneficiou as commodities metálicas e aumentou a confiança dos investidores.

Além disso, de acordo com Sasson, as medidas de estímulo à economia chinesa também impulsionaram o mercado em outubro.

“Dados recentes de atividade fabril na China mostram o crescimento nos últimos 3 ou 4 meses, e as exportações seguem em um ritmo muito forte. Isso ajuda bastante a destravar o preço do minério de ferro”, ressalta o analista do BBA.

Cautela

A Genial Investimentos revisou a curva de referência do minério com 62% de teor de ferro. Para o fim de 2025, a expectativa é de que a cotação alcance US$ 98 a tonelada. O preço projetado para o primeiro trimestre de 2026 subiu de US$ 93 para US$ 100, e a média de 2026 foi elevada para US$ 95, 3% acima da previsão anterior.

Mesmo assim, o analista de mineração e siderurgia da corretora, Igor Guedes, lembra que o momento exige prudência e que aguarda as repercussões do pacto firmado entre Estados Unidos e China.

“O mercado passou por um período de correção em outubro, caiu e voltou a subir mais ligado a expectativa do acordo com os EUA”, diz Guedes. “O acordo foi dentro do que se esperava, com a tarifa estabelecida de 47% e a China se comprometendo em suspender as restrições por um ano no fornecimento de terras raras.”

O risco para o preço do minério de ferro perto de US$ 100 a tonelada no próximo ano é a possibilidade de forte desaceleração das exportações de aço e de produtos acabados da China.

Para Sasson, do Itaú BBA, hoje as vendas externas chinesas compensam o mercado doméstico mais fraco e mantêm as atividades das siderúrgicas no país. “Então, se o consumo doméstico cair e as exportações de aço também em 2026 em razão de medidas protetivas dos países, a demanda por minério pode sofrer um pouco mais. E essa projeção de US$ 100 a tonelada pode estar em risco.”

Guedes, da Genial, frisa que o mercado ainda vai avaliar as estratégias chinesas para manter as exportações após o acordo com Washington, se será mais vantajoso pagar a tarifa de 47% imposta pelos EUA ou continuar a triangulação via países do Sudeste Asiático e África.

“Além disso, a entrada do volume de Simandou, na Guiné, já em novembro deste ano, aumenta a pressão sobre a oferta”, diz o analista da corretora. “As tarifas tiram a incerteza do mercado, mas como isso vai se refletir do lado de demanda real por bens duráveis, para ser exportado, ou aço bruto ou produto, temos de observar.”

Contato: ana.machado@estadao.com

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