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Especial: setor privado aquece investimento em infraestrutura, que deve crescer 4,16% em 2025

21 de outubro de 2025

Por Francisco Carlos de Assis

São Paulo, 21/10/2025 – Apesar das altas taxas de juros que têm desacelerado a atividade econômica, o setor de infraestrutura no Brasil mantém-se aquecido. Em 2025, projeta-se um aumento de 4,16% nos investimentos em infraestrutura, totalizando R$ 277,9 bilhões, comparado aos R$ 266,8 bilhões do ano anterior, conforme a 24ª Carta de Infraestrutura da consultoria Inter.B divulgada em setembro.

O que mais agrada aos especialistas e empresários do setor de infraestrutura é que, assim como no ano passado, em torno de 70% do total investido – algo como R$ 194,53 bilhões – virá do setor privado. O restante – pouco mais de R$ 80 bilhões – virá de recursos públicos.

Os investimentos deste ano estão sendo direcionados principalmente para energia elétrica, saneamento básico, e setor de transportes, incluindo rodovias, ferrovias e mobilidade urbana. “Chama atenção o impulso de investimento em saneamento básico (água e esgoto – A&E) e a relevância do setor privado, pela primeira vez dominante no setor, em grande medida reflexo do novo marco institucional e seu papel transformador”, lê-se na carta.

Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional e economista-chefe do banco BTG Pactual, ressalta o papel crucial do setor privado no financiamento dos projetos de infraestrutura e sua contribuição para o crescimento do PIB. Apesar de a taxa de investimento geral no Brasil ainda ser baixa devido aos juros elevados, o investimento em infraestrutura não está diminuindo.

“As concessionárias de serviços de infraestrutura, a grande maioria delas, estão emitindo dívida mesmo com juros altos para fazer o investimento. Se você pergunta a uma empresa de saneamento se ela está investindo menos, ela vai te responder que não, que continua investindo o necessário para cumprir com os cronogramas”, diz Mansueto.

A mesma coisa ocorre no segmento de concessionárias de rodovias federais. No ano passado, lembra o economista, o Brasil fez 12 concessões de rodovias federais. Este ano deve fechar com o mesmo número. Trata-se de um grande salto já que a média em 25 anos é de 2 a 3 concessões por ano.

Mansueto destaca que, dos R$ 2,4 trilhões em gastos públicos programados para este ano, cerca de R$ 80 bilhões serão destinados a investimentos, repetindo os números do ano passado. Isso, diz ele, sinaliza que o governo reconhece a necessidade de parcerias com a iniciativa privada para realizar os investimentos indispensáveis à infraestrutura no país.

“O governo está sendo muito pragmático porque a única forma de a gente aumentar o investimento no Brasil é investimento privado, é concessão. Então, está bem forte nessa agenda”, diz Mansueto, ressaltando que no ano passado o governo colocou R$ 20 bilhões no Fundo de Investimento em Infraestrutura Social (FIIS) para financiar obras e aquisição de equipamentos em áreas como saúde e educação, o que significa que o investimento público em infraestrutura pesada no ano passado ficou ali, entre R$ 60 bilhões e R$ 65 bilhões.

O presidente-executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini, disse em entrevista à Broadcast que está muito satisfeito e otimista com o futuro da infraestrutura no Brasil. Ele não economiza nos elogios ao governo Lula, principalmente neste terceiro mandato, que tem estado aberto, sem preconceitos, às Parcerias Público-Privadas (PPPs).

“O governo tem feito parcerias com o setor privado, leilões para concessões de rodovias e retomou projetos grandes como os de morarias populares (Minha Casa, Minha Vida)”, disse o presidente da Abdib. Ele destaca também o progresso em projetos de saneamento básico a nível federal e em governos subnacionais.

Isso se deve ao Marco Legal do Saneamento Básico, aprovado em duas etapas. Pela Lei nº 11.445/2007, aprovada durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, estabelecendo as diretrizes nacionais para o setor de saneamento básico no Brasil. Em 20 de julho de 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro, foi aprovada a Lei nº 14.026/2020, que revisou o Marco Legal de 2007 e estabeleceu metas de universalização de atendimento para 2033. Foi no governo Bolsonaro que foram definidos os novos modelos de arranjo regional e incentivo à entrada da iniciativa privada no mercado de prestação de água e esgotamento sanitário.

Marcelo Allain, ex-secretário do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) do governo Temer e atual sócio da BR Infra Group, aponta que os investimentos atuais são frutos de reformas acumuladas ao longo dos anos, incluindo o PPI, que visava atrair investimentos privados através de concessões e privatizações.

O PPI foi um programa para atrair investimentos privados em infraestrutura, incluindo concessões e privatizações de aeroportos, ferrovias, rodovias e energia. Criado em 2016, a ideia era modernizar a infraestrutura do País através da parceria entre o setor público e o privado, incluindo projetos que já haviam sido formulados em governos anteriores.

Contato: francisco.assis@estadao.com

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