Selecione abaixo qual plataforma deseja acessar.

Especial: repasse do IPA-INDUSTRIAL para IPCA tem sido mais rápido e intenso do que o normal

16 de dezembro de 2025

Por Gabriela Jucá e Anna Scabello

O repasse da desaceleração dos preços industriais no atacado, medido pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo Industrial (IPA Industrial), para o consumidor tem sido mais intenso e rápido do que o padrão histórico, aponta estudo elaborado pelo Itaú Unibanco. A análise corrobora a perspectiva de que a inflação de bens deve se manter mais contida no ano que vem.

Esse comportamento é apoiado pela desaceleração e, posteriormente, pela deflação do IPA Industrial nos últimos meses. A queda dos preços das commodities metálicas e a apreciação cambial no ano estão entre os fatores que contribuíram para o movimento. Na última divulgação do Índice Geral de Preços – M (IGP-M), referente a novembro, o IPA industrial acumulou queda de 2,95% no ano.

A análise do Itaú mostra que os preços de bens industriais no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vêm apresentando trajetória benigna ao longo do segundo semestre do ano, com destaque para a deflação em bens duráveis sensíveis a crédito. Aparelhos telefônicos e eletroeletrônicos têm registrado quedas disseminadas de preços, por exemplo.

“Esse movimento, em um cenário de uma atividade em arrefecimento – com uma demanda mais fraca por bens que dependem de crédito e os estoques em um nível elevado – sugere que a queda recente dos preços de bens no IPCA deve continuar e se manter mais comportada em 2026”, avalia a economista do Itaú Unibanco Luciana Rabelo.

Na mesma linha, estudo produzido pelo departamento econômico do Bradesco chama atenção para o efeito da transmissão da deflação de bens da China para os bens industriais no Brasil. Esse repasse pode acontecer de forma direta, pelos bens de consumo importados, ou de maneira indireta, pela compra de insumos.

Na China, os preços ao produtor já registraram deflação de 2,1% em novembro, como reflexo da demanda interna enfraquecida e excesso de capacidade produtiva. Desde junho, o índice de preços de bens importados da China em reais registra variações negativas.

O estudo do Bradesco estima que as importações de bens chineses reduziram 0,2 ponto porcentual por trimestre do IPCA de bens industriais ao longo do ano, na comparação com a média de 1,3% no período do IPCA industrial. “O efeito da China superou o impacto cambial, que contribuiu com menos de 0,1 ponto porcentual por trimestre”, avalia o banco, que também prevê uma inflação de bens mais comportada em 2026.

Mudanças estruturais

Há também fatores estruturais que podem explicar o repasse mais intenso dos preços dos bens do atacado para o consumidor, segundo o economista Matheus Dias, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Segundo ele, um deles é a mudança no comportamento do consumidor.

“Antes, era comum trocar o celular uma vez por ano, mas o consumidor hoje prefere postergar a troca de alguns produtos para comprar outros de menor valor agregado”, observa.

Consequentemente, destaca, isso contribui para o barateamento do custo de produtos e o repasse feito mais rapidamente do atacado para o varejo. No curto prazo, Dias considera que a tendência de deflação nos preços industriais ao produtor deve se manter, mas reconhece que há variáveis à frente que podem dificultar esse cenário pelo ano eleitoral, como os gastos fiscais respingando nas expectativas de inflação e na taxa de câmbio.

Veja também