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Especial: mercado monitora risco de novos estímulos com aproximação das eleições

23 de dezembro de 2025

Por Eduardo Laguna e Daniel Tozzi

Ainda que regras fiscais e eleitorais limitem o espaço para novas surpresas nos estímulos promovidos pelo governo, este é um risco não totalmente descartado por economistas. O time de análises macroeconômicas do Itaú Unibanco, por exemplo, atribui viés de alta à projeção de 1,7% ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026 justamente em razão do risco de novos estímulos fiscais, parafiscais e de crédito serem anunciados para atenuar a desaceleração econômica.

Segundo Natalia Cotarelli, economista do Itaú Unibanco, o banco prevê hoje um impulso fiscal de 0,8% do PIB em 2026, sendo 0,6% vindo do governo federal e 0,2% dos entes subnacionais (estados e municípios). Em sua última atualização de cenário, o banco continuou apontando desafio de 0,4% do PIB para o governo cumprir o compromisso de, no mínimo, zerar o déficit das contas primárias, aquelas que excluem as despesas com juros.

Especialista em contas públicas do Santander, o economista Ítalo Franca entende que, ainda que não deva repetir os volumes de 2023 e 2024, o impulso fiscal deverá cumprir em 2026 o papel de sustentar o crescimento frente a uma política monetária ainda restritiva. “Mesmo que haja algum aumento adicional de estímulos, seu impacto marginal sobre a atividade deve ser mais limitado.”

Para aliviar a pressão sobre as despesas discricionárias, onde o governo faz compensações pela alta dos gastos obrigatórios acima do limite do arcabouço fiscal, o governo recebeu recentemente a licença do Congresso para desconsiderar até R$ 10 bilhões do déficit das estatais federais e retirar do teto de despesas R$ 5 bilhões em investimentos em defesa nacional. Também foi autorizado a excluir das regras do arcabouço cerca de R$ 1,5 bilhão em despesas temporárias em educação e saúde custeadas com recursos do Fundo Social do pré-sal.

Durante apresentação do cenário da instituição financeira a jornalistas, o head de macroeconomia do ASA e ex-secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, disse que espera o cumprimento “formal” da meta de zeragem do déficit primário. Ainda assim, frisou, a institucionalidade do arcabouço fiscal segue em deterioração, uma vez que continuam sendo abertas exceções à regra.

Para Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, o risco de novos estímulos serem anunciados em 2026 existe, mas é limitado. “A nosso ver, a lista de medidas de estímulo já apresentadas deve contribuir bastante para a sustentação da atividade doméstica, inclusive com alguma aceleração da demanda no primeiro semestre. Há restrições legais e orçamentárias importantes no que tange à criação de programas ou medidas no ano das eleições gerais”, observa Margato.

Assim, a proposta de bancar as tarifas de ônibus urbanos, dentro de uma política nacional de passe livre, pode até entrar na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas sua aplicação só deve acontecer em 2027, caso o petista consiga a reeleição.

As previsões de mercado sobre as contas públicas de 2026 apontam para um déficit primário de 0,6% do PIB, incluindo, além do governo central, estados, municípios e estatais. É um pouco mais do que o saldo negativo de 0,5% esperado para o resultado final de 2025.

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