17 de setembro de 2025
Por Aline Bronzati, correspondente
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deve cortar os juros pela primeira vez neste ano na reunião que começou ontem e termina hoje. Mesmo com a inflação ainda distante da meta e sob a ameaça tarifária, o banco central referência para o mundo enfrenta pressões de um mercado de trabalho mais fraco, e que pode respingar na economia americana. O encontro marca a estreia do enviado do presidente Donald Trump, o economista Stephen Miran.
Nas mesas de Wall Street, a aposta quase universal – de cerca de 96% – é de que o Fed começará o afrouxamento monetário com um corte de 25 pontos-base, segundo a plataforma CME Group. Se o movimento se confirmar, os juros americanos passarão para o intervalo de 4,00% a 4,25% ao ano, após cinco reuniões consecutivas em que os juros permaneceram inalterados.
A grande mudança desde a última decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) foi o sinal mais forte de esfriamento do mercado de trabalho nos EUA, o que elevou o desemprego no país. O primeiro alerta veio em julho, quando o país criou 73 mil novas vagas, contra expectativas que apontavam para 101 mil. Além disso, os dados de maio e junho foram revisados, o que resultou em uma baixa de 258 mil postos. Agosto chancelou a expectativa de corte de juros pelo Fed após os EUA criarem 22 mil empregos no mês, muito aquém dos 76 mil previstos.
“Apoiar o mercado de trabalho tornou-se a principal prioridade do Fed e é muito provável que leve a um corte de 25 pontos-base na taxa de juros esta semana”, diz o time de economistas do Goldman Sachs liderado por Jan Hatzius.
Por sua vez, a inflação americana continua distante da meta do Fed, mas acelera praticamente em linha com as expectativas. Os recentes índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) mostram que o impacto das tarifas de Trump se espalha pela economia, mas ainda de maneira limitada.
Casas como o Bank of America (BofA) e o Morgan Stanley, que descartavam cortes nos juros neste ano, mudaram de ideia diante da deterioração do mercado de trabalho nos EUA. Nas últimas semanas, também ganhou força a aposta em um Fed mais agressivo na primeira tacada do ano, podendo cortar os juros em 50 pontos-base. É o que esperam o britânico Standard Chartered e o francês Société Générale.
Outra pressão para um corte maior vem de Washington. Trump voltou a pressionar o presidente do Fed, Jerome Powell, pela queda das taxas no país. “‘O muito atrasado’ precisa cortar as taxas de juros agora, e com redução maior do que tinha em mente”, escreveu ele ontem, em postagem na Truth Social.
Na reunião desta semana, Trump passa a ter mais influência sobre o Fed. O Senado dos EUA aprovou ontem o nome do seu indicado, o economista Stephen Miran, para um assento na diretoria do BC americano. É a primeira vez, desde a criação do Fed moderno na década de 1930, que um membro em exercício do Poder Executivo também servirá no banco central, segundo o The Wall Street Journal. Até então, Miran ocupava o cargo de um dos principais conselheiros econômicos da Casa Branca.
Com sua chegada, alguns operadores preveem chances de até três votos dissidentes a favor de um corte maior, de 50 pontos-base. Além de Miran, os diretores Christopher Waller e Michelle Bowman poderiam defender uma tesourada maior, repetindo o que fizeram na reunião de julho. O feito seria inédito na história do Fed.
“Seria a primeira vez na história que três membros do conselho de governadores do Fed votariam contra a decisão da maioria”, diz o diretor gerente e economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), Marcello Estevão, à Broadcast.
Menos “dovish”, o Morgan Stanley vê apenas Miran votando pelo corte de 50 pontos-base na reunião desta semana. “Não esperamos outros dissidentes”, diz o economista-chefe do banco para os EUA, Michael Gapen.
Quem também teve a presença garantida, ao menos por ora, foi a diretora Lisa Cook. Um tribunal de apelação rejeitou o pedido de Trump para destituí-la do Fed nesta segunda-feira, um dia antes do início do encontro, que começa hoje, em Washington. No entanto, espera-se que o governo Trump recorra à Suprema Corte em uma última tentativa de destituir Cook antes da reunião, relata a imprensa americana. A diretora se tornou alvo do republicano após ser acusada de fraude hipotecária.
Wall Street também deve olhar com lupa as projeções econômicas do Fed. O Bank of America espera que o BC dos EUA continue apontando a expectativa de um corte total de 50 pontos-base neste ano e outra tesourada da mesma proporção em 2026. Mas os riscos apontam para chances de um corte total de 75 pontos-base em 2025, diz.
Outro foco de atenção do mercado é a coletiva de imprensa que Powell concede após a decisão de juros. Para economistas, Powell deve manter tom parecido com o discurso no Simpósio de Jackson Hole, no mês passado, quando ele mudou o tom e reforçou o alerta para aumento dos riscos no mercado de trabalho.
O Fed divulga a decisão de política monetária amanhã, às 15h (horário de Brasília). Powell comenta os resultados da reunião em coletiva de imprensa, que ocorre 30 minutos depois.
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