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Entrevista/Allianz Trade: inadimplência do agro afeta seguradoras de crédito, diz CEO no Brasil

30 de outubro de 2025

Por Francisco Carlos de Assis e Renata Pedini

Os problemas financeiros de empresas do agronegócio continuam no centro das preocupações das seguradoras de crédito e ainda representam boa parte dos sinistros registrados pela Allianz Trade, que atualmente opera com uma sinistralidade bem abaixo da observada no mercado, segundo o CEO da companhia no Brasil, Marcel Farbelow.

“Este ano vemos muito problema no agronegócio”, diz Farbelow em entrevista à Broadcast, acrescentando que a Allianz Trade reduziu a exposição aos riscos do setor desde o ano passado, após os problemas na Agrogalaxy, mas que concorrentes estão “sofrendo bastante”.

Ele ressalta que a insolvência das empresas no Brasil, com alta estimada em 17% para este ano, deve continuar subindo em 2026, ainda que em ritmo menor. “Temos hoje 4 mil empresas insolventes no Brasil. No ano que vem deve ser mais 7% e só para 2027 é que o mercado projeta queda de 8%”, diz Farbelow.

A Allianz Trade, divisão de seguros de crédito do Grupo Allianz, estima que crescerá 10% em 2025, em linha com o esperado para as seguradoras de crédito.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Foto: Allianz Trade/Divulgação

Broadcast: Como o cenário macroeconômico afeta o negócio de vocês? Houve procura maior por seguro por causa dos juros altos?

Marcel Farbelow: No último ano, não observamos um aumento na procura devido aos juros altos. No entanto, a fraude nas Lojas Americanas em 2023 gerou um aumento significativo na demanda pelo nosso produto, fazendo com que nosso portfólio crescesse 43% e consolidando nossa liderança em seguros de crédito no Brasil.

Broadcast: A Allianz Trade perdeu muito com o caso das Lojas Americanas?

Farbelow: Tivemos uma perda enorme, mas recuperamos o valor graças ao aporte feito pelos sócios da 3G Capital [na Americanas]. Sub-rogamos e indenizamos valores substanciais aos nossos clientes, mas quando os acionistas aportaram o valor necessário, fomos pagos.

Broadcast: Algum setor apresenta maior risco neste ano?

Farbelow: Este ano vemos muito problema no agronegócio. No final do ano passado, tivemos uma perda substancial com a AgroGalaxy. Pagamos um valor muito alto e não vemos muita chance de recuperação no curto prazo. Isso deve entrar no plano de recuperação judicial da AgroGalaxy, com pagamento em 10 anos e deságio.

Broadcast: A recente recuperação judicial da Ambipar afeta a Allianz Trade?

Farbelow: Nossa performance em sinistros está boa este ano. No caso da Ambipar, já víamos deterioração e nos retiramos do risco. Não estávamos mais expostos.

Broadcast: Pode explicar melhor?

Farbelow: Ao subscrever, define um limite de crédito, ele é monitorado porque o nosso produto é uma parceria com o segurado. Não quero que ele tenha problemas na venda. Uma empresa é dinâmica, não é estática. Ela pode melhorar ou piorar. Se identifico piora, degradação na situação financeira e econômica dela, posso reduzir a minha exposição ou até mesmo cortá-la. Vale para os dois lados. A gente pode ir ajustando a apólice para mais ou para menos.

Broadcast: Vocês monitoram países também?

Farbelow: Sim, pode haver uma matriz combinada com o país se for para exportação. Uma nota boa vai vir de um país que também é bom, senão o próprio país contamina a nota da empresa.

Broadcast: O que levam em conta para formar esta nota?

Farbelow: Analisamos cinco pilares: gestão da companhia, lucratividade, alavancagem, fluxo de caixa e o setor em que ela está inserida.

Broadcast: Algum desses pilares pesa mais na decisão de alterar a nota de uma empresa?

Farbelow: Todos podem ter pesos similares, mas o que tem pesado muito hoje é o endividamento. Com a taxa de juros a 15% ao ano, a oferta de crédito está mais restrita e mais cara. Muitas vezes quem precisa de capital de giro tem se alavancado de uma forma significativa. O passivo vai aumentando e a capacidade de pagamento da empresa, diminuindo. Nem sempre as operações respondem na mesma velocidade, no mesmo patamar. Tem sido um grande ponto de downgrade.

Broadcast: Falando de Brasil, a taxa de juro é o principal ponto de downgrade das empresas?

Farbelow: Globalmente também. As taxas de juros estão acima da média histórica. Muitas empresas investiram bastante na pandemia. A Selic caiu a 2% ao ano, a menor taxa histórica, mas foi aumentando. Essas dívidas se tornaram cada vez maiores e agora, para as empresas se refinanciarem com esse crédito caríssimo, fica mais difícil.

Broadcast: O setor agro está sofrendo devido à pandemia ou tem outras causas?

Farbelow: O problema começou durante a pandemia e o setor também sofreu os impactos da guerra da Ucrânia. Começou uma quebra na cadeia de fornecimento de fertilizantes, as empresas começaram a estocar estes insumos, mas os preços das commodities caíram muito. A ponta não pagou o distribuidor, que não pagou o fabricante e houve alguns problemas.

Broadcast: Como está a sinistralidade no mercado de seguro de crédito esse ano?

Farbelow: As estatísticas da Susep mostram uma sinistralidade imensa, além de 100%, coisa de 140%. Nós estamos bem equilibrados. Nesse último mês, no acumulado do ano, a gente fechou em 38%, mas boa parte disso tem componentes de perdas vindas de agronegócio. Nossa média histórica é 45%, 50%. Concorrentes estão sofrendo bastante por conta do agro.

Broadcast: Qual é a expectativa de vocês para este ano?

Farbelow: Esperamos crescer em torno de 10% este ano, em linha com a expectativa para o mercado. Há muito espaço para avançar dada a baixa penetração do seguro. Mas as insolvências devem crescer 17% este ano. Temos hoje 4 mil empresas insolventes no Brasil. No ano que vem deve ser mais 7% e só para 2027 é que o mercado projeta queda de 8%.

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