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Eleições 2026: Sem Caiado, disputa pelo governo de Goiás continua guiada por ele

6 de novembro de 2025

Por Bárbara Ferreira, especial para o Broadcast Político

São Paulo, 23/10/2025 – Depois de oito anos, o reeleito governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), não pode concorrer novamente ao cargo, mas continua como a figura central da disputa que definirá seu sucessor. Presidenciável, Caiado, o governador mais bem avaliado do Brasil, de acordo com pesquisa Genial/Quaest, guia as discussões e alianças da próxima eleição. A um ano do pleito, os goianos transitam entre a continuidade do trabalho dele, com o vice-governador Daniel Vilela (MDB), e a oposição, com o nome do presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo.

Vilela e Perillo, pré-candidatos, estão confirmados e no topo das pesquisas de intenção de voto. O atual vice-governador e indicado de Caiado lidera com 26%, enquanto Perillo, quatro vezes governador, segue com 22%, de acordo com a Genial/Quaest divulgada em agosto.

Enquanto Vilela representa a continuidade e depende da transferência de votos do governador de Goiás, a oposição, liderada pelo presidente nacional do PSDB, tenta relembrar seus legados. As duas estratégias apresentam falhas e precisam de trabalho, segundo especialistas.

Outro nome em destaque é o do senador Wilder Morais, presidente do PL no Estado e uma aposta bolsonarista. Historicamente discreto nas sondagens e presente nas urnas, Morais ficou em terceiro lugar na Genial/Quaest, com 10% das intenções de voto, mas ainda não anunciou candidatura. Por meio de nota, informou ao Broadcast Político que o partido lançará candidato e que, no momento, está focado no mandato no Senado.

Logo em seguida, com 8% de preferência do eleitorado goiano, está a deputada federal Adriana Accorsi, presidente do PT em Goiás. Adriana, apesar de cotada para a candidatura ao governo local, disse que tem planos de se reeleger como deputada federal e que o candidato petista a governador ainda não foi escolhido pela legenda.

Caiado entra no último ano de governo com 88% de aprovação e apenas 9% de rejeição. “Um governador quase unânime no Estado”, avaliou o professor de Ciências Políticas da Universidade Federal de Goiás (UFG) Guilherme Carvalho. “O que a população está procurando não é alguém diferente dele, mas alguém que consiga emular o Caiado enquanto governador”, disse.

Transferência de votos e bolsonarismo

A candidatura de Vilela testa a capacidade de Caiado de transferir votos, condição que o põe na liderança das sondagens, mas também a adesão da direita bolsonarista ao governador, que mantém uma relação conturbada com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para Carvalho, a personalidade menos combativa do vice-governador precisa sustentar a forte agenda da segurança pública “caiadista”, a pauta mais falada no Estado.

“A principal política pública que empurra a boa avaliação do Ronaldo Caiado é a segurança. O Daniel Vilela precisará emular um discurso de combate ao crime organizado e ao crime de modo geral, de forma dura como o Caiado fez desde o começo”, disse.

Como afirma Vilela, “segurança é uma conquista que o goiano não abre mão”. “Ou bandido muda de profissão, ou muda de Goiás” é uma frase repetida pelo governador diariamente.

Carvalho diz acreditar que o senador do PL é “mais autêntico” ao falar em segurança pública. A possibilidade de candidatura do “candidato do Bolsonaro” é apontada pelos especialistas como a principal concorrência de Vilela.

Para o cientista político Lehninger Mota, mestre em Ciência Política pela UFG, os eleitores dos dois são distintos. O eleitor de Wilder Morais, por exemplo, tem feito a diferença nas eleições, mas as pesquisas têm dificuldade de captar. “Essa direita não responde. Quando ele ganhou para senador, muitas pesquisas confiáveis não captaram o voto do bolsonarismo”, afirmou.

Já o eleitor de Vilela é aquele atraído por prefeitos, aliados a Caiado quase em sua totalidade, e pela popularidade do governador. Mota ainda aponta Perillo, um adversário declarado de Caiado, como uma dificuldade nesse cenário, já que os votos dele podem eventualmente ir para Wilder Morais.

Além disso, Morais chegou a acordos com nomes estaduais importantes, como o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), o ex-deputado Major Vitor Hugo (PL) e o vice-presidente do PL goiano, Fred Rodrigues. “O Wilder Morais vai ter muito palanque no Estado, e tem muita liderança que fica constrangida de não recebê-lo, justamente porque sabe que um vídeo nas redes bolsonaristas com o Wilder vale muito”, afirmou Carvalho. Ele avalia que deputados do União Brasil, partido de Caiado, estariam nos dois palanques, de Morais e Vilela.

Caiado e Perillo

Caiado e Perillo têm um embate histórico. O atual governador, quando assumiu o Estado, ressaltou o desgosto sobre as dívidas herdadas. Para Lehninger Mota, o tucano ainda precisa superar isso. “A rejeição e o escândalo de corrupção se agravaram quando o Caiado entrou muito agressivo ao tratar isso, falando que o Estado estava quebrado. Mas (Perillo) também tem um legado de muitas obras, o trabalho é mostrar que o copo está meio cheio”, disse.

As críticas e os escândalos de corrupção ficaram no passado para Perillo. “O que fizeram no passado para me derrotar e tentar me desmoralizar ficou para trás, até porque o processo foi, não só arquivado, mas anulado pela Justiça. Então, eu tenho certidão negativa de todos os meus atos”, afirmou. Ele disse estar seguro do legado que construiu e que a experiência em gestão pública vai pesar nesta eleição.

“Meu adversário não é o Caiado”, disse. Mesmo sem enfrentá-lo diretamente, entretanto, está inserido em um jogo político calculado por ele nos últimos anos. Para Carvalho, a base de apoio de Perillo é restrita.

Continuidade de governo

Perguntado sobre a responsabilidade de prometer continuidade a um governo com 88% de aprovação, Vilela respondeu que se sente privilegiado. “As pessoas têm feito quase que um plebiscito entre mudança e continuidade nas eleições do Executivo. […] Claro que é um desafio manter, mas com certeza é muito melhor pegar o Estado nessa condição do que quando o Caiado herdou, em 2019, o Estado falido, devendo folha de pagamento de servidores, fornecedores sem receber e sem dinheiro em caixa”, afirmou. Vilela pode assumir o governo goiano em abril, caso Caiado confirme sua saída para a disputa presidencial.

Contato: barbara.lima@estadao.com

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