Por Vinícius Novais
Carambeí, 15/12/2025 – A Ambev inaugurou nesta segunda-feira, 15, sua nova fábrica de vidros em Carambeí, Paraná. A planta verticaliza toda a produção no Estado, movimento chamado “do grão ao gole”. Em entrevista à Broadcast, o CEO da Ambev, Carlos Lisboa, explica que o fortalecimento da cadeia reduz a dependência logística e melhora a competitividade de custos ao longo de todo o ciclo produtivo. A redução de custos e o payback do projeto, mesmo não revelados, também foram considerados positivos.
O projeto custou R$ 1 bilhão e terá capacidade para produzir aproximadamente 600 milhões de garrafas por ano. A fábrica poderá fabricar garrafas verdes, âmbar e transparentes nos formatos long neck e 600 ml. Contudo, o vice-presidente de Supply da empresa, Valdecir Duarte, explica que a planta focará em garrafas verdes para o segmento premium, dos rótulos Spaten e Stella Artois. Quando foi anunciado, o projeto previa investimento de R$ 870 milhões, mas Duarte explica que a diferença de deu pela variação do dólar, mas na divisa americana o investimento seguiu o previsto.
A vice-presidente de Impacto de Relações Corporativas, Carla Crippa, afirma que o segmento é o que mais cresce, ao lado das versões zero álcool e sem glúten. Assim, a unidade inaugurada foca nos produtos que apresentam maior expansão. Esse direcionamento é a principal estratégia da companhia para reduzir os impactos climáticos no consumo. “Não controlamos o clima, então focamos no que podemos melhorar”, explica.
Lisboa diz que essa nova capacidade permitirá atender Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará e Pernambuco. Com isso, a Ambev busca garantir mais estabilidade, eficiência e previsibilidade para a operação. Nessa linha, Crippa destaca a importância do aplicativo Zé Delivery para entender os hábitos de consumo e prever tendências.
“Em síntese, é um incremento significativo, que fortalece nossa estratégia de longo prazo, melhora nossa flexibilidade industrial e nos posiciona para acompanhar a evolução do consumo com mais velocidade e segurança”, resume Lisboa.
A fábrica de vidros da Ambev no Rio de Janeiro, que possui dois fornos, seguirá produzindo vasilhames âmbar e transparentes, chamados flint. Essa planta mais antiga pode entregar 1,2 bilhão de garrafas anualmente. Dessa maneira, destaca Duarte, a empresa não precisará, pelo menos neste momento, paralisar as atividades para alterar a cor das garrafas, processo que pode suspender a produção por até sete dias e levar até 30 para atingir a tonalidade ideal. Mesmo com a inauguração, a Ambev não suspendeu seus contratos com as fornecedoras de vidro Verallia e O-I Glass, cujos produtos são destinados a fábricas de cerveja no Nordeste, onde estão os fornecedores.
A nova fábrica é a primeira a iniciar operações com 100% de energia renovável. Lisboa afirma que a medida reduz de forma estrutural o consumo de energia da operação, tendo sido projetada para economizar 25 milhões de kWh por ano. “Essa eficiência traz ganhos operacionais no médio e longo prazo, ao diminuir a exposição à volatilidade de custos energéticos e aumentar a previsibilidade da operação.”
A unidade também será importante para a reciclagem do vidro na linha de produção. A planta pode operar com até 80% de material reciclado, outra fonte de redução de custos. Antes, os cacos gerados no Paraná precisavam ser enviados a outros Estados para reciclagem, o que elevava o custo da matéria-prima para reúso.
Parceria com o poder público
A decisão da Ambev de erguer sua planta em Carambeí, além de razões logísticas, resultou de incentivos fiscais aprovados pela Câmara Municipal e do empenho do município para agilizar processos e licenças, explicou a prefeita Elisangela Pedroso (PL).
A cidade também qualificou mão de obra, custeando cursos profissionalizantes e técnicos, cujos alunos foram direcionados à fábrica. Houve disputa com Ponta Grossa pela instalação da unidade, como relatou a prefeita, mas, segundo executivos da Ambev, Carambeí mostrou-se mais interessada.
Além disso, o governo do Estado garantiu a instalação do fornecimento de gás natural, combustível dos fornos, que não podem ser desligados. No caso do equipamento da nova fábrica, a reciclagem poderá economizar 10% do combustível.
Contato: vinicius.novais@estadao.com
*O repórter viajou a convite da Ambev
