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Com Eletronuclear, J&F se torna sexta maior geradora de energia do país

16 de outubro de 2025

Por Luciana Collet

São Paulo, 16/10/2025 – A compra de 68% do capital total da Eletronuclear pela Âmbar Energia, empresa do grupo J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, anunciada nesta quarta-feira, 15, representa ao mesmo tempo uma ampliação relevante de seu portfólio, com diversificação de fonte, e um aumento da presença da companhia no setor elétrico brasileiro, passando a deter ativos elétricos considerados estratégicos no sistema nacional.

Ao adquirir participação na empresa que opera as usinas Angra 1, de 640 megawatts (MW) de potência instalada, e Angra 2, com 1.350 MW, além do projeto de Angra 3, de 1.405 MW, a empresa passa a somar 50 usinas, considerando também negócios em fase de fechamento, somando 6,5 gigawatts (GW) de capacidade instalada. Esse montante coloca a empresa como a sexta maior geradora brasileira, atrás de Eletrobras, Engie, Auren, China Three Gorges (CTG) e Copel, superando Enel e Eneva, que atualmente figuram à frente em rankings que circulam no mercado.

À Broadcast, o presidente da Âmbar Energia, Marcelo Zanatta, disse que a compra da participação na Eletronuclear coloca a companhia em posição de destaque também por sua participação no setor nuclear. “Seremos o único player privado com posição no setor nuclear, uma fonte que ganha força em todo o mundo por equilibrar a necessidade do setor de tecnologia por energia firme com a redução das emissões de gases do efeito estufa”, disse.

Atualmente, a empresa já tem usinas nas fontes solar, hidrelétrica, a biodiesel, a biomassa, a biogás, a gás natural e carvão. Parte desses ativos, notadamente termelétricas a gás e carvão, foram adquiridos justamente de empresas que faziam o movimento de venda de usinas movida a combustíveis fósseis.

Segundo Zanatta, a Âmbar percebeu esse movimento em 2021, quando comprou a usina termelétrica de Uruguaiana, do grupo argentino Saesa. “Naquele momento, percebemos que estávamos no início de uma onda de desinvestimentos e de consolidação no segmento de geração e nos preparamos financeira e operacionalmente para aproveitá-la”, disse.

Segundo ele, a companhia segue enxergando oportunidades de aquisições “para ampliar e diversificar nosso portfólio de geração”. Além da Eletronuclear, anunciada hoje, a empresa aguarda as autorizações necessárias para comprar quatro termelétricas a óleo combustível operadas pela Oliveira Energia em Roraima, em transação anunciada no início do mês.

Entre os ativos hoje já operados pela Âmbar estão termelétricas anteriormente detidas pela Eletrobras, como a usina a carvão Candiota, em 2024, um conjunto de usinas no Amazonas, em operação concluída em maio passado, e a termelétrica Santa Cruz, concluída na semana passada. Comprou também a usina a gás natural Araucária, da Copel.

Pragmático, Zanatta já disse à reportagem que entende a importância das diferentes fontes para o sistema, e minimiza críticas a combustíveis poluentes, ao mesmo tempo em que busca potenciais alternativas para reduzir emissões, como recente acordo com a empresa chinesa JNG, especializada em soluções industriais verdes, para a realização de estudos de viabilidade na termelétrica de Candiota (RS) para a adoção de um processo que remove o enxofre e compostos de enxofre de combustíveis.

O apetite por termelétricas também vem num momento em que especialistas no setor elétrico têm alertado para a necessidade de contratação de usinas que possam atender comandos de acionamento rápido, como termelétricas, especialmente para fazer frente à demanda de energia no fim do dia, quando as usinas solares param de gerar energia e o consumo de eletricidade segue em patamar elevado. De fato, o governo prepara a realização de leilão, no início de 2026, para a contratação de “potência” proveniente de termelétricas existentes ou novas, o que pode favorecer a Âmbar.

Polêmica

As aquisições da Âmbar vão além da polêmica compra de ativos poluentes num cenário de descarbonização. Envolve também movimentos que são beneficiados por posteriores ajustes regulatórios. A compra das térmicas no Amazonas, por exemplo, foi realizada três dias antes da publicação de uma Medida Provisória que transformou a energia gerada por aquelas usinas em energia de reserva, dando uma garantia de recebimento a essas empreendimentos, que vinham sofrendo com inadimplência da distribuidora local, a Amazonas Energia.

Essa operação também acabou viabilizando a compra da própria Amazonas, que corria o risco de sofrer caducidade da concessão e não atraia interesse de potenciais novos investidores. A conclusão da operação, no entanto, ainda não ocorreu porque teve de envolver um acordo ainda pendente de homologação judicial.

Neste sentido, observadores questionam os desdobramentos que a entrada da Âmbar no capital da Eletronuclear pode ter para outro ativo considerado pouco interessante atualmente: a usina de Angra 3, obra inacabada que se arrasta desde a década de 1980.

Embora esteja comprando 68% do capital total, a empresa do grupo J&F terá apenas 35,3% do capital votante na empresa nuclear.

Estudo técnico sobre viabilidade da usina apresentado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no ano passado calculou uma necessidade de investimento adicional de R$ 23 bilhões para concluir a obra, e de R$ 21 bilhões para desmobilização. A previsão era de que 90% do custo da retomada seria proveniente de recursos de terceiros e apenas 10% arcado com capital próprio da Eletronuclear. O cálculo da tarifa necessária para cobrir o investimento é de R$ 653,31 por megawatt-hora (MWh).

No entanto, o governo federal até agora não tomou uma decisão sobre a retomada ou desmobilização do projeto. Reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) realizada no início do mês determinou a atualização desse estudo antes de uma decisão.

“No cenário do estudo anterior, muitos olhavam a tarifa e diziam que ela não remunerava capital, agora precisa ver se o BNDES vai manter as mesmas premissas, vai mudar condições, qual será o modelo do financiamento”, comentou uma pessoa que acompanha as discussões.

A despeito do comando de atualização dos estudos, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que a decisão final deverá ser tomada ainda em 2025. Ele tem posição favorável ao retorno das obras.

Contato: luciana.collet@estadao.com

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