Por Altamiro Silva Junior e Beth Moreira
São Paulo, 30/12/2025 – A Casas Bahia concluiu o processo de reestruturação da sua estrutura de capital, em renegociações e movimentos com credores que vinha fazendo desde 2023 e que vai reduzir o endividamento da varejista em R$ 3 bilhões, melhorando o balanço. O grupo também vai economizar R$ 4,7 bilhões em despesas financeiras entre 2026 e 2030.
O mercado gostou do anúncio e as ações da varejista chegaram a subir 3% pela manhã. Na tarde de hoje, avançavam 1%, em dia de fraca liquidez da B3.
Na reestruturação, haverá diluição importante para os acionistas atuais. Os detentores de títulos de dívida (debêntures) da companhia vão se transformar nos maiores acionistas da empresa, caso façam a conversão de 100% dos papéis. Na nova estrutura acionária, os atuais acionistas podem passar a deter 44,3% das ações, enquanto os debenturistas das séries conversíveis ficarão com 55,7%.
“O anúncio remove o fantasma do default (calote) imediato. É o ponto final no capítulo de risco de insolvência da Casas Bahia”, comenta o analista da Fatorial Investimentos, Fabio Lemos. O próximo passo crucial, ressalta ele, é a varejista provar que a operação consegue agora dar lucro. E na sua visão vai ganhar mais peso a ‘análise de balcão’, ou seja, as lojas precisam vender com margem em um cenário de consumo ainda pressionado por conta dos juros elevados da economia.
A Casas Bahia ressalta em uma apresentação a investidores divulgada junta com o anúncio da conclusão que, além da redução do endividamento e a diminuição das despesas financeiras, haverá uma melhora no perfil de risco de crédito da rede de varejo, ou seja, a redução do risco financeiro. Passo que é essencial para conseguir melhores condições com fornecedores, seguradoras e futuros credores. Entre os benefícios, a companhia pode captar no mercado a taxas mais baixas.
Para uma fonte, a companhia estava muito focada no processo de reestruturação, o que consumia toda energia da administração, que agora, com essa página virada, tem espaço maior para se focar no operacional. E a operação traz alívio importante no endividamento em tempos de juros a 15% e consumo ainda crescendo pouco no Brasil, comenta este interlocutor.
Histórico
No terceiro trimestre de 2023, quando a reestruturação financeira começou, a Casas Bahia tinha um endividamento bruto de R$ 7,5 bilhões. E após as renegociações, o valor que era de R$ 4,5 bilhões ao final do terceiro trimestre, seria de R$ 2,15 bilhões com o reperfilamento das debêntures, de acordo com a apresentação.
Nesta terça-feira, 30, a empresa anunciou o último passo do processo, que foi a conclusão da emissão de uma nova debênture, sua 11ª, de R$ 2,4 bilhões. Os compradores desses papéis em sua maioria – 90,5% – eram investidores da 10ª emissão, que aceitaram trocar papéis por outros de prazo mais longo, com vencimento prorrogado para 2050, e mudança na remuneração dos papéis, que será de 100% do CDI, além da exclusão de eventos de resgate antecipado e garantias reais.
Para conseguir espaço para emitir novas ações no processo de conversão da dívida, a varejista conseguiu aprovar em assembleia no último dia 17 a elevação de seu capital de R$ 9 bilhões para até R$ 13,25 bilhões.
A Casas Bahia fechou o terceiro trimestre com uma alavancagem de 1,9 vez a dívida líquida em relação ao Ebitda (lucro antes dos impostos e amortizações). Esse número já deve ser reduzir para a casa de 1,7 vez com a venda da fatia que a empresa tinha na FIC, financeira com o Itaú, e no Banco Investcred, pela qual vai receber R$ 266 milhões. Com o reperfilamento das debêntures, essa indicador ficaria em 0,9 no terceiro trimestre.
No meio do ano, o grupo já havia feito uma operação em que a gestora Mapa Capital comprou R$ 1,5 bilhão em debêntures do Bradesco e Banco do Brasil, os maiores bancos credores da Casas Bahia, se tornando o maior acionista da companhia.
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