25 de setembro de 2025
Evento em São Paulo destaca a força do setor e apresenta projetos bilionários em infraestrutura, conectividade aérea e destinos emergentes.
Responsável por 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e capaz de movimentar cadeias que vão da hotelaria ao agronegócio, o turismo brasileiro vive um momento decisivo para transformar potencial em desenvolvimento sustentável. Esse foi o tom do Fórum Turismo e Investimentos | Brasil 360°, realizado na terça-feira, dia 16, em São Paulo, que reuniu lideranças públicas, privadas e organismos internacionais para discutir novas fontes de financiamento, marcos regulatórios e estratégias de expansão do setor.
Promovido pela RTSC – holding de investimentos com atuação nos setores financeiro, imobiliário e turístico – e pela Qore Investimentos, em parceria com O Estado de S. Paulo e a ONU Turismo, o encontro reforçou o papel do turismo como motor de crescimento econômico e integração regional. “Mais do que um encontro setorial, o fórum é uma plataforma para fortalecer parcerias e abrir caminhos de investimento em todo o país. Um passo importante para aproximar investidores e gestores públicos, criando um ambiente fértil para novos negócios”, afirmou Marcos Jorge, CEO da RTSC.
Entre os participantes, Eduardo Malheiros, CEO do Grupo Wish, destacou o bom momento do mercado: “Estamos vivendo um ano muito forte. O Grupo Wish, focado em turismo de lazer, tem quatro resorts no Brasil e todos registram desempenho excepcional.” Ele atribuiu parte desse resultado ao aumento do turismo estrangeiro. “Em fevereiro, nosso hotel em Porto de Galinhas teve 50% da ocupação feita por argentinos. Esse movimento eleva a taxa de ocupação e a diária média, beneficiando toda a cadeia do turismo.”
Para Lucas Fiuza, CEO da WAM Experience, o Brasil vive um período de maior organização institucional, com o setor público mais estruturado e o privado avançando em profissionalização. “A união entre esses dois pilares é determinante para o turismo. É o conceito de turismo 360, em que o desenvolvimento depende de público e privado atuando juntos.” Segundo ele, este é o momento de “reconhecer o valor do turismo e mostrar conquistas reais em escala, explorando um potencial que ficou adormecido por tanto tempo”.
Apesar dos avanços, Fiuza lembra que ainda há desafios, como conectividade aérea limitada, alto custo das passagens, burocracia regulatória e dificuldade de acesso a crédito em grande escala. “O poder público tem se aproximado do setor privado para entender essas demandas, e esse diálogo já começa a render resultados concretos”, afirma.
Para o executivo, o impacto positivo do setor vai muito além dos números. “O turismo pulveriza o acesso econômico em todas as camadas, vai do vendedor de coco ao dono da empresa aérea. É muito gratificante ver a transformação social e econômica que acontece onde o turismo impacta.”
Investimento internacional reforça atratividade brasileira
Abrindo a programação, o secretário-geral da ONU Turismo, Zurab Pololikashvili, apresentou mecanismos de crédito do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) para viabilizar empreendimentos turísticos de grande porte. Homenageado no evento, ele destacou que “entre 2019 e 2024, foram anunciados 140 projetos turísticos na América Latina e no Caribe, dos quais 22 estão concentrados no Brasil, representando um investimento de 560 milhões de dólares e cerca de 4 mil empregos diretos”.
A ONU Turismo também divulgou dados que reforçam a atratividade do País: entre 2015 e outubro de 2024, o Brasil se consolidou como o terceiro país da América Latina e do Caribe em investimento estrangeiro direto em projetos greenfield – aqueles iniciados do zero, sem desenvolvimento prévio. Nesse período, foram 50 projetos, que somaram US$ 1,49 bilhão em investimentos. Durante o fórum, a agência e o CAF lançaram um Guia de Investimentos para apresentar oportunidades concretas e facilitar a captação de recursos internacionais.
Segundo Zurab, o Brasil se posiciona como um destino-chave para investimentos em um contexto em que a sustentabilidade e a inovação são fundamentais. “Sua biodiversidade, um marco legal sólido e seu compromisso com o desenvolvimento sustentável tornam o país atraente para investidores que buscam impacto positivo e crescimento de longo prazo.”
Apesar dos indicadores positivos, o dirigente alertou que a competitividade depende de previsibilidade e comunicação eficaz com investidores. “O turismo é também um negócio. Negócio exige rankings, clareza e capacidade de atrair investidores. O Brasil já aparece cada vez mais bem posicionado, mas é preciso reforçar a percepção de que investir aqui é seguro e vantajoso.”
Como parte dessa estratégia de fortalecimento regional, Daniel Nepomuceno, assessor especial da ONU Turismo, destacou a inauguração do novo escritório regional da entidade no Rio de Janeiro, aberta em março de 2025. A unidade é apenas a segunda do mundo – além da sede global em Madri, na Espanha, existe apenas um outro escritório regional, localizado na Arábia Saudita. O novo espaço tem como objetivo impulsionar o setor turístico nas Américas e no Caribe, ampliando a atração de investimentos e fomentando o desenvolvimento sustentável do setor.
Cabotagem e infraestrutura ampliam potencial do setor
O debate sobre conectividade aérea deu sequência ao fórum, com foco no Projeto de Lei nº 4.392/2023, que autoriza companhias aéreas estrangeiras a operar voos domésticos (cabotagem) em rotas da Amazônia Legal. Especialistas e autoridades defenderam ampliar a permissão para todo o Norte e Nordeste, permitindo que empresas que já realizam voos internacionais nessas regiões possam transportar passageiros entre cidades brasileiras antes de retornar ao país de origem.
Entre as metas apresentadas estão a redução do preço médio das passagens, a ampliação da oferta de rotas regionais e a melhora da conectividade de comunidades isoladas, garantindo acesso a serviços essenciais e estimulando a concorrência no setor.
Aeroporto sustentável e hub latino-americano
Um aeroporto sustentável e inovador, com processos automatizados e capacidade para se tornar um hub de conexões para toda a América Latina, foi um dos projetos que chamaram a atenção durante o encontro.
Oscar Rueda García, diretor de Turismo Sustentável do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), destacou que a conectividade é um dos principais desafios para o turismo regional. “Não porque não estamos conectados, mas porque precisamos de conexões mais econômicas”, afirmou ao público. Em empreendimentos desse porte, a ONU Turismo atua como parceira técnica. “Queremos apoiar um aeroporto que seja sustentável e inovador, não apenas um espaço para voos. Parte será automatizada por robôs. É algo novo para o mundo, não apenas para o Brasil”, explicou o secretário-geral Zurab Pololikashvili.
A localização do novo terminal internacional ainda não está confirmada, mas o governador da Paraíba, João Azevedo, já manifestou o interesse do Estado. Ele esteve no fórum para apresentar o Polo Turístico Cabo Branco, complexo que reúne parques temáticos, roda-gigante e hotéis de grandes redes. “Como há a discussão de se ter na Região (Nordeste) um grande aeroporto internacional voltado para o turismo, a Paraíba vai concorrer a essa escolha, até pelas suas condições fiscais e econômicas”, afirmou.
Parcerias público-privadas ganham força
Na sequência, o debate se concentrou nas parcerias público-privadas (PPPs) como alternativa para destravar grandes obras de infraestrutura turística. Executivos e autoridades defenderam a importância de estabilidade regulatória e segurança jurídica para atrair investidores e garantir a execução de projetos de longo prazo.
Como exemplo desse potencial, Ronaldo Beber, CEO da Gramado Parks, destacou a necessidade de um novo aeroporto para impulsionar o turismo na região: “Podemos atrair investimento e construir um hub logístico para todo o continente. Um novo aeroporto trará indústria, logística e turismo – é uma chance enorme que temos pela frente.” Ele também reforçou a importância de previsibilidade. “Não podemos ser surpreendidos com novas taxas ou mudanças de normas no meio do caminho. Estabilidade e clareza são fundamentais para atrair recursos e fazer os projetos funcionarem.”
Eduardo Malheiros completou lembrando que, mesmo com juros elevados, o turismo interno mantém fôlego. “Vemos um mercado resiliente. As pessoas estão empregadas, com renda e continuam viajando. No pós-pandemia, viajar parece estar no topo da lista de prioridades.” Segundo ele, fatores econômicos também favorecem os destinos nacionais. “O dólar mais caro e a inflação nos Estados Unidos incentivam o brasileiro a conhecer melhor o próprio país.”
Perspectivas para uma liderança global
Para o assessor especial da ONU Turismo, Daniel Nepomuceno, o encontro em São Paulo cumpriu seu papel de aproximar políticas públicas regionais, empresas e fontes de crédito. “O principal objetivo da ONU Turismo foi alcançado”, resumiu.
Ele destacou a presença dos diretores da CAF, Oscar Rueda e Antônio Silveira, que puderam conhecer de perto todos os projetos apresentados no guia de investimentos. “As conversas com os CEOs da RTSC, do Grupo Wish e da WAM também trouxeram avanços, com a formatação de um projeto conjunto de parques e hotéis que já começa a ser desenhado e tem potencial para ser replicado em outros países. Vale ressaltar ainda a manifestação do governador da Paraíba, João Azevedo, que colocou o estado como candidato a sediar o novo aeroporto internacional, um empreendimento de grande impacto para o turismo brasileiro”.
Outro desdobramento em pauta é a estruturação de parcerias público-privadas (PPPs) para parques públicos, que serão oferecidas a municípios e estados como modelo de desenvolvimento sustentável.
“Com iniciativas como estas, o Brasil reafirma sua capacidade de liderar a agenda de inovação e sustentabilidade no turismo, consolidando-se como referência para toda a América Latina e além”, concluiu Nepomuceno.
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