Por Agência Unico
30 de julho de 2025
Área de recursos humanos assumem o protagonismo estratégico das ações ligadas ao uso da inteligência artificial nas companhias
Se antes era natural imaginar a inteligência artificial (IA) sob o guarda-chuva da área de tecnologia, agora o cenário começa a se inverter. Em companhias que apostam em uma transformação centrada nas pessoas, é a área de recursos humanos (RH) que assume o protagonismo das ações. Essa abordagem integra as necessidades reais das pessoas e das companhias com os avanços tecnológicos, o que garante resultados mais rápidos, mais significativos e éticos.
A mudança estratégica na gestão, aliás, parte exatamente de empresas que atuam com inovação. Entre os exemplos podemos citar a Unico, rede de verificação de identidade. Desde maio, a área de People da empresa lidera a estratégia de agentes de IA, soluções autônomas que executam tarefas com base em instruções e contexto.
“A decisão foi menos sobre uma estrutura e mais sobre um posicionamento”, afirma Rafaela Provensi, diretora sênior de Operações & People da Unico. Para ela, transferir a responsabilidade da IA para o time que cuida da gestão de pessoas é uma forma clara de declarar como essa transformação deve ser conduzida: com escuta ativa, segurança psicológica e intenção.
Segundo o relatório Work Trend Index 2025, divulgado pela Microsoft, 82% dos líderes planejam expandir a força de trabalho com agentes de IA nos próximos 12 a 18 meses.
Esta tendência já se faz presente na Unico. “Estamos construindo uma nova lógica de trabalho: cada colaborador pode criar e contar com assistentes inteligentes para chamar de seu. Esses agentes são altamente tecnológicos que organizam informações, antecipam necessidades, apoiam decisões e liberam tempo para o que mais importa: pensar estrategicamente, criar, inovar, se relacionar”, explica Rafaela.
Na prática, isso significa entender a IA não como uma ameaça, mas como um reforço que devolve às pessoas o que é mais humano: empatia, criatividade e pensamento crítico. “Ao contrário do senso comum, a IA não rouba espaço, ela devolve tempo”, resume.
Essa combinação entre automação e protagonismo humano também está no centro da estratégia de formação da empresa. Na plataforma de educação Unico Skill, por exemplo, os profissionais têm à disposição diversos cursos voltados para IA, o que ajuda no desenvolvimento das habilidades necessárias para atuar em um ambiente de trabalho em constante reinvenção.
A iniciativa é uma resposta direta a outro dado relevante do relatório da Microsoft: embora 67% dos líderes digam estar familiarizados com agentes de IA, apenas 40% dos colaboradores afirmam o mesmo. “Colocar a IA sob a liderança de quem entende de gente não é apenas uma tendência, é um caminho necessário para que essa mudança seja, de fato, transformadora”, afirma Rafaela.
RH como agente de inclusão
Especialista em IA, inovação e tecnologia em recursos humanos, Marcelo Nobrega acredita no potencial dessa abordagem humanizada na gestão das novas tecnologias. “O RH é o departamento com quem todos os colaboradores interagem praticamente todos os dias. Além disso, são os experts em comportamento humano, aprendizagem e gestão da mudança – que são fatores fundamentais para o sucesso de qualquer iniciativa de transformação”.
Mais do que ganho de produtividade, ele destaca o papel do RH como agente de inclusão e fluência digital. Por isso, deixar a gestão da IA restrita à área técnica não seria o melhor caminho. “IA não é uma ferramenta de TI”, reforça. Ao contrário do passado, quando o acesso a novas tecnologias dependia de licenças caras e cursos avançados, Nobrega lembra que a inteligência artificial é mais acessível e conversacional. “O verdadeiro ganho está justamente em dar acesso a todo mundo”.
Na prática, esse protagonismo do departamento de recursos humanos se traduz em resultados reais: maior produtividade, mais visibilidade sobre as necessidades dos colaboradores e impacto direto na cultura corporativa. “O RH toma conhecimento de problemas, dúvidas, situações que eram ignoradas. E passa a tratá-las, melhorando significativamente a experiência do colaborador”, exemplifica Nobrega, citando o uso de chatbots no Help Desk.
Outra aplicação é o mapeamento das redes de colaboração internas, que revela silos e gargalos e permite à liderança agir com mais precisão. “Estamos falando de ferramentas que fortalecem a conexão entre as pessoas, o pertencimento e a produtividade”, destaca o especialista.
Outras experiências
Assim como acontece com a Unico, a inteligência artificial também está no centro dos processos e da cultura do iFood. Com mais de 170 modelos proprietários em operação, muitos voltados exclusivamente para uso interno, a empresa aposta em uma IA integrada ao dia a dia dos colaboradores.
“O papel da área de Pessoas é essencial nesse processo, uma vez que acreditamos que colocar o time de RH como um dos protagonistas nessa estratégia transforma o uso da IA em algo mais humano, eficiente e estratégico”, afirma Raphael Bozza, vice-presidente de Recursos Humanos do iFood.
A empresa incentiva o uso da IA desde o onboarding até o desenvolvimento de carreira, com ações de treinamento, engajamento, comunicação interna e programas de incentivo. “Por meio do nosso Programa de Desenvolvimento Individual, incentivamos, inclusive financeiramente, que todos compreendam, utilizem e apliquem ferramentas e conceitos de inteligência artificial para otimizar processos, resolver problemas complexos, personalizar cuidados, extrair insights de dados e inovar”, explica Bozza. Para o executivo, a IA deve ser vista “menos como uma automação e mais como um elemento para ampliar as capacidades humanas”, avalia Bozza.
CHRO da Alice, empresa do setor de planos de saúde, Sarita Vollnhofer acredita que o papel do departamento de recursos humanos é menos sobre liderar sozinho e mais sobre fomentar uma cultura de experimentação e aprendizado. “O RH é responsável por criar, junto aos líderes e gestores, um ambiente seguro para a experimentação, onde as pessoas se sintam autorizadas a testar novas ferramentas, errar e aprender”, defende Sarita.
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Nobrega cita um passo a passo para quem deseja dar protagonismo ao RH na gestão da inovação no ambiente corporativo. “O primeiro passo é definir uma estratégia identificando como a IA criará valor para a organização”.
Dessa forma, comece pequeno, mas com um desafio do negócio, da área que gera receita para a organização. “O passo seguinte é dar os recursos necessários para que um grupo de desbravadores explore as oportunidades. Recursos são treinamento, equipamento, licenças de softwares, gente, tempo e dinheiro”.
Segundo o especialista, os experimentos devem ser acompanhados com métricas diferentes daquelas que medem os projetos do “business as usual”. Caso contrário, correm o risco de serem abandonados precocemente. Por último, Nóbrega reforça a necessidade de desenvolver e implementar um processo de gestão da mudança bem-feito, que engaje todos, “pois o novo assusta”.
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