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Brasil encara momento decisivo no mercado global de lítio

Durante painel no Lithium Business, Marcos André Gonçalves, presidente do Conselho Superior da ADIMB, defendeu que o país tem potencial para se tornar referência mundial na transição energética

14 de julho de 2025

Durante painel no Lithium Business, Marcos André Gonçalves, presidente do Conselho Superior da ADIMB, defendeu que o país tem potencial para se tornar referência mundial na transição energética – mas precisa vencer gargalos regulatórios, logísticos e de infraestrutura.

País ainda enfrenta desafios estruturais, logísticos e regulatórios que limitam seu potencial diante da crescente demanda por baterias elétricas, aponta Marcos André.

O Brasil está em um momento decisivo para consolidar seu papel na cadeia global de produção de lítio. Essa é a avaliação de Marcos André Gonçalves, presidente do Conselho Superior da Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro (ADIMB), durante painel no Lithium Business, onde apresentou o cenário e desafios na pesquisa mineral de lítio no país. 

Marcos André avalia que o lítio passa por um momento quase que anticíclico atravessando um ciclo de baixa de preços e excesso de oferta. “Mas o vetor de para onde vamos, todo mundo sabe, o lítio, independente de novas tecnologias e de novas aplicações vai ter o seu papel, vai continuar sendo algo fundamental na eletromobilidade e etapas de baterias estacionárias e outras aplicações.”

Embora ocupe atualmente o sexto lugar no ranking mundial de produção, com cerca de 4,2% do total, o país ainda enfrenta desafios estruturais, logísticos e regulatórios que limitam seu potencial diante da crescente demanda por baterias elétricas, aponta Marcos André.

Segundo dados recentes da Agência Internacional de Energia (IEA), o consumo global de lítio deve atingir 220 milhões de toneladas em 2024, um salto de 29% em relação ao ano anterior. A produção, no entanto, permanece concentrada em países como Austrália, Chile e China, que juntos respondem por 74% do mercado. O Brasil, apesar do avanço na exploração, detém apenas 1,3% das reservas globais conhecidas.

Decretos e avanços regulatórios

 Marcos André citou que um dos marcos recentes para o seguimento foi o Decreto nº 11.120/2022, que liberou o comércio exterior de lítio sem necessidade de autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). “A medida deu fôlego ao setor, atraindo novos investimentos e fortalecendo o posicionamento do Brasil na cadeia de fornecimento de minerais críticos.”

Outros avanços incluem o reconhecimento do lítio como mineral estratégico (Resolução SGM nº 2/2021) e a aprovação da Lei da Economia Circular, que impõe metas de reciclagem para baterias de lítio e estimula o desenvolvimento da cadeia de reaproveitamento no país. Ainda tramita no Congresso o PL nº 2809/2023, que propõe um sistema de certificação voluntária de “lítio verde”, com foco em práticas sustentáveis e rastreabilidade.

Exploração em expansão no Vale do Jequitinhonha

Marcos André trouxe dados que mostram a grande concentração de espodumênio, na região do Vale do Jequitinhonha, que desponta como o principal polo brasileiro de exploração. O número de pedidos de pesquisa mineral saltou de 45 em 2021 para 851 em 2023, impulsionado pelo interesse de investidores estrangeiros e pelas mudanças no marco regulatório.

O avanço se reflete também na presença de empresas no mercado. Segundo levantamento apresentado, 18 companhias com atuação em lítio estão listadas em bolsas de valores, embora a maioria ainda tenha capitalização de mercado reduzida. Apenas Sigma Lithium, Pilbara Minerals e Atlas Lithium possuem ações acima de US$ 1 e market cap superior a US$ 65 milhões.

O Brasil está bem posicionado, mas precisa acelerar sua estruturação para não perder a janela histórica da transição energética

Desafios de infraestrutura e mercado interno

Apesar do crescimento, o setor ainda lida com entraves significativos, destacou o executivo da ADIMB. “A infraestrutura precária nas regiões de exploração, como o norte de Minas, dificulta a logística de produção e exportação. Além disso, a burocracia ambiental e social prolonga a tramitação de licenças, gerando insegurança jurídica e conflitos com comunidades locais.”

Outro gargalo apontado por Marcos André é o mercado interno limitado. “A maior parte do lítio brasileiro é exportada, principalmente para China e Europa, o que torna o setor vulnerável a variações de demanda e preço no mercado internacional. Em paralelo, novas tecnologias de armazenamento, como baterias de sódio e hidrogênio, levantam dúvidas sobre a dependência de longo prazo do lítio”, avalia.

Oportunidades e horizonte promissor

Apesar dos desafios, as perspectivas continuam promissoras. Entre 2021 e 2022, o mercado nacional de lítio cresceu 436%, tornando-se a terceira maior fonte de receita para o estado de Minas Gerais. O alto teor de espodumênio encontrado no Brasil – superior ao de muitos concorrentes – também reforça a atratividade do país para a indústria de veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia, pondera Marcos André.

Ele Acredita que com uma demanda global prevista para ultrapassar 2 milhões de toneladas de lítio até 2050, o Brasil pode emergir como ator estratégico na transição energética, desde que avance na construção de uma cadeia de valor robusta, com agregação de tecnologia, infraestrutura e sustentabilidade.

“O Brasil está bem posicionado, mas precisa acelerar sua estruturação para não perder a janela histórica da transição energética”, resume um executivo.

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