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Tarcísio chega a 2026 entre a reeleição e a espera por Flávio Bolsonaro

31 de dezembro de 2025

Por Bianca Gomes e Pedro Augusto Figueiredo, do Estadão

São Paulo, 31/12/2025 – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), chega ao ano eleitoral de 2026 com o seu futuro político em aberto. Em público, repete que disputará a reeleição no Estado, onde as pesquisas indicam um caminho confortável para a vitória. Nos bastidores, porém, dirigentes do Centrão e interlocutores da Faria Lima ainda alimentam a expectativa de que Tarcísio se lance na disputa presidencial na tentativa de evitar um quarto mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O possível voo presidencial do governador passou por idas e vindas ao longo de 2025. Até o anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Palácio do Planalto, o projeto nacional de Tarcísio era visto por aliados como um caminho inevitável, impulsionado mais por uma pressão externa do que pela própria vontade pessoal de Tarcísio. A entrada de Flávio na disputa, porém, mudou os termos da articulação e tornou menos favorável o cenário para uma candidatura presidencial do governador.

Aliados do governador dizem de forma enfática que ele não entraria em uma disputa com Flávio, que, por sua vez, afirma não ter intenção de recuar. Um integrante da gestão Tarcísio acrescenta, reservadamente, que nem mesmo a eventual saída de Flávio seria garantia de que o governador entraria na disputa. Segundo ele, uma candidatura presidencial estaria condicionada a “uma série de fatores difíceis de acontecer”, como a união de todos os partidos da centro-direita em torno de seu nome e a chance real de derrotar Lula, já que Tarcísio não trocaria o “certo pelo muito incerto”.

Dirigentes partidários e aliados do governador avaliam que Flávio pode abrir mão da pré-candidatura se não conseguir se viabilizar eleitoralmente, mas reconhecem que ele saiu fortalecido nas primeiras semanas após anunciar que havia sido escolhido por Bolsonaro como seu sucessor nas urnas.

O resultado da pesquisa Genial/Quaest contribuiu para essa percepção. De acordo com o instituto, Flávio lidera entre os presidenciáveis de direita e fica atrás somente de Lula nos cenários de primeiro turno. No segundo, o senador perde para o petista por 10 pontos porcentuais, mesma diferença de Tarcísio e do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD). Além do desempenho de Flávio, outro dado negativo para Tarcísio é que Ratinho vai melhor em uma disputa contra o senador e Lula e no primeiro turno do que o governador paulista.

Um integrante do Palácio dos Bandeirantes ouvido reservadamente avalia que a pré-candidatura de Flávio, lançada em um momento pouco usual da política, o fim do ano, foi estratégica: tirou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o governador do centro do debate, manteve Jair Bolsonaro (PL) em evidência, mesmo preso, e fortaleceu o próprio senador.

Para esse aliado de Tarcísio, Flávio “saiu maior do que entrou” e pode usar esse capital político para consolidar sua candidatura ao Senado pelo Rio – ou, eventualmente, até ao governo do Estado. Se, mais adiante, optar por abrir mão da disputa presidencial em favor de uma união da centro-direita, Flávio sairá ainda mais fortalecido.

Outra pessoa próxima ao governador entende que a pré-candidatura de Flávio também pode servir como instrumento de pressão sobre Tarcísio, seja para que ele aceite um vice com o sobrenome Bolsonaro em uma eventual chapa presidencial, seja para que se filie ao PL, o que o governador resiste. Nenhum dos aliados de Tarcísio descarta, porém, que Flávio Bolsonaro leve a candidatura até o fim, mesmo sem viabilidade, como forma de manter a direita sob a liderança da família e se firmar como sucessor do pai.

Hoje, o que mais pesa contra Flávio é o fato da sua rejeição ser maior do que a de Lula, o que pode estabelecer um “teto” de crescimento à sua candidatura. O principal desafio dele é se apresentar como alguém mais moderado do que o pai e os irmãos para ganhar terreno na centro-direita. A estratégia foi resumida pelo presidente do PP, Ciro Nogueira, que em entrevista à CNN Brasil declarou que “Flávio é o Bolsonaro que se vacinou”.

Tarcísio, que voltou a declarar apoio ao filho de Bolsonaro durante um evento no Palácio dos Bandeirantes no dia 18, discursou na mesma direção. “Flávio está procurando mostrar que é um cara aberto ao diálogo e que vai conversar com governadores de oposição, de situação, Congresso, Judiciário, STF, mercado. Ele quer ter uma linha na economia como a do Paulo Guedes. Está dando as diretrizes para seguir em frente e isso está sendo bem recebido”, disse o chefe do Executivo paulista.

Questionado se o evento – um balanço com as ações de sua gestão em 2025 – era o lançamento da candidatura à reeleição, Tarcísio desconversou, mas indicou novamente que ficará em São Paulo. “Engraçado, que eu venho falando isso há muito tempo e o pessoal não acreditava”, disse.

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