Selecione abaixo qual plataforma deseja acessar.

Especial: Setor de transmissão deve continuar atrativo em leilões e fusões e aquisições

29 de dezembro de 2025

Por Ludmylla Rocha

São Paulo, 29/12/2025 – Queridinho dos investidores por ser considerado um dos segmentos estável diante da garantia de uma receita fixa para os empreendimentos contratados, a transmissão de energia elétrica deve continuar atrativa em 2026 e manter sua competitividade tanto nos dois leilões previstos quanto no mercado de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), de acordo com especialistas.

“Mesmo em um ano que tende a ser de muita volatilidade de mercado, transmissão continua sendo um setor que atrai muito capital e considerado de muita qualidade setorial e regulatória”, afirma o responsável pelo setor de energia na área de Project Finance do Itaú BBA, Allan Gabriel.

Especificamente nos dois leilões previstos pelo governo – para março e outubro de 2026 – a tendência é de manutenção dos níveis de competitividade observado nos últimos anos, com pouco impacto de instabilidades de curto prazo. “O investidor de transmissão vai viver quatro, cinco ciclos eleitorais. Então, não é uma eleição que vai, necessariamente, alterar completamente o equilíbrio de competição”, sugere.

Gabriel reforça ainda que, para além da estrutura regulatória do segmento, que é considerada “muito estável” quando comparada a outras divisões do setor elétrico, a transmissão se destaca até mesmo em termos de dívida, que tendem a ser mais baratas.

Caducidade em aberto

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou o edital para o primeiro certame de transmissão do ano que vem com dez lotes, dos quais sete envolvem processos de caducidade de suas respectivas concessões. A extinção desses contratos, no entanto, deve ocorrer até o fim de fevereiro para que os trechos sejam ofertados, de fato.

Para o presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), Mário Miranda, há preocupação em relação aos prazos, mas “tão logo haja definição, há transmissoras suficientes para entrar no processo competitivo”.

A avaliação do especialista do Itaú BBA é similar. “A discussão sobre esses lotes já está há um tempinho no mercado. Então, muita gente já tem uma percepção sobre o que interessa ou não”, disse.

Projetos prontos

O ano de 2025 foi marcado por aquisições relevantes de concessões de transmissão. A chinesa State Grid, por exemplo, comprou a linha de transmissão Mantiqueira, da Quantum Participações, controlada pela Brookfield, em negócio estimado em R$ 7 bilhões. Já a brasileira Equatorial vendeu sua operação em transmissão para a Verene Energia, controlada pelo fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec, por quase R$ 6 bilhões.

Para o advogado Victor Gelli, sócio da área de Societário e M&A do Mattos Filho, diante de incertezas na área de geração por questões como os cortes por razões sistêmicas, conhecidos pelo jargão curtailment, a transmissão deve continuar atrativa para M&As, sobretudo, para reciclagem de capital, estratégia na qual determinada empresa vende ativos com rendimento mais baixo para usar o valor obtido em oportunidades mais interessantes.

“Esse ano houve um leilão mais tímido, mas em março tem um com cerca de R$ 5,5 bilhões de investimentos previstos e em outubro outro em que se fala em um montante da ordem de R$ 20 bilhões. São valores expressivos em que talvez, para players tradicionais, ainda mais com taxa de juros de jeito que está, a tese de reciclagem de capital funcione bem”, disse.

Para o presidente da Abrate, essa prática já é tradicional do setor, que tem sido hábil em afastar especuladores do segmento. “Tem um movimento que é aquele investidor que entra na licitação, porque tem a expertise de implantar a obra, vence e após a construção, vende. E há as concessionárias que compram projetos ‘brownfield’, isso é natural”, avalia.

Segundo o sócio de mercados regionais da KPMG Manuel Fernandes, ao apostar em uma operação deste tipo o investidor avalia questões que podem ser “complicômetros” da implantação de um empreendimento como dificuldades de licenciamento ambiental ou embates em territórios indígenas. “O investidor faz a conta sabendo dos riscos e compara. Ele olha as possibilidades mundiais e aloca o capital onde acha que tem menos risco e maior retorno”, afirma.

Ele reitera que o segmento de transmissão é considerado mais “controlável” e, especificamente, no Brasil, é atrativo para o capital internacional pela tradição de respeito aos contratos e ausência de conflitos internacionais. “Isso também traz segurança para o investidor e as taxas oferecidas não têm sido ruins do ponto de vista de tarifas. Então, o investidor vê uma segurança da performance futura, além da perspectiva de demanda crescente”, avalia, diante de um contexto de transição energética e consequente ampliação da demanda por eletricidade.

Contato: ludmylla.rocha@broadcast.com.br

Veja também