17 de novembro de 2025
Por Jadson Luigi, especial para a Broadcast Político
São Paulo, 04/11//2025 – A disputa pelo comando do governo da Bahia em 2026 aponta, a um ano do pleito, para um cenário que se repete há sete eleições: a polarização entre o carlismo e o petismo. Se a tendência se confirmar, no próximo ano os dois grupos políticos deverão se enfrentar nas urnas, na oitava disputa direta entre as duas forças. De um lado, o atual governador, Jerônimo Rodrigues (PT), que vai tentar a reeleição, e do outro o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), que foi derrotado em 2022 pelo petista.
Jerônimo Rodrigues e ACM Neto lideram a disputa, em empate técnico em todas as simulações para a corrida ao Palácio de Ondina, de acordo com a mais recente pesquisa feita pela Real Time Big Data, no início de outubro. No cenário principal, o levantamento revela que ACM Neto lidera com 40% das intenções de voto contra 36% de Jerônimo. Os dois aparecem à frente de nomes como João Roma (PL), com 5%, e José Carlos Aleluia (Novo), com 2%.
Na primeira vez em que carlismo e petismo se confrontaram diretamente, em 1998, César Borges, do grupo político do ex-governador Antônio Carlos Magalhães, avô de ACM Neto, derrotou o petista Zezéu de Abreu e o pedetista João Durval Carneiro no primeiro turno. No pleito seguinte, em 2002, foi a vez do carlista Paulo Souto retornar ao poder derrotando também em primeiro turno o então candidato Jaques Wagner (PT), atual senador, e Prisco Viana (PMDB).
Nas eleições de 2006, foi a vez de o PT impor derrota ao carlismo no Estado, com a eleição de Wagner em primeiro turno contra o carlista Paulo Souto (PFL na época) e Átila Brandão (PSC). Desde então, os petistas governam o Estado há quase 20 anos. Caso Jerônimo seja reeleito em 2026, o partido terá permanecido, ao fim do eventual mandato dele, no comando do Executivo baiano por 23 anos, entregando um resultado político significativo para a legenda nacionalmente.
O cientista político e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) Claudio André de Souza acredita que, com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como presidente em 2002, o embate entre PT e o carlismo se intensificou na Bahia. “Com a eleição de Lula em 2002, o PT passa a se colocar como o principal adversário do carlismo na Bahia. Naquele ano, Wagner teve 38% com poucos prefeitos, foi a primeira candidatura dele a governador. Ele tinha sido candidato a prefeito de Camaçari em 2000, ali já se aparecia como um candidato forte de alternativa ao carlismo, o que viabilizou a sua vitória eleitoral em 2006 com a reeleição de Lula. Então, o fenômeno lulista na Bahia é muito forte, e eu vejo que esse é o principal trunfo que vai levar a estratégia do PT”, diz.
Antes de chegar ao Palácio de Ondina, Jerônimo foi secretário estadual de Educação e chefiou também a pasta do Desenvolvimento Rural, na gestão de Rui Costa (PT), atual ministro da Casa Civil. Professor universitário e engenheiro agrônomo, o petista era um rosto desconhecido para a maioria do eleitorado baiano até estrear no pleito de 2022.
ACM Neto é o representante do carlismo, grupo político formado em torno do seu avô e que faz oposição ao PT no Estado. Ele foi deputado federal de 2003 a 2013 e eleito duas vezes prefeito de Salvador de 2013 a 2021.
Desafios
Os dois políticos deverão enfrentar desafios em níveis variados. Após fazer sua estreia eleitoral em 2022, Jerônimo enfrenta dificuldades semelhantes à eleição anterior. Isso porque, apesar de já ser conhecido pelo eleitorado baiano, o petista ainda precisa consolidar uma marca da sua gestão. A comparação com outros quadros do partido, como Wagner e Costa, ainda é um entrave para Jerônimo firmar seu potencial enquanto liderança política.
Em 2026, a oposição irá repetir o discurso adotado quatro anos antes e explorar o desgaste do PT à frente do governo da Bahia após quase 20 anos no poder. “(O governador) carrega um desgaste natural, de um grupo político que já está há bastante tempo no poder. Tem obviamente um desgaste na segurança pública”, argumenta o cientista político e diretor da Axis Inteligência Política e Educação, Alexandre Bahia.
Um ponto que será abordado pela campanha de ACM Neto é a questão da segurança pública. Desde que assumiu o governo, em 2022, a gestão de Jerônimo tem sido criticada pelo aumento dos números de violência. Segundo o Anuário da Segurança Pública 2025, a Bahia ocupa o 2° lugar como o Estado mais violento do País, atrás do Amapá.
Além da Segurança Pública, algumas promessas de campanha não foram para frente. Como é o caso da construção da Ponte Salvador-Itaparica, que avançou muito pouco nesses quase quatro anos. “A questão da segurança pública permanece, porque algumas políticas adotadas pelo governo estadual como o Programa Bahia pela Paz não se traduziram em alteração dos indicadores ou de percepção da população também”, explica a cientista política e coordenadora da área de Subnacional da Consultoria Prospectiva, Flora Mota.
Estratégias
O grupo político de Jerônimo deve repetir a estratégia utilizada no pleito anterior, apostando na capilaridade do partido no Estado. “Nas últimas eleições, na reta final, o PT virou o que mostravam as pesquisas eleitorais e se mostrou favorecido por elementos importantes. Como a capilaridade no Estado, ancorada principalmente nas políticas sociais e de apoio à agricultura familiar, e o alinhamento à Lula, que também desempenha um papel decisivo na composição das dinâmicas políticas estaduais”, argumenta Flora.
Já o ex-prefeito ACM Neto concentrou, em 2022, sua estratégia política em Salvador e nas grandes cidades. Na capital, o ex-prefeito teve seus dois mandatos bem avaliados e conseguiu eleger o seu sucessor, Bruno Reis. “Naquela eleição, o grupo do ACM Neto se concentrou na capital e em cidades de maior porte, o que se mostrou insuficiente para vencer as eleições em 2022”, analisa Flora.
Outro ponto que acende alerta vermelho na campanha de ACM Neto é a aproximação de governo Jerônimo com prefeitos que apoiaram a candidatura do herdeiro do carlismo na eleição anterior.
O Palácio de Ondina também têm atuado para atrair partidos da oposição para a base do governo, como foi o caso do PDT. A legenda integrava a base do atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), e abriga nomes de aliados importantes do grupo político de ACM Neto como, por exemplo, a vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos, e o deputado federal Léo Prates. No entanto, após algumas costuras, o PDT desembarcou na base do
governo de Jerônimo.
As movimentações partidárias podem favorecer a candidatura de ACM Neto. Em 2022, após o rompimento do então vice-governador João Leão (PP) com Rui Costa, o PP se aproximou do União Brasil, cenário que deve permanecer em 2026. “Para a próxima eleição a ideia seria criar um grupo amplo de centro-direita reunindo também o Republicanos e o PL para fortalecer essa candidatura do ACM filiado à União Brasil. Enquanto isso, o prefeito de Salvador, Bruno Reis também mantém uma gestão bem avaliada, o que favorece a imagem desse grupo”, analisa Flora.
Contato: jadson.santos@estadao.com
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