8 de novembro de 2025
Por Luciana Collet*
Fernando de Noronha, 08/11/2025 – A Neoenergia lançou neste sábado a pedra fundamental da Usina Solar Noronha Verde, um projeto de R$ 350 milhões que prevê a instalação de mais de 30 mil painéis solares fotovoltaicos integrados a um sistema de armazenamento por baterias (BESS, na sigla em inglês), que visa descarbonizar até 2027 a geração de energia da ilha que é classificada como patrimônio natural da humanidade pela Unesco. O investimento é quase 4 vezes o que foi investido pela empresa em Fernando de Noronha nos últimos cinco anos.
Segundo o presidente da Neoenergia, Eduardo Capelastegui, com a iniciativa, que classificou como “ícone na transição energética brasileira”, Fernando de Noronha deve se tornar a primeira ilha oceânica habitada da América Latina a alcançar a descarbonização. “Mais do que um novo sistema híbrido de geração e armazenamento, estamos construindo um modelo de desenvolvimento sustentável que respeita o meio ambiente, valoriza as comunidades locais e projeta o Brasil como líder global em energia limpa”, declarou, durante cerimônia que ocorre no início da tarde deste sábado.
A usina solar terá 22,8 megawatts (MW) de potência e será associada a um sistema de baterias com capacidade de 49 megawatts (MWh), em 24,63 hectares, o correspondente a 1,5% da ilha habitada. Assim, durante o dia, a usina solar produzirá energia suficiente para atender a demanda diurna da ilha e ainda abastecerá as baterias, que terão capacidade para suprimento por 14 horas, atendendo, então, o consumo noturno. O empreendimento contatá com a parceria da WEG, que também ficará responsável pela execução técnica e operacional do projeto, além da Huawei e 2A.
A implantação será realizada em duas fases: a primeira, correspondente a 16% do projeto, está prevista para entrar em operação em abril de 2026, enquanto a segunda, com os 84%, deve ser finalizada em setembro de 2027.
Quando estiver pronto, esse sistema poderá suprir integralmente as necessidades elétricas da ilha, de 4,5 MW.mês, atualmente atendidas majoritariamente por geração termelétrica a diesel. A usina Tubarão possui 10 MW de capacidade instalada, o suficiente para suprir toda a demanda de Fernando de Noronha, inclusive no período de pico, no fim do ano, quando a carga chega a 6,5 MW.mês. Considera, ainda, uma capacidade adicional, planejada para garantir regime permanente de atendimento mesmo em momentos de parada preventiva ou programada das máquinas.
A expectativa é de que em dois anos a ilha possa ter quase 100% de seu consumo energético renovável, uma vez que a usina térmica seguirá eventualmente sendo acionada, em caso de necessidade, como em dias de maior nebulosidade, quando a geração solar é menor. Com o tempo, a previsão é que parte da termelétrica seja desmontada, à medida que a companhia confirmar a segurança do sistema agora em construção.
O uso apenas como backup permitirá reduzir consideravelmente o consumo de óleo diesel, e consequentemente a emissão de CO2 em Fernando de Noronha, onde atualmente 95% da energia hoje é gerada a partir do combustível, consumindo cerca de 27 mil litros por dia. A estimativa da Neoenergia é que o início do novo sistema propicie uma redução de 22 mil toneladas de CO2 por ano..
Alívio para as tarifas
Além do benefício ambiental, o novo sistema de geração também deve permitir reduzir encargos na conta de luz, já que o custo do combustível utilizado pela termelétrica é subsidiado pela Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), que é custeada pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo setorial que arca com boa parte das políticas públicas do setor elétrico brasileiro e cujos recursos vêm principalmente dos encargos incluídos nas tarifas. No caso da tarifa do arquipélago, a estimativa inicial é de uma queda de 6% na conta de luz, também favorecida pelo menor custo de operação do sistema de geração.
O novo sistema, cujas obras foram lançadas neste sábado, às vésperas da COP 30, em Belém, indica o passo mais amplo da Neoenergia na descarbonização de Fernando de Noronha, que vinha estudando essa iniciativa há pelo menos quatro anos e contratou estudos do MIT para avaliar a melhor solução de fornecimento de elétrico sem uso de combustíveis fósseis. O uso da fonte eólica foi descartado por sua interferência na rota das aves, entre outros motivos. A adoção de um cabo subaquático entre o continente e o arquipélago também chegou a ser considerada.
Até agora, as iniciativas de descarbonização da geração elétrica em Fernando de Noronha estavam relacionadas a investimentos no âmbito de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e de Eficiência Energética, regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e que utilizam recursos que as próprias distribuidoras são obrigadas a aplicar nessas atividades.
Projetos
As primeiras ações foram iniciadas em 2009, inicialmente focadas em programas de eficiência energética em pousadas e prédios públicos do arquipélago, e posteriormente, a partir de 2014, com a instalação das primeiras usinas fotovoltaicas. Atualmente a companhia possui de 1,682 kilowatts-pico (kWp) instalados em diferentes localidades da ilha, incluso para geração de energia para carregamento elétrico de veículos, respondendo por cerca de 10% do consumo local.
A mais recente dessas usinas, inaugurada em setembro deste ano, uma usina solar fotovoltaica flutuante de 622 kWp foi instalada no espelho d’água do Açude do Xaréu, que fornece parte da água consumida no arquipélago. A unidade, que recebeu investimento de R$ 10 milhões, será doada à Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), principal consumidora de energia do arquipélago, e responderá por cerca de 30% do consumo de energia da empresa, que gasta grande volume de eletricidade em processo de dessanilização, que responde por 65% da necessidade locais de água.
Já a primeira usina da ilha, Noronha I, de 402,8 KWp, em operação desde 2014, em área da Aeronáutica, passará por um retrofit. As placas atualmente instaladas serão levadas para o continente, onde serão reinstaladas, enquanto a localidade receberá equipamentos novos, mais potentes, contabilizados nos 22,8 MW que serão instalados.
Com 17 quilômetros quadrados de extensão, Fernando de Noronha tem 43,5 km de rede e 1.235 clientes. Nos últimos cinco anos, a Neoenergia investiu R$ 90 milhões no arquipélago.
Contato: Luciana.collet@estadao.com
*A jornalista viajou a convite da Neoenergia
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