Por Cynthia Decloedt e Talita Nascimento
São Paulo, 05/11/2025 – A administração da Braskem esteve recentemente em conversas com credores que têm títulos emitidos pela companhia no exterior (bonds) e sinalizou que irá apresentar um plano para reestruturação de seu passivo financeiro até janeiro, apurou a Broadcast. Naquele mês vencem mais de US$ 170 milhões em juros referente a bonds da companhia que circulam no exterior, conforme os contratos desses papéis que estão disponíveis no site da companhia.
De acordo com três fontes ouvidas pela Broadcast, o comentário foi feito em resposta a uma pergunta desses credores sobre o pagamento de tal compromisso e especificamente do bond 2028, cujo juro é o primeiro a vencer em janeiro, no dia 10, somando US$ 28 milhões.
A sensação foi a de que a Braskem pode deixar para cumprir esses compromissos já dentro de um escopo de renegociação de suas dívidas, disse uma das fontes. É consenso entre as fontes ouvidas e outros interlocutores que participam de processos de reestruturação de empresas que a Braskem apresentará um plano para alongar seus passivos.
Tanto que o sindicato de bancos que liberou US$ 1 bilhão de uma linha revolving – linha de crédito que funciona como um cheque especial – contratou assessores para negociar um prazo para pagamento desta linha, que vence em um ano. O sindicato tem a FTI Consulting como assessora financeira e os escritórios Lefosse e Freshfields como assessores jurídicos.
“Vai ser preciso alongar esse prazo porque já está claro que a empresa não terá como honrar essa dívida em um ano”, afirmou uma fonte. Essa dívida é o primeiro grande vencimento da Braskem. O segundo se dá em 2028, quando a companhia tem 16% de sua dívida vencendo, com US$ 1,241 bilhão a pagar.
Fundos de investimentos americanos têm feito sondagens no mercado brasileiro a respeito de como esses títulos de dívida em dólares seriam tratados em uma eventual recuperação extrajudicial. Eles buscam informações para saber se comprá-los no mercado secundário, agora que estão mais baratos, seria um bom negócio.
Em setembro, a Braskem contratou o Lazard como assessor financeiro e os escritórios E.Munhoz e o Cleary Gottlieb como jurídicos para avaliar a situação da empresa e encontrar alternativas a fim de melhorar seu desempenho. O inesperado movimento chamou a atenção e já colocou o mercado em alerta e à espera de uma reestruturação de suas dívidas. A dívida líquida ajustada da companhia somava, no segundo trimestre de 2025, US$ 6,8 bilhões, com alavancagem de 10,59x (dívida líquida/Ebitda recorrente).
Também causou estranheza, já que seu controle está à venda e os bancos credores, que têm as ações da empresa, se movimentam para assumir essa fatia até o final do ano. No meio do ano, contrataram a IG4 para estruturar um fundo onde as ações da Braskem seriam alocadas. A IG4 se tornaria parceira da Petrobras, que é o maior acionista da Braskem depois da Novonor, controladora.
Existe uma negociação em andamento com a Novonor (ex-Odebrecht) que, embora não seja efetivamente “dona” dessas ações, tem posto na mesa algumas condições para entregar “amigavelmente” esses papéis aos bancos credores. Entretanto, os bancos não descartam executar essa garantia, referente a empréstimos que eles fizeram à Novonor. A dívida é de cerca de R$ 19 bilhões. Um dos pontos de tal negociação com a família Odebrecht é sobre com qual participação eles ficariam na Braskem. Os bancos ofereceram cerca de 3,5% no capital total da petroquímica.
Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) são credores da Novonor. A Novonor detém o controle da Braskem, com uma participação de 50,1% das ações ordinárias e 38,3% do capital total. Ao seu lado está a Petrobras, com uma fatia de 47% das ordinárias e 36,1% do total.
Procurados, Braskem, Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil, BNDES, além da IG4 e da Novonor não comentaram. Os escritórios também não comentaram.
Contato: cynthia.decloedt@estadao.com e talita.ferrari@estadao.com
