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Especial: petróleo tende a fechar 2025 perto de US$ 60, bem abaixo da previsão da Petrobras

24 de outubro de 2025

Por Talita Nascimento

As cotações do petróleo brent tendem a fechar 2025 perto de US$ 60 o barril ou menos, segundo analistas. O patamar jogaria a média de preços do ano para abaixo dos atuais US$ 67,83, sendo que no último fechamento, de ontem, 22, o barril estava cotado a US$ 62,59. O plano de negócios da Petrobras de 2025 a 2029 contava com a perspectiva de petróleo cotado a uma média de US$ 83 por barril em 2025, caindo para US$ 68 em 2029. Ou seja, a queda de preços que se desenha é bem mais rápida do que os modelos oficiais da empresa indicavam. Para se ter uma ideia do impacto que essa reversão de expectativas pode causar, estima-se que a cada US$ 10 a menos no preço do petróleo, a geração de caixa operacional da empresa caia em US$ 5 bilhões por ano, segundo dados da própria estatal.

Dentre as expectativas, está a do Departamento de Energia do Estados Unidos (DoE, na sigla em inglês), que indica que o barril do petróleo brent ficará em US$ 69 na média de 2025, antes de arrefecer para US$ 52 em 2026. O Citi, por sua vez, afirmou em seu último relatório continuar a ver os preços do petróleo caindo para US$ 60 até o final de 2025, com média de US$ 62 do segundo ao quarto trimestre de 2026. Já o Rabobank estimou que a commodity será negociada em média a US$ 61 no primeiro trimestre de 2026, e em uma média de US$ 58 a US$60 pelo restante do ano.

A estimativa mais pessimista é da Eurasia. Mesmo com o preço do petróleo sendo negociado na faixa de US$65 a US$ 75 por barril desde julho até setembro, a casa de análises diz ser provável que as cotações caiam para uma faixa de US$ 55 a US$ 65 por barril até o final do ano e permaneçam nesse intervalo até o primeiro trimestre de 2026, à medida que o aumento da oferta supera o crescimento lento da demanda.

O JP Morgan, com uma sinalização um pouco mais positiva, afirmou em relatório que, embora não seja uma opinião consensual, os analistas da casa se surpreenderam com algumas reuniões que foram ligeiramente mais otimistas em relação ao preço do brent para 2026. “As expectativas (das reuniões em questão) indicavam que os preços do petróleo poderiam permanecer na faixa de US$ 60 a US$ 65 por barril, em vez de cair abaixo de US$ 60.”

A visão considerada construtiva é atribuída a uma demanda resiliente, atividades contínuas de reabastecimento na China e nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), enquanto a Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA não voltou aos níveis históricos. A visão do JP e de outras fontes mais pessimistas consultadas pelos analistas do banco, porém, é de que ainda há preocupações relativas a potenciais adições de oferta da commodity, além de um possível risco de recessão até o final de 2026.

O entendimento de que o maior peso para o preço da commodity esteja na sobreoferta global é respaldado por outras casas. O Rabobank aponta que os mercados de petróleo foram estáveis durante todo o mês de setembro. “No entanto, outubro começou a revelar evidências que apoiam nossa antiga previsão de que o excesso de oferta está chegando aos mercados de petróleo”, escrevem os estrategistas do banco, Joe DeLaura e Florence Schmit. Eles relembram que, na primeira semana de outubro, os preços caíram abaixo de US$ 65, sendo que em 17 de outubro, os contratos futuros para o mês seguinte estavam sendo negociados em torno de US$ 61,20 por barril.

Mudança estrutural

O analista da Ativa, Ilan Arbetman, avalia que há sinais de uma mudança estrutural no preço do petróleo. “A oferta global tem avançado não apenas por parte da Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados), mas também de produtores de fora do cartel, como os Estados Unidos, Brasil e Guiana. Esse novo equilíbrio pressiona os preços e aponta para um ambiente de maior oferta estrutural no médio prazo”, afirma.

Para ele, é difícil cravar um horizonte exato de tempo em que essa conjuntura permaneça, pois o mercado continua sujeito a choques geopolíticos e decisões de curto prazo da Opep+. “No entanto, se a dinâmica atual de expansão da oferta persistir e a demanda global seguir moderada, é possível que esse novo patamar de preços se sustente por mais tempo do que o inicialmente previsto”, complementa.

O responsável pelas análises de ações do setor de óleo, gás e petroquímicos da XP, Regis Cardoso, entende que, com as cotações da commodity atualmente abaixo do patamar previsto no plano de negócios da Petrobras, será importante que a companhia promova iniciativas para reduzir o que chama da “brent de equilíbrio”, valor mínimo necessário da commodity para que a empresa não tenha prejuízo. Esse indicador, segundo o último plano de negócios, é de US$ 28 por barril. Para Cardoso, reduzir essa marca tornaria a empresa mais resiliente a esse novo ambiente.

A Broadcast apontou nesta semana que o Plano Estratégico da Petrobras para o período 2026-2030 terá um corte bem acima dos US$ 8 bilhões que o mercado vem especulando, justamente em função do preço mais baixo do petróleo.

Com base nessa informação, o UBS BB pontuou em relatório que a administração da Petrobras tem enfatizado a importância de revisar alguns investimentos, dado o ambiente de preços mais baixos da commodity, o que apoia as expectativas do banco de um potencial investimento (Capex) menor para o próximo ano. “No entanto, ainda destacamos uma forte incerteza sobre o assunto, com notícias relatando que o governo estaria resistindo a qualquer corte nos investimentos”, escrevem os analistas Tasso Vasconcelos, Mateus Enfeldt e Victor Modanese.

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