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Observatório suíno: bem-estar de baia coletiva para porca em gestação cresce 16,5% em 4 anos

23 de outubro de 2025

Por Julia Maciel

São Paulo, 22/10/2025 – O Brasil registra 44,9% das porcas alojadas em baias coletivas durante a gestação, de acordo com estimativa do relatório Observatório Suíno. Esse porcentual foi obtido com base nas respostas ao levantamento realizado pela ONG Anialima e no último relatório anual da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “Houve um aumento significativo de 16,5% no alojamento de porcas em gestação coletiva nos últimos 4 anos”, aponta o levantamento.

O índice era de 42,1% em 2024, 36,2% em 2023, 37,8% em 2022 e 28,4% em 2021. As baias coletivas, uma alternativa às celas individuais, permitem que os animais tenham maior liberdade de movimento, promovendo seu bem-estar.

Neste ano, a JBS lidera entre as empresas de porcas alojadas em baias coletivas, atingindo 98% ante 84% em 2024. A JBS aumentou 14 pontos porcentuais sua transição de um ano para o outro. “Tudo indica que a JBS completará sua transição a tempo, ou brevemente”, informou o relatório. A empresa aloja coletivamente 294 mil de suas 300 mil porcas (98%), com meta de alcançar 100% até o fim do ano vigente. A Pamplona manteve a porcentagem de 94% de suas porcas alojadas em baias coletivas, seguida pela Aurora, com 85%.

“Aurora e MBRF têm prazo de 2026, mas não têm apresentado avanços ao longo dos anos”, diz o relatório. A MBRF se manteve com 57% de suas porcas alojadas em baias coletivas com relação ao ano passado. A empresa aloja 233.465 das suas 408 mil porcas. “A conversão para o modelo coletivo demanda investimentos expressivos em infraestrutura, manejo e equipamentos, o que muitas vezes não é economicamente viável ou pode causar impacto direto na operação e a eficiência da granja”, disse a MBRF em relatório.

Ainda de acordo com o levantamento, a Alegra avançou 11 pontos porcentuais na porcentagem de porcas alojadas em baias coletivas, atingindo 55% ante 44% no ano passado. A Frimesa atingiu 58% ante 57% em 2024, um avanço considerado insuficiente pela entidade para completar a transição no prazo de 2026.

Quanto aos desafios enfrentados na transição das celas individuais para o alojamento coletivo, pelo segundo ano consecutivo, a Pamplona foi a única empresa a não reportar entraves.

Entre as demais, a falta de financiamento foi a queixa mais frequente, apontada por 89% das respondentes, ante 75% em 2024. “A precificação do produto final e o planejamento das instalações são outros desafios que aparecem em seguida após o financiamento”, afirma o relatório.

Antes de transferirem as porcas para baias coletivas, empresas mantêm as matrizes em alojamento individual entre o fim da maternidade e a inseminação para o próximo ciclo.

A Pamplona reportou que 63,8% das porcas permanecem em alojamento individual por até 7 dias antes de serem movidas para baias coletivas, enquanto a JBS tem 54,1% nesse período, 8,5% até 28 dias e 37,4% até 35 dias. Na MBRF, 7,3% das porcas ficam alojadas individualmente por até 7 dias e 92,7% por até 28 dias.

“Do ano passado para este, a Alegra, Frimesa e Pamplona foram as únicas empresas que aumentaram a porcentagem de matrizes no sistema “cobre e solta”, destaca o documento. Segundo o Observatório Suíno, Pamplona e JBS continuam como as únicas que têm mais da metade do plantel alojado nesse sistema.

Sobre planos futuros para fornecer mais espaço para as porcas na maternidade (mínimo de 4,32 m²), 67% das empresas, incluindo Alegra, Alibem, Aurora, Master, Pamplona e JBS manifestaram interesse em expandir o espaço, enquanto 23% (MBRF, Frimesa, Pif Paf ) ainda não têm planos. “Priorizaremos a finalização da transição do alojamento individual para a gestação coletiva, antes de iniciar a transição das estruturas de maternidade”, disse a MBRF em relatório.

O levantamento revelou que todas as empresas já baniram a castração cirúrgica de leitões machos sem anestesia, enquanto 78% baniram o desbaste de dentes. Apenas 33% das empresas já aboliram a mossa, prática utilizada na suinocultura para identificação dos animais, que consiste no corte de uma pequena parte da orelha do suíno.

“A MBRF, Master e Pif Paf já eliminaram completamente a mossa. Enquanto isso, a Pif Paf usa brinco como alternativa, assim como a MBRF que também utiliza tatuagem. A Master, por ter o ciclo completo, consegue deixar de identificar os animais individualmente”, afirma o documento. A JBS, que cujo prazo para banir a mossa é 2027, disse que a identificação da origem dos animais quando se misturam origens de diferentes locais tem sido uma dificuldade.

O uso de antimicrobianos como promotores de crescimento foi banido por 56% das empresas, enquanto 11% têm planos de banimento e 33% continuam a utilizá-los. Quanto ao uso profilático, 56% das empresas, incluindo a JBS, não pretendem banir a prática, enquanto 11% manifestaram intenção de eliminá-la.

O uso metafilático de antimicrobianos, que envolve o tratamento coletivo após sintomas iniciais, permanece não banido por 89% das empresas, sendo a MBRF a única com planos de interromper a prática até 2027.

O relatório anual do Observatório Suíno, realizado pela Alianima, monitora o progresso das empresas comprometidas com a eliminação das celas de gestação na indústria de carne suína brasileira. Nesta edição, foram analisadas respostas de 20 empresas.

Contato: julia.maciel@estadao.com

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