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Exclusivo: Cury vê alta nas vendas, embalada por MCMV e incentivos de legislação de SP e Rio

3 de outubro de 2025

Por Circe Bonatelli

A Cury Construtora deve fechar o ano com vendas acima das suas projeções internas, refletindo as condições favoráveis de contratação dentro do Minha Casa Minha Vida (MCMV) e os estímulos das legislações municipais de São Paulo e Rio de Janeiro – capitais onde concentra suas operações. “Estamos indo muito bem nas vendas. Devemos até superar um pouco o previsto para o ano”, contou o presidente da companhia, Fábio Cury, em entrevista exclusiva à Broadcast sobre os cinco anos desde sua oferta inicial de ações na bolsa (IPO, na sigla em inglês) e suas perspectivas.

Desde o IPO, o valor de mercado da Cury subiu de R$ 3 bilhões para R$ 10 bilhões, com distribuição de R$ 1,6 bilhão em dividendos. A base de acionistas cresceu de 1,5 mil para 38 mil. Entre as casas de análise, o nome da empresa está entre as top picks do setor. No primeiro semestre deste ano, a construtora reportou R$ 4,4 bilhões em vendas líquidas, alta de 33%. As prévias operacionais do terceiro trimestre serão divulgadas em breve. A empresa não dá guidance para as operações.

O presidente atribui os resultados desde o IPO ao foco no segmento econômico e nas cidades onde já atuava, sem desvios na estratégia. Isso permitiu o aperfeiçoamento das operações – das vendas à engenharia – com margens robustas, enquanto outras empresas tiveram percalços no crescimento. Pela frente, a estratégia é seguir atrás de ganhos de produtividade, sem mudanças na rota. “No mercado onde estamos ainda tem muita lenha para queimar”, afirmou Cury.

A prioridade nos próximos anos é a busca de terrenos de grande porte, perto de transporte público, onde consiga lançar mais residenciais com mais de 1,5 mil apartamentos. “É o que nos dá escala e rentabilidade”, explicou. “Iremos com unhas e dentes atrás desses terrenos”.

Outro foco é a evolução da engenharia, com adoção de novos sistemas construtivos. A Cury é adepta da alvenaria estrutural, mas estuda também o uso de paredes de concreto e a estruturas pré-moldadas. O objetivo é aumentar a industrialização e reduzir a dependência de mão de obra nos canteiros. “Precisamos ter a sabedoria de usar mais de um sistema, sabendo extrair o melhor para cada projeto”.

São Paulo e Rio

A Cury tem 70% dos seus apartamentos na faixa 2 e 3 do MCMV (até R$ 350 mil) – onde a demanda é perene. “Esse é um mercado praticamente inesgotável, contando com a taxa de juros reduzida do programa”, ressaltou o presidente da empresa. Outros 23% estão na recém-criada faixa 4 (até R$ 500mil) e só 7% estão fora do programa.

Em São Paulo, a principal fonte de demanda por imóveis está relacionada à migração de pessoas das periferias para o centro expandido. Isso é reflexo das alterações do Plano Diretor, que ampliaram o potencial construtivo nas áreas centrais e próximas de transporte público. Além disso, a construção de moradias de interesse social ganhou incentivos.

Assim, a área construída nos empreendimentos populares pode atingir 4 ou 5 vezes a área do terreno, sem pagamento de outorga, enquanto no restante do mercado o limite é de 2 vezes. Isso permitiu às construtoras do MCMV lançar projetos nos bairros mais centrais. Até então, essas áreas eram adquiridas por empresas de médio e alto padrão, cujos apartamentos são vendidos a preços maiores.

“Antes, atuávamos muito no extremo da zona leste, de Itaquera para frente. Carrão era meio que ‘bairro nobre’ para nós. É onde conseguíamos terra no preço certo. Hoje, conseguimos lançar na Mooca e na Barra Funda, por exemplo. Passamos a competir com empresas como Cyrela e Eztec na compra dos terrenos”, afirmou Cury.

O MCMV também contribuiu para oferta de moradias com preços e taxas de juros acessíveis, o que tem atraído multidões de compradores. “Essa galera do extremo da cidade quer morar mais perto do trabalho. É uma grande oportunidade de migração. Ao meu ver, ainda tem muito desse movimento para acontecer nos próximos anos”.

Ainda em São Paulo, a Cury está avaliando participar do próximo edital do programa municipal Pode Entrar, que prevê a contratação de um total de 8 mil unidades.

Já no Rio, o foco é o Porto Maravilha, onde a operação urbana foi ampliada, com a inclusão de São Cristóvão no perímetro. Com isso, o bairro passou a receber isenções fiscais e flexibilidades para construção, assim como já acontece no porto. A Cury lançou, em agosto, o primeiro residencial aproveitando esses benefícios em São Cristóvão. O projeto tem 1 mil apartamentos. Na primeira etapa, foram lançadas 348 unidades, dos quais 45% já vendidos.

Em paralelo, a Prefeitura do Rio está preparando um pacote de incentivos para a turbinar a construção na zona norte da cidade, uma área onde a Cury está posicionada. A empresa tem ali um conjunto de terrenos com potencial para lançar R$ 1,2 bilhão em projetos residenciais (o equivalente a 6% do seu banco de terrenos). “Estamos aguardando para ver se a nova legislação vai beneficiar a região”, disse Cury.

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