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Mudança de rota da Alpargatas deve sustentar recuperação da ação, apontam analistas

12 de setembro de 2025

Por Vinícius Novais e Beth Moreira

São Paulo, 12/09/2025 – Após bater a mínima de R$ 5,90 em janeiro deste ano e sair do Ibovespa, a ação preferencial da Alpargatas está em trajetória de recuperação. No acumulado de 2025, o papel registra valorização de mais de 60%, cotado na faixa de R$ 10, mas ainda longe da máxima histórica que atingiu em agosto de 2021, quando valia quase R$ 60.

A melhora reflete o esforço da atual gestão, que tem foco na disciplina financeira e em seu produto principal: os chinelos Havaianas. “Vamos voltar ao básico, reforçar nossa competitividade e garantir crescimento sustentável, equilibrando inovação com disciplina de capital”, resumiu o presidente da empresa, Liel Miranda, durante encontro com analistas e investidores no começo do mês.

A estratégia mostra que a empresa busca um turnaround após seu processo de internacionalização, com a compra de 49,9% da Rothy’s, marca norte-americana de calçados sustentáveis, por R$ 2,7 bilhões – um negócio que não trouxe o retorno esperado pela empresa nem pelo mercado.

“A Alpargatas passou por um processo bastante difícil de troca de gestão. E essa correção de R$ 50 para R$ 5 foi muito por conta de erros da gestão anterior relacionados à internacionalização da companhia”, avalia o analista sênior de ações e renda variável da AZ Quest, João Mamede.

Desde 2021, o valor de mercado da empresa despencou de R$ 32,88 bilhões para perto de R$ 4 bilhões e hoje gira em torno de R$ 6 bilhões. A perda da ação desde então é de 83%.

Agora, na tentativa de retomada, a empresa promoveu mudanças de gestão, com a troca de executivos, adoção de novas estratégias, busca de melhor precificação dos produtos, concentração da operação em suas especialidades e mudança de seu posicionamento nos Estados Unidos.

O analista de investimentos da Daycoval Corretora, Gabriel Mollo, mostra-se otimista com a recuperação e já vislumbra que a ação da Alpargatas deve recuperar parte das perdas e atingir R$ 17 entre um e dois anos. Já em um horizonte de cinco anos, pode voltar ao nível de R$ 50, o que, segundo ele, configura bom ponto de entrada para a ação agora. O especialista destaca que o retorno da empresa ao básico é positivo, pois os chinelos Havaianas são um produto forte e a eficiência vem aumentando, trazendo ganhos operacionais e alocação de capital mais racional.

Além disso, afirma Mollo, a expectativa de queda dos juros no Brasil cresceu, fator que costuma impulsionar as varejistas. Essa exposição a variáveis macroeconômicas, porém, deixa o papel sujeito a riscos políticos, como a eleição de 2026. “É necessário analisar os fundamentos e, vendo que há espaço para o papel se recuperar, se concentrar em movimentos de longo prazo”, explica.

Mamede, da AZ Quest, por sua vez, minimiza a exposição da empresa aos juros e destaca o peso maior de temas microeconômicos. Para ele, a decisão de compra do papel representa apostar no turnaround promovido pela nova gestão.

O profissional observa que o consumo anual no Brasil é, em média, de um par de chinelos Havaianas, carro-chefe da companhia, por habitante; portanto, o avanço da empresa não virá de maior volume de vendas, mas de uma melhora da precificação do produto. E essa é uma lição de casa que já está sendo feita pela empresa, com diferenciação de preços por canais de distribuição, seja em lojas especializadas ou atacarejos. “Com essa estratégia, a empresa ganha na margem e crescimento via aumento de preço médio”, avalia.

Outro ponto positivo na estratégia da atual administração da empresa, segundo ele, diz respeito à busca de eficiência na operação internacional, que já tem apresentado melhor rentabilidade após cortes de custos.

A XP vê a ação sob outro prisma. A head de varejo da corretora, Danniela Eiger, não enxerga no horizonte o papel retornando aos R$ 60. Ela lembra que, quando o ativo estava nas máximas, o País exibia juros mais baixos e, por causa da pandemia, as pessoas compraram mais chinelos para ficar em casa. A nova administração, no entanto, está endereçando problemas como volume estagnado e execução no exterior. Eiger mantém recomendação neutra e preço-alvo de R$ 12 para o final de 2026.

Estratégias

Em seu último encontro com analistas e investidores, a Alpargatas reforçou que seu foco no Brasil é expandir canais de maior margem e avançar em categorias de baixa penetração, como masculino e infantil, destaca o Citi. O banco, que afirma estar impressionado com o trabalho da administração, reiterou recomendação de compra para as ações da empresa.

“Há muitos detalhes que ainda precisamos digerir, mas eles confirmaram a execução impressionante da empresa nessas frentes para aumentar sua eficiência, em nossa opinião”, diz o analista João Pedro Soares em relatório recente.

O UBS-BB destacou, também em relatório no início de setembro, que a estratégia de enxugamento no Brasil já rende frutos, com a margem Ebitda doméstica caminhando para superar níveis históricos, alcançando 22,4% em 2025, 22,7% em 2026 e 23,1% em 2027. A visão apoiou a melhora de recomendação de neutra para compra.

O banco citou ainda que a rentabilidade no exterior tem caminho mais claro após o acordo de distribuição nos Estados Unidos, assinado em junho. A expectativa é que a operação americana, com um prejuízo estimado em R$ 80 milhões em 2024, passe ao azul a partir de 2026, elevando a margem Ebitda internacional de 1,4% em 2025 para 6,8% em 2026 e 10,2% em 2027.

Balanço

Neste ano, o balanço financeiro da Alpargatas já apresentou melhoras. No primeiro trimestre, o lucro líquido consolidado foi de R$ 112,4 milhões, uma alta anual de 355,8%; no segundo trimestre, o valor chegou a R$ 87 milhões, alta anual de 271,1%.

“A boa aderência de produto e precificação, combinadas à melhoria operacional em custos e despesas das operações de Havaianas no Brasil e no exterior, foram fundamentais para este resultado”, disse a companhia no seu release de resultados em julho.

A operação fora do País também apresentou melhoras no segundo trimestre, revertendo o Ebitda de R$ 4 milhões negativos do segundo trimestre de 2024 para R$ 57,2 milhões no segundo trimestre de 2025.

Contato: vinicius.novais@estadao.com beth.moreira@estadao.com

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