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STF/Moraes: Quem sempre foi líder e ponta de lança de discurso populista foi Jair Bolsonaro

11 de setembro de 2025

Por Pepita Ortega, Lavínia Kaucz e Gabriel Hirabahasi

Brasília, 11/09/2025 – O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, usou um aparte do voto da ministra Carmen Lúcia para rebater o colega Luiz Fux e reforçar o voto pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por golpe de Estado. Moraes destacou que está “fartamente comprovado que liderança criminosa” foi exercida por Bolsonaro, que “bolou todo discurso e executou tudo”. “Quem foi o líder e ponta de lança do discurso populista que caracteriza novas ditaduras foi Bolsonaro”, apontou.

Ao afirmar que uma imagem vale mais que mil palavras, Moraes exibiu vídeo da fala de Bolsonaro no 7 de setembro de 2021 – ocasião em que o ex-presidente chamou o ministro de canalha. “Algum de nós afirmaria que isso é liberdade de expressão e não crime? Qual o recado que queremos deixar para o Judiciário Brasileiro? Qual o precedente que queremos deixar para o juiz que não tem a segurança que nós temos? Nós vamos placitar que todo prefeito possa ir no 7/9 jogar população contra Judiciário?”, bradou.

Moraes lembrou que após o 7 de setembro de 2021, ministros do STF passaram a sofrer 10 vezes mais ameaças, e ele 1000 vezes mais ameaças. Ponderou ainda que se, naquele dia, se curvasse e “covardemente”, aceitasse a ameaça, haveria outro relator. “Crime não é contra Alexandre de Moraes, é crime contra Estado democrático de direito”, disse.

O ministro também mostrou vídeos de invasão às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro, argumentando que o que começou em julho 2021 continuou até janeiro de 2023, com o mesmo discurso de intervenção militar criado pela organização criminosa. Ao exibir faixas carregadas pelos manifestantes, o ministro ironizou: “Aqui não está Mauro Cid presidente, Braga Netto presidente. Cartazes pediam intervenção militar em nome do líder”, apontou.

Em aparte concedido durante o voto da ministra Cármen Lúcia, Moraes disse que o 8 de janeiro não foi um “domingo no parque, passeio na Disney”. “Não foi combustão espontânea, não são baderneiros descoordenados que, ao som do flautista fizeram fila e destruição à sede dos Três Poderes”, destacou, ressaltando que o grupo constitui uma organização criminosa – uma alfinetada direta em Fux, que votou pela inexistência desse crime no âmbito da ação penal.

O ministro enfatizou que não é possível analisar os fatos isolados e chegou a citar a reunião de kids pretos em um salão de festas “fechado” da Asa Norte, bairro de Brasília – em nova referência a Fux, que citou a falta de privacidade em um pilotis (estrutura que permite a passagem de pessoas).

“A questão é o desencadeamento de tudo”, disse, destacando que o grupo utilizou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal para o intuito criminoso.

Neste momento, Cármen Lúcia fez uma intervenção, afirmando que não estão sendo julgadas as instituições, uma vez que pode haver desvios em todo lugar que há presença humana.

Moraes retomou a palavra para afirmar que a organização criminosa liderada por Bolsonaro tentou “simplesmente se apoderar do Estado, com o discurso de desnaturar a questão democrática”, deslegitimizando as urnas “com objetivos claros”, não alcançados. Mas fizeram atos executórios, ressaltou, no sentido de calar o Judiciário e se perpetuar no poder independentemente de eleições.

Novamente rebatendo Fux, Moraes afirmou que o grupo tinha organização permanente e com finalidade e, “por óbvio”, para atingir a finalidade, se dispôs à prática de crimes indeterminados. O ministro chegou a fazer um paralelo com cartéis de drogas, que enriquecem com a venda de drogas, mas praticam sequestros, roubos e outros crimes.

Ainda de acordo com o ministro, já foi reconhecido que a organização criminosa era “fortemente armada”, vez que há maioria para a condenação dos réus Braga Neto e Mauro Cid.
Contato: pepita.ortega@estadao.com; lavinia.kaucz@estadao.com; gabriel.hirabahasi@estadao.com

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