Releases
30/10/2017 15:34

A necessidade de inovação no setor público


(DINO - 30 out, 2017) - Com a proximidade das eleições crescem as críticas à administração pública, particularmente, originadas de candidatos que, via de regra, prometem adotar os procedimentos do setor privado no ambiente público. Essa atitude encontra ressonância no descontentamento dos cidadãos que os leva a avaliar os serviços públicos com critérios de mercado.Todos os setores da sociedade têm críticas à administração pública. Acusam-na de desperdício e incompetência, de estar voltada mais para a rotina dos procedimentos do que para a obtenção de resultados, de ser pouco transparente na gestão dos recursos, de morosidade entre outras reclamações. Essas críticas procedem. Não se pode negar que o setor público deva ser melhorado e que devem ser removidos os obstáculos administrativos que dificultam o acesso dos cidadãos aos serviços públicos, mas atribuir à burocracia todos os problemas da administração pública e convertê-la em bode expiatório para reduzir a presença do Estado é um grave equívoco. Aqueles que defendem a suposta maior eficácia do setor empresarial ou as novas abordagens do capitalismo filantrópico para solucionar os problemas sociais oferecem um engodo a cidadãos incautos.A pretensão de que somente o setor empresarial ou o terceiro setor seja capaz de inovar no campo social não tem qualquer fundamento, embora se deve reconhecer que as empresas têm muito o que colaborar com o setor público em termos de eficácia e orientação voltadas para obtenção de resultados. Por outro lado, também é preciso reconhecer que nas últimas décadas as empresas têm avançado em seu compromisso com a sociedade levando adiante programas de responsabilidade social. Do mesmo modo, as ONGs têm profundo conhecimento das necessidades das comunidades e sua forte vocação social lhes dá uma enorme vantagem no momento de ganhar confiança e mobilizar recursos. Esse ator social, em geral, preenche lacunas na ação dos governos, particularmente no que diz respeito a questões relacionadas às necessidades sociais básicas e aos direitos humanos. Tem como vantagem em relação ao setor público o fato de constituírem, em sua maioria, estruturas flexíveis e de baixo custo, o que lhes permite maior agilidade e uma permanente capacidade inovadora na ação.Ocorre que empresas e ONGs também têm seus problemas e limitações. As empresas têm como tendência priorizar o lucro em suas atividades, enxergam as pessoas como meio de consumo e não como cidadãos portadores de direitos. As ONGs, por sua vez, estão imersas em problemas que se assemelham aos do setor público no que diz respeito à eficácia dos procedimentos administrativos. Ambos os setores têm se mostrado incapazes, com algumas exceções, de trabalhar conjuntamente e compartilhar esforços. São poucos os exemplos de colaboração das empresas em programas sociais entre elas e em colaboração com as ONGs. Dada a complexidade dos problemas que emergem nas sociedades atuais é fundamental que haja maior colaboração entre os três setores: o setor público, o setor privado e o terceiro setor.A questão a ser enfrentada é a de que não se trata de pensar cada setor em seu próprio espaço isoladamente, mas de buscar abordagens e ferramentas que incentivem a colaboração entre os três no intuito de alcançar objetivos comuns. Este é um caminho que só pode ser cumprido pela administração pública porque somente ela é capaz de desenhar um mapa geral das necessidades sociais mais urgentes e de alavancar um esforço em grande escala. Para isso deverá deixar a execução direta de muitos programas sociais e orientar-se no desenvolvimento de mecanismos inovadores, focados na melhoria do diagnóstico dos problemas, a escolha dos melhores fornecedores, a colaboração entre os setores e a avaliação dos resultados.Trata-se de um longo percurso, pouco trilhado, mas um caminho cheio de possibilidades. O importante é não se desviar e ter claro que somente os mecanismos e processos que incentivem assumir riscos e que sejam capazes de incentivar o protagonismo das comunidades envolvidas serão capazes de impulsionar uma inovação social real. O setor público não deve deixar se abater pela crise econômica, pois segue contando com inúmeros servidores públicos talentosos, ferramentas legais e controle sobre os recursos financeiros. A crise deve ser vista como uma oportunidade para ativar e ensaiar novas abordagens na gestão pública e não demonizá-la como responsável pelos males que afetam nossa sociedade.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso