Política
02/10/2022 20:48

Lula e Bolsonaro travam disputa de rejeições no 2º turno entre antipetismo e antibolsonarismo


Por Iander Porcella

Brasília, 02/10/2022 - A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) trabalha com a máxima de que "o segundo turno é uma nova eleição". O primeiro objetivo do candidato foi cumprido: evitar uma derrota neste domingo, 2. Na segunda rodada da corrida eleitoral, o chefe do Executivo deve apostar no aumento da rejeição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva (PT), com o resgate do antipetismo. Lula, por sua vez, deve manter o foco em seu amplo arco de alianças para passar a mensagem de que é preciso derrotar Bolsonaro para salvar a democracia.

O "calcanhar de Aquiles" de Bolsonaro é a rejeição, que oscilou em torno de 50% nos últimos meses, a depender da pesquisa. O presidente enfrenta maior resistência entre as mulheres, os jovens, pessoas de baixa renda e moradores do Nordeste. O porcentual de eleitores que rejeitam Lula, por sua vez, é menor: em torno de 40% nos principais levantamentos. Por isso, o petista entra no segundo turno com vantagem. Mas aliados do candidato à reeleição acreditam que é possível aumentar a rejeição de Lula e equilibrar a disputa.

Aliados de Bolsonaro consideraram positivo o resultado da última pesquisa Ipec. O levantamento, divulgado neste sábado, 1º, mostrou uma redução de quatro pontos na rejeição do presidente, de 51% para 46%. A do petista, por sua vez, subiu de 35% para 38%. Na Datafolha, contudo, o porcentual dos que dizem que não votam de jeito nenhum no chefe do Executivo permaneceu em 52%, enquanto a de Lula oscilou de 39% para 40%.

Para aumentar a rejeição de Lula, a campanha bolsonarista aposta no antipetismo. Ao longo do primeiro turno, o QG da reeleição usou casos de corrupção nos governos do PT para atacar o petista no horário eleitoral gratuito na TV. Em seus discursos, Bolsonaro também passou a atrelar Lula às ditaduras da Venezuela e da Nicarágua e à crise econômica na Argentina para dizer que um novo governo do PT. Essa estratégia deve se manter no segundo turno.

Covid-19
O PT, por sua vez, apostou em manter a rejeição de Bolsonaro alta ao relembrar a postura do presidente na pandemia de covid-19. Ao longo da crise sanitária, o chefe do Executivo minimizou a doença, atrasou a compra de vacinas e chegou a dizer que não era “coveiro” ao ser questionado sobre as mortes. Recentemente, o presidente afirmou que “perdeu a linha” e “deu uma aloprada” na pandemia. Além disso, Lula também usou o caráter temporário do valor de R$ 600 do Auxílio Brasil para dizer que as medidas econômicas tomadas pelo presidente foram eleitoreiras.

No primeiro turno, Lula conseguiu reunir em torno de si um arco de alianças que vai do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (União Brasil), idealizador do teto de gastos, à ex-presidenciável Luciana Genro (PSOL). O PT também foi apoiado por diversos economistas que participaram da elaboração do Plano Real e discordam das visões econômicas do partido, como André Lara Resende. A campanha petista aposta nessa “frente ampla” para passar a ideia de que os democratas estão unidos para derrotar Bolsonaro.

Lula e Bolsonaro devem, portanto, travar uma batalha no segundo turno entre “antipetismo” e “antibolsonarismo”, principal fator da polarização que marcou a eleição deste ano e não deixou espaço para outros candidatos. "É um cenário consolidado, porque é relativamente fácil de o eleitor avaliar. É um governo muito intenso nas suas declarações, nos seus gestos e nas suas atitudes, e isso ajuda a separar de maneira muito significativa quem gosta e quem não gosta do governo", afirma o cientista político Humberto Dantas.

Em 2018, quando Bolsonaro foi eleito, a eleição foi marcada pelo antipetismo, na esteira da Operação Lava Jato e do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Naquele ano, Lula foi preso e teve sua candidatura barrada pela Justiça Eleitoral. O candidato do PT que o substituiu, o ex-prefeito Fernando Haddad, assumiu a candidatura apenas no final de agosto.

O ex-presidente ficou 580 dias preso na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, mas foi solto em novembro de 2019, dia após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que um condenado só pode ser preso após o trânsito em julgado, ou seja, o fim dos recursos. Lula havia sido preso após a condenação em segunda instância. Posteriormente, o Supremo anulou as condenações do petista na Lava Jato por erros processuais.

Contato: iander.porcella@estadao.com
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