Lisboa, 05/04/2018 - Nelita Leclery, de 75 anos, decidiu fazer hoje um protesto solitário contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde participa de um seminário da área. Ela empunhava um cartaz com os braços para cima no corredor da faculdade com a frase: "Ministro Gilmar Mendes é um traidor do povo brasileiro. Não deveria ser recebido pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa".
Nelita se apresentou apenas como uma dona de casa brasileira, que decidiu se mudar para Portugal há um ano e meio, depois de morar anos no Leblon e, depois, nos últimos tempos, em Copacabana. Ela, no entanto, foi casada com o poeta Vinícius de Moraes, quando ainda não tinha 20 anos, em 1963, e ainda usava o sobrenome Abreu Rocha. O casamento com o poeta durou cinco anos e hoje ela adota o sobrenome do marido francês Gerard Leclery.
No Rio de Janeiro, era uma socialite que frequentava almoços com intelectuais. A jornalistas, ela contou que decidiu se manifestar por ser a favor da Justiça para todo o mundo, e não apenas para os poderosos. "O ministro Gilmar Mendes está sempre defendendo os poderosos, deliberando e dando habeas corpus, nada a ver com o Lula. No geral, todo mundo que tem dinheiro ou poder, ele libera", argumentou.
Nelita decidiu se mudar para Lisboa por ter considerado que o Rio se tornou uma cidade "muito violenta para gente velha". "Não tinha liberdade, era difícil. Vivo aqui em Portugal, vou ao cinema e volto sozinha para casa à noite. O dia-a-dia no Brasil ficou muito triste", comparou. Ela relatou que Gilmar Mendes não viu seu protesto, mas que o reitor da universidade pediu a ela que fosse embora porque estava sendo inconveniente. "Eu disse que não! Numa Faculdade de Direito, e eu não posso vir normalmente com cartaz....?". Ela também contou que vários estudantes foram até ela dar apoio e dizer que era uma vergonha um reitor pedir para que ela se retirasse. (Célia Froufe, enviada especial - celia.froufe@estadao.com)
