Política
18/10/2020 22:28

FGV/Carvalho Teixeira: A exemplo de Lula no mensalão, Bolsonaro vive momento de 'efeito teflon'


Por Elizabeth Lopes

São Paulo, 16/10/2020 - Jair Bolsonaro vive um momento de "efeito teflon". A despeito de todos os acontecimentos que poderiam afetar negativamente sua gestão e sua popularidade, como queimadas no Pantanal e Amazônia, crise econômica, desemprego crescente, elevado número de mortes provocado pela covid-19, e o recente escândalo do dinheiro na cueca do agora ex-vice líder do governo no Senado, Chico Rodrigues, nada cola na imagem do presidente. A avaliação é do cientista político e professor da FGV Marco Antônio Carvalho Teixeira, em entrevista ao Broadcast Político.

A expressão "efeito teflon" foi cunhada por Carvalho Teixeira em 2005, no auge do escândalo do Mensalão. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava no epicentro do noticiário, com popularidade em queda, parte dos adversários defendendo o impeachment e outra parte defendendo que ele "sangrasse" até sair da cena política. O que se viu, contudo, foi justamente o oposto. Com programas como o Bolsa Família e seu discurso popular que chegava às massas, o petista não apenas recuperou o apoio popular e foi reeleito no ano seguinte, como o escândalo que atingiu muitas lideranças de seu partido não colou em sua imagem. Um "efeito teflon", o famoso revestimento antiaderente de panelas e frigideiras.

Como Lula, explica o cientista político, Bolsonaro também colhe os frutos do auxílio emergencial no aumento de sua popularidade, auferido pelas recentes pesquisas de opinião. "Mas não se pode creditar tudo a este auxílio", destaca Carvalho Teixeira, emendando que se soma a isso a perda do senso crítico e de solidariedade de parte da sociedade. "A sociedade não reage mais, parece que perdeu a capacidade de solidariedade social aos mais vulneráveis e de se indignar, não há cobranças, até mesmo os candidatos (de oposição) nessa campanha não falam com propriedade sobre isso. Um cenário como este poupa o governante e lhe dá o 'efeito teflon', onde todos os problemas parecem ser repelidos pra longe dele."

Carvalho Teixeira cita também a retórica popular de Bolsonaro, na sua avaliação mais simplista do que a de Lula, mas eficiente para corroborar o momento "teflon" que o mandatário atravessa. Para o professor da FGV, é preciso aguardar o desenrolar dos acontecimentos para ver se tal efeito irá perdurar até a corrida presidencial de 2022 ou não. Na sua avaliação, o aumento dos escândalos de corrupção no entorno do presidente pode favorecer o crescimento do nome do ex-ministro Sérgio Moro como um dos potenciais concorrentes à cadeira presidencial nas próximas eleições gerais.

"Outros fatores, como o descontentamento dos bolsonaristas raiz com a aproximação com o Centrão e o fim do auxílio emergencial, devem ser analisados também no decorrer do tempo pra ver a duração do 'efeito teflon'", complementa.

Contato: elizabeth.lopes@estadao.com
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