Economia & Mercados
14/09/2020 15:00

Exclusivo: Empresas gastam 4,9% do valor do IPO na abertura de capital; 80% são em comissões


Por Fernanda Guimarães

São Paulo, 14/09/2020 - Se uma empresa for realizar uma oferta inicial de ações (IPO, na siga em inglês) no valor total de R$ 800 milhões, cerca de R$ 39,2 milhões serão destinados a despesas provenientes da operação. Desse montante, aproximadamente 80% serão custos relativos às comissões aos bancos de investimento, que são contratados para estruturar a abertura de capital, incluindo todo o trajeto de acesso ao bolso dos investidores. As demais despesas são relativas a advogados, auditoria, taxas, publicidade legal e outros custos advindos da adoção de regras de governança corporativa, segundo estudo da Deloitte, enviado com exclusividade ao Broadcast.

O estudo teve como base dados públicos disponíveis nos prospectos definitivos de ofertas públicas realizadas no Brasil no intervalo de janeiro de 2004 a maio de 2020, tanto de IPOs quanto as ofertas subsequentes, os follow-ons. A conclusão é de que a média do porcentual dos custos com ofertas públicas em relação ao valor distribuído é de 4,9% para IPOs, de 3,4% para follow-ons e de 3,5% para follow-ons com esforços restritos de distribuição, aqueles sem necessidade de registro de oferta e que são feitos mais rapidamente.

"Os custos para se abrir capital no Brasil são mais do que competitivos em relação a outros países. É um mito que existe de que abrir capital é muito caro. O IPO tem custos variáveis e custos fixos e o principal ponto é de que o maior custo é atrelado ao sucesso da captação", afirma o sócio de Global Capital Markets Group da Deloitte, Carlos Zanotta, ao Broadcast.

O levantamento mostrou, ainda, que os custos da operação são menores nas ofertas de maior porte. No período analisado, o custo médio com ofertas públicas foi de 6,4% no caso de IPOs de empresas que captaram até R$ 200 milhões, 5,4% para companhias que levantaram entre R$ 201 milhões e R$ 500 milhões, e de 4,7% entre R$ 501 milhões e R$ 1 bilhão. Já para aquelas que captaram entre R$ 1 bilhão e R$ 10 bilhões, o custo médio foi de 4,2%.

Segundo Zanotta, os custos poderão, no futuro, cair, caso cresça a competição entre os intermediários da oferta, ou seja, com mais bancos e assessorias financeiras coordenando as operações. O número de escritórios de advocacia e de auditorias atuando nos IPOs, frisou, já cresceu diante do mercado mais aquecido.

Neste momento são mais de 50 empresas já com pedido de registro realizado junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para abrirem capital, grande parte com planos para um IPO neste ou no próximo mês. "Com a manutenção de juros baixos e o processo de migração de investimentos para o mercado de capitais e para a Bolsa, se cria um ecossistema favorável para novas ofertas. Com esse cenário, a expectativa é que veremos cada vez mais companhias abrindo capital na Bolsa", afirma o diretor de Relacionamento com Empresas e gestoras da B3, Rogério Santana.

O custo médio com as comissões dos bancos de investimento foi, na média, de 3,8% sobre o valor distribuído nos IPOs, 2,7% nos processos de follow-on e de 2,5% nas realizadas com esforços restritos. Esse custo pode variar e cresce quando existe, por exemplo, a garantia firme de colocação, que é quando os coordenadores se comprometem a adquirir todo o lote de títulos mobiliários a ser ofertado na transação.

Apesar de a pandemia ter transformado o modo de se fazer uma oferta de ações, já que neste período as tradicionais reuniões presenciais dos roadshows foram substituídas pelas virtuais, o custo da oferta não deve sofrer grande mudança, comenta Zanotta, da Deloitte. O atual estudo não capturou grande parte das ofertas realizadas na pandemia, mas o executivo aponta que não deve haver muita diferença no custo porque os roadshows representam pouco na despesa total.

"Mas de qualquer forma, as reuniões virtuais ofereceram maior dinamismo e eficiência ao processo, eliminando tempo de locomoção e movimentação entre países", afirma Santana, da B3.

Contato: fernanda.guimaraes@estadao.com
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