Economia & Mercados
28/11/2022 18:36

Exclusivo: BV estreia em ativos digitais e ‘tokeniza’ recebíveis em parceria com a startup Liqi


Por Alexandre Rocha, especial para o Broadcast

São Paulo, 24/11/2022 - O banco BV fechou uma parceria com a startup Liqi para a tokenização de ativos financeiros. A ideia é transformar recebíveis em tokens, ou seja, criptoativos que representam frações dos títulos de crédito originais. Com a divisão, o objetivo é tornar investimento mais acessível para pessoas físicas, incluindo pequenos investidores.

O BV já realizou um teste piloto. A Liqi tokenizou recebível de uma empresa cliente do banco, e as frações digitais foram disponibilizadas aos funcionários da própria instituição, com um investimento mínimo de R$ 25,00. O valor total do título era de R$ 88 mil.

De acordo com Rogério Monori, diretor executivo de Corporate & Investment Banking e Tesouraria do BV, a tokenização permite oferecer investimentos em ativos com prazos curtos e taxas vantajosas. No piloto realizado, o título tem vencimento em dezembro e taxa superior ao CDI+1%.

“O investidor pode ter acesso a um produto que não existe no mercado, só para os bancos”, disse Monori. “E o retorno é maior do que ele teria ao investir numa emissão no mercado de capitais. A falta de liquidez [do título] dá certo prêmio”, acrescentou.

É comum empresas anteciparem recebíveis nos bancos. Com a tokenização, o BV espera diversificar suas fontes de recursos. A avaliação do risco do devedor vem da análise de crédito feita pelo próprio banco.

Eficiência

Segundo Daniel Coquieri, confundador e CEO da Liqi, o token elimina a necessidade de intermediação do ativo e a tecnologia de blockchain utilizada dá eficiência às transações, o que reduz os custos operacionais. “Sobra mais espaço para spread”, observou.

O token é um conjunto de regras gravado numa blockchain, a rede descentralizada que funciona como sistema de registro, e corresponde à representação digital de um ativo real. Ficam registradas nesta fração informações como o valor, taxa de desconto e quem é o cedente. Estes dados são imutáveis. No projeto piloto, os funcionários receberam ainda um termo de cessão para dar validade jurídica ao negócio.

Para realizar a transação, os interessados precisaram abrir uma conta na plataforma de negociação de criptoativos da Liqi e fazer a compra via PIX. Lá, o usuário dispõe de uma carteira, onde o token fica guardado. Mais de 50 colaboradores do banco participaram.

Coquieri explica que os dados ficam gravados no token e não na plataforma de negociação, o que em tese permite a criação de um mercado secundário. A confirmação de uma operação de venda entre investidores ocorre com a saída do ativo digital de uma carteira para outra.

Regulação

O BV e a Liqi pretendem realizar uma segunda rodada de teste com funcionários, mas com volume financeiro maior. Em breve, a intenção é oferecer o produto ao mercado, após aprovação dos órgãos de controle. Os testes, segundo Monori, servem também para “dar conforto” aos reguladores.

De acordo com Coquieri, a Liqi fez uma consulta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre o tema e anexou pareceres jurídicos dizendo que as transações com tokens não configuram operações com valores mobiliários, mas de crédito. Não há ainda uma regulação específica para criptoativos.

Com as aprovações oficiais, o BV pretende dar escala a operações desse gênero, com recebíveis de empresas de atacado e varejo. “Há muito potencial”, declarou Monori.

Instituições financeiras tradicionais têm buscado parcerias com startups para entrar no mundo dos criptoativos. A própria Liqi tem o Itaú como parceiro por meio do fundo Kinea Ventures. A startup foi fundada em abril de 2021. Segundo Coquieri, a empresa tokenizou mais de R$ 40 milhões em ativos nos últimos quatro meses.
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