Economia & Mercados
13/01/2022 10:27

Especial: Inflação do Brasil em 2021 deve ser a 3ª mais alta de principais economias do mundo


Por Thaís Barcellos

Brasília, 12/01/2022 - A inflação brasileira em 2021, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve ser a terceira mais alta entre as principais economias do mundo, ficando atrás apenas de Argentina e Turquia, segundo levantamento da economista-chefe Andrea Damico, da Armor Capital, com os dados da plataforma CEIC Data.

O IPCA ficou em dois dígitos em 2021, com alta de 10,06%, o maior aumento desde 2015 (10,67%), e superou em muito o teto da meta de inflação (5,25%) - o centro era de 3,75%. O desvio em relação à banda superior do objetivo a ser perseguido pelo Banco Central foi o maior em quase 20 anos, uma vez que, em 2002, o "estouro" foi de 7,03 pontos porcentuais.

Alguns países ainda não divulgaram o dado de dezembro e o fechado de 2021. Neles, o levantamento considerou a taxa em 12 meses até novembro do ano passado. É o caso da Argentina, onde a inflação ao consumidor já acumulava 51,2% em 12 meses até novembro.

Na Turquia, o índice saltou 36,08% de janeiro a dezembro de 2021, um recorde em 20 anos, em meio à intervenção do presidente Recep Tayyip Erdogan no Banco Central do país, com pressão para reduzir as taxas de juros.

Nesta quarta-feira (12), também foram divulgados os dados de inflação de 2021 das maiores economias do mundo: China e Estados Unidos. O índice chinês acumulou 1,50% no ano passado. Já a economia americana teve a maior alta de preços desde junho de 1982 (7,0%), também ultrapassando a meta de 2,0%.


 Índice de Inflação ao Consumidor em 2021 
 Países   Taxa (%) 
Argentina 51,18*
Turquia 36,08
Brasil 10,06
Ucrânia 10,00
Polônia 8,60
Rússia 8,39
Uruguai 7,96
Armênia 7,70
México 7,36
Bulgária 7,34*
Chile 7,17
Estados Unidos 7,00
Espanha 6,70
República Checa 6,60
Peru 6,43
Egito 5,90
Bélgica 5,71
Países Baixos 5,71
Colômbia 5,62
Índia 5,59
África do Sul 5,47*
Alemanha 5,31**
Noruega 5,31
Reino Unido 5,10*
Zona do Euro 5,00**
Croácia 4,86*
Canadá 4,72*
Áustria 4,23*
Itália 3,90
Cingapura 3,85*
Coréia do Sul 3,70
Filipinas 3,65
Suécia 3,27*
França 2,78
Portugal 2,74
Taiwan 2,62
Israel 2,40*
Tailândia 2,17
Indonésia 1,87
Hong Kong 1,80*
Suíça 1,53
China 1,50
Japão 0,60*
Fonte: Armor Capital/CEIC Data
* 12 meses até novembro
**Dado preliminar


Na carta endereçada ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para explicar as razões para o descumprimento do mandato principal do BC, o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, frisou o impacto da pandemia de covid-19 e fez questão de destacar que a aceleração inflacionária para limites superiores à meta foi um fenômeno global no ano passado.

Responsável pelo levantamento, Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, reconhece o caráter global da alta de preços, com o aumento de commodities e o choque de custos no atacado, em parte explicado pelos problemas na cadeia de suprimentos, se espalhando para os preços no varejo.

Mas argumenta que os sinais de problema vieram antes no Brasil. Enquanto os preços no atacado começaram a subir no mundo em 2021, no País, o salto já era claro no segundo semestre de 2020, turbinado pela combinação atípica de alta do dólar e de commodities.

Nos EUA, Damico afirma que a inflação de bens é um grande destaque de 2021, impulsionada tanto pelo aumento de commodities e fretes e falta de insumos, quanto também pela demanda forte por esses produtos industriais.

Campos Neto vem destacando em suas apresentações que a procura dos consumidores americanos por bens ainda está 10% acima da tendência pré-pandemia. A oferta, por sua vez, nem sempre consegue acompanhar no mesmo ritmo, até porque a situação pandêmica provoca paralisações na produção. Além disso, há aumento de preços de energia, incluindo de petróleo, mais demandada para produção de bens.

Isso tudo impacta o Brasil, o que o Campos Neto chamou de "inflação importada", amplificada aqui pela taxa de câmbio, que voltou a se depreciar na segunda parte de 2021 em meio às discussões fiscais que alteraram o teto de gastos. Na carta aberta, Campos Neto afirmou que a inflação importada explica 69% do desvio de 6,31 ponto porcentual do resultado do IPCA em relação ao centro da meta de 3,75%, considerando a alta das commodities e do dólar.

Damico avalia, porém, que o BC demorou a agir. "Uma parte da inflação, ligada a commodities e energia elétrica não teve culpa do BC, mas poderia ter combatido a outra parte, se não tivesse insistido tanto na avaliação de choque temporário e que a tendência das commodities era para baixo. Essa insistência permitiu que os efeitos secundários aparecessem [a alta se disseminasse para outros preços] e as expectativas de inflação ficassem desancoradas [se distanciassem das metas]."

A demora do BC a agir, lembra Damico, pode, inclusive, levar a inflação a "fugir" da meta mais uma vez em 2022. A economista estima alta de 5,6% para o IPCA este ano, acima do limite superior de tolerância, de 5,0%. O centro da meta é de 3,50%.

Em sua avaliação, após uma alta tão forte em 2021, é esperado maior aumento de preços de serviços, que costumam ser reajustados com a inflação passada. Além disso, Damico espera apenas moderação nos preços de bens industriais e de alimentos, que não estão livres de problemas nas safras por causa do clima seco em regiões produtoras.

Segundo a economista, a única boa notícia no radar é a possibilidade de uma bandeira tarifária na energia elétrica mais favorável, caso a situação hídrica do País realmente melhore no fim do período úmido.

Contato: thais.barcellos@estadao.com
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