Economia & Mercados
07/03/2022 09:08

Exclusivo: Brasil não deve sair ileso, mas pode compensar efeito da guerra no PIB, diz Febraban


Por Aline Bronzati

São Paulo, 04/03/2022 - O Brasil não deve passar imune aos impactos da invasão da Rússia à Ucrânia, com efeitos preocupantes, principalmente, na inflação, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Enquanto do lado dos preços a pressão sobre as commodities, matérias primas e insumos em geral levantou um alerta, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), um impacto negativo pode ser compensado, conforme análise da entidade, obtida com exclusividade pelo Broadcast, pelo crescimento das exportações e atração de capital externo.

"Diante desse novo choque, que adiciona incertezas no cenário econômico mundial, o quadro indica maior freio da atividade global, e é difícil imaginar que o Brasil saia ileso nesse contexto, mas temos potencial para mitigar os efeitos", diz o presidente da Febraban, Isaac Sidney, em entrevista ao Broadcast.

Segundo ele, o desempenho da economia brasileira no ano passado, revelado hoje, veio em linha com a expectativa da Federação, com um quarto trimestre "até um pouco melhor que o esperado", como reflexo da retomada da mobilidade urbana e o avanço da vacinação. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 4,6% ante 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "A expansão mais que compensou a retração de 2020, colocando o PIB de 2021 cerca de 0,5% acima do nível de 2019", avalia o presidente da Febraban.

Do lado comercial, observa ele, a economia brasileira tem baixa ligação com Rússia, e especialmente com a Ucrânia. Na exportação, somados os países representam só 0,7%. Já do lado da importação, não chega a 3%.

No entanto, sob a ótica financeira, os impactos da guerra, afirma Sidney, "são pouco claros" e vão depender de alguns fatores. Ele cita, principalmente, a aversão ao risco, que por ora tem atraído recurso externo para o Brasil, e a possibilidade de redirecionamento de fluxos de capital para o Brasil, substituindo a posição dos países envolvidos no conflito.

"Caso a aversão ao risco se reduza e efeitos positivos se sobressaiam na atração de fluxo de capitais, o câmbio pode até apreciar, mitigando parte da inflação externa no país", diz.

No entanto, na sua visão, "parece improvável" que o real consiga se valorizar o suficiente para compensar integralmente o aumento de preços das commodities no mercado internacional. Nesse sentido, a inflação tende a seguir pressionada, enfatiza, o que deve dificultar "muito" o trabalho do Banco Central brasileiro. "Se já era improvável o Banco Central entregar a inflação no intervalo da meta (de 3,5%), agora ficou muito mais desafiador", avalia Sidney.

A questão crucial, diz o presidente da Febraban, é se as expectativas e projeções para 2023 vão subir mais. Na pesquisa Focus do BC, a projeção para o IPCA já está em 3,51%, acima do centro da meta (3,25%). "Este parece ser o ponto chave na condução da política monetária pelo BC, dado que a partir do segundo trimestre o horizonte relevante da política monetária estará todo voltado para 2023", afirma Sidney.

Crédito

No que tange ao crédito, ele não antevê impactos relevantes por conta da guerra na Ucrânia e que justifiquem mudanças nas projeções da Federação. A Febraban espera que os empréstimos cresçam acima dos 9%, com recursos livres para empresas e famílias.

Sobre os efeitos da guerra no mercado de capitais, que já teria um ano desafiador por conta das eleições presidenciais no Brasil, os bancos têm capacidade de absorver a demanda, segundo Sidney. "O setor bancário brasileiro está preparado para absorver a demandas das empresas por linhas, no caso de eventual piora no mercado de capitais", reforça ele.

Mundo

A nível global, o conflito entre Rússia e Ucrânia, deve causar, segundo a Febraban, intenso choque negativo de oferta, com destaque para commodities energéticas e agrícolas, diante do peso dos países envolvidos no fornecimento de petróleo, gás natural e produtos agrícolas/fertilizantes. Os preços já acumulam alta de dois dígitos até março, e a inflação deve seguir pressionada a nível global, conforme Sidney, exigindo elevações das taxas de juros.

"Será interessante ver a reação dos principais BCs dos países desenvolvidos. O perigo aqui é que os BCs (em especial, o Fed, o BC americano) demorem muito para retirar estímulos, e percam controle das expectativas, necessitando de um ajuste do juro muito forte à frente, parecido com o que ocorreu na década de 1970/80", avalia o presidente da Febraban. "Afinal, ao contrário de situações anteriores, desta vez a crise vem num quadro de nível de preços já pressionado globalmente", conclui.

Contato: aline.bronzati@estadao.com
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