Economia & Mercados
15/03/2019 20:03

Retomada lenta e gradual da atividade deve atrasar melhora considerável do emprego


São Paulo, 11/03/2019 - O desempenho do mercado de trabalho tem decepcionado economistas e, ao que tudo indica, não deve ter melhora relevante até o fim do próximo ano. Nos últimos meses, a taxa de desemprego com ajuste sazonal até subiu e a criação de vagas de emprego perdeu força, em linha com a frustração com a atividade no fim de 2018, cujo Produto Interno Bruto (PIB) subiu apenas 1,1%, a mesma variação de 2017.

Enquanto em janeiro de 2018 o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou a geração de 77.822 vagas formais, no mesmo mês de 2019 houve a criação de apenas 34.313. A taxa de desemprego na Pnad Contínua, por sua vez, saiu de 11,6% no trimestre até dezembro e avançou a 12% no trimestre até janeiro deste ano.

Como o emprego reage com certa defasagem aos movimentos da atividade, os especialistas ouvidos pelo Broadcast afirmam que a falta de reação do mercado de trabalho reflete a trajetória mais lenta que a esperada da economia, tanto que as expectativas para o PIB seguem cedendo e alguns economistas já apontam que deve ficar na faixa de 1,5% a 2,0% em 2019.

A aprovação da reforma da Previdência continua sendo determinante para dar pujança ao crescimento, à medida que tende a atrair novos investimentos para o País e gerar confiança no empresariado para contratar.

Economistas reconhecem que o início do ano normalmente tem número alto de demissões. Mas segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), a taxa de desemprego dessazonalizada subiu de 12,14% no trimestre até novembro de 2018 para 12,24% no trimestre finalizado em dezembro passado e, depois, para 12,30% no trimestre encerrado em janeiro deste ano.

O pesquisador do Ibre/FGV Daniel Duque afirma que já esperava uma certa estabilização no nível de desocupação entre 2018 e 2019. Para a taxa média do ano, o economista prevê 12,1%, contra 12,3% em 2018. Já para o Caged deste ano, a estimativa é de geração de 735.671 vagas formais, depois de 2018 fechar com 529.554 postos.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, não descarta a possibilidade de diminuir a projeção de criação de cerca de 800 mil postos formais de 2019. "O crescimento econômico não será uma maravilha. Haverá alguma recuperação do mercado de trabalho, mas existe a possibilidade de revisão na projeção de 800 mil para o Caged deste ano", admite.

Neste cenário de emprego fraco, Vale não imagina o nível de desemprego cedendo logo para a marca de um dígito. "Se a taxa continuar caindo lentamente, não chegará a um dígito tão cedo. Se tudo for bem encaminhado [reforma da Previdência], talvez em 2021", diz.

Na mesma linha, o economista Thiago Xavier, da Tendências Consultoria Integrada, que aguarda Caged em torno de 700 mil empregos formais em 2019, reconhece que o ritmo de geração de vagas tem diminuído recentemente. Ele cita a redução no ritmo de crescimento da população ocupada, que passou de 1,5%, no confronto interanual, no trimestre encerrado em setembro para 0,9% na mesma métrica em janeiro.

Mas Xavier diz que esse comportamento já era esperado diante da perspectiva de que a atividade econômica não iria ganhar fôlego no fim de 2018. "Já tínhamos essa leitura de que o ano não iria terminar com a aceleração da economia, nem 2019 iria começar com a atividade ganhando fôlego", sustenta. Para a taxa de desemprego média deste ano, o economista estima 11,9%.

Apesar de ponderar que normalmente o número de demissões sobe no início do ano, a economista Natalia Cotarelli, do Banco ABC Brasil, reconhece que a recuperação está mais lenta que a esperada e que a melhora que observada se deve mais à criação de postos informais. "É um reflexo do PIB mais fraco que o estimado, apesar da defasagem de transferência do comportamento do PIB para o emprego", diz.

Duque, do Ibre/FGV, considera que a discreta melhora observada até aqui no mercado de trabalho não foi conduzida pelo crescimento econômico, mas por um esforço das famílias em procurar alternativas para complementar a renda, diante do alto desemprego. Por isso, destaca, houve crescimento preponderante dos empregos por conta própria no período.



O trabalhador por conta própria está em franca expansão desde o trimestre encerrado em outubro de 2016, quando somava 21,747 milhões de pessoas. Na última leitura da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua Mensal, 23,901 milhões de trabalhadores estavam nessa posição.

O economista do Ibre/FGV afirma que esses trabalhos normalmente são classificados como subocupação, porque dificilmente alcançam a dedicação de 40 horas semanais. Por isso, diz, quando se observa a taxa de desemprego ampliada (que capta também os subocupados e desalentados), há estabilidade em um patamar alto (24%) desde a metade de 2017, enquanto a taxa de desemprego caiu do pico 13,7% no primeiro trimestre daquele ano para 12% nos três meses encerrados em janeiro de 2019. "O desemprego melhorou, mas não foi uma melhora da economia. Foi um movimento das famílias de procurar empregos com menos horas ou de ficar desalentadas."

Mas o pesquisador do Ibre conclui que essa recuperação pela subocupação tem um "teto" e que, portanto, o País precisa, agora, de um crescimento econômico mais vigoroso para vencer o desemprego, algo que não deve ocorrer este ano. O Ibre espera que o PIB cresça 2,1% em 2019, mas o economista reconhece que há um viés de baixa na projeção.

Mesmo que ocorra a aprovação da reforma em 2019, Natalia acredita que o efeito só será perceptível nas estimativas de crescimento de 2020. Em contrapartida, se a reforma da Previdência não for aprovada, as projeções para o PIB deste ano podem ficar ainda mais baixas, podendo prejudicar o dado de 2020. "Dada a situação - o PIB está com jeito de que crescerá entre 1,5% e 2,0%, e não entre 2,0% e 2,5% -, se não resolver o fiscal, pode ter até queda do PIB no ano seguinte", afirma.

Xavier, da Tendências, estima que o PIB só deve ganhar força no segundo semestre deste ano, terminando 2019 em 2%. "O governo precisa mostrar uma agenda de reformas, de concessões, de privatização", diz, sobre as medidas concretas que precisam ser feitas para impulsionar o PIB. (Thaís Barcellos e Maria Regina Silva - thais.barcellos@estadao.com; maria.regina@estadao.com)
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