Economia & Mercados
23/02/2018 15:41

Após rever parceria com BB, espanhola Mapfre mira oportunidades de expansão no Brasil


São Paulo, 21/02/2018 - A seguradora espanhola Mapfre já está em busca de oportunidades de expansão no Brasil, preparando o terreno para quando concretizar o novo acordo operacional com o Banco do Brasil. O objetivo da companhia, conformes fontes próximas ao grupo ouvidas pelo Broadcast, é resgatar sua estrutura anterior à sociedade e, como um player independente, obter sinergias e ampliar o volume de negócios de outras áreas como a sua gestora de recursos, a Mapfre Investimentos, e com o braço de resseguros, a Mapfre Re.

A bênção da matriz para o projeto de expansão no Brasil já foi dada, segundo fontes, mas nenhum novo acordo foi engatilhado, uma vez que é preciso concluir a renegociação da sociedade com o BB. Em conversa com jornalistas essa semana, o presidente da BB Seguridade, holding que concentra os negócios de seguros do banco público, José Mauricio Coelho, reafirmou que a expectativa é de que um acordo vinculante com a Mapfre ocorra em até 90 dias, embora não haja um prazo definido.

Depois de um ano de negociações, Mapfre e BB chegaram em um consenso para rever a sociedade, iniciada em 2011. Mais enxuto, o novo acordo, que segue a duração do antigo - isto é, vai, no mínimo, até 2031, prevê atuação em conjunto apenas nas áreas de seguro rural, vida e habitacional na rede de agências do banco e ainda em canais massificados (affinity). Os ramos de seguro de automóvel e grandes riscos, que não vinham performando muito bem na parceria, serão recomprados pela Mapfre. E os canais que não são as agências, mais precisamente a venda via corretores de seguros, também retornam.

Na prática, ao voltar à sua estrutura inicial, a seguradora espanhola fica livre para negociar acordos com outros parceiros e expandir operações que, até então, estavam travadas pelo casamento com o banco público. Um exemplo é a operação de saúde, lançada pela Mapfre há mais de dois anos, mas que até hoje não decolou. Uma parceria com foco em um produto digital está sendo costurada com a administradora de planos Qualicorp, de acordo com fontes, e deve ser anunciada em breve.

Como a parceria com o BB ficará concentrada no canal bancário, a Mapfre deve ainda, conforme fontes, reforçar outras áreas internas diante do 'relacionamento aberto' com o banco. Sua gestora de recursos, por exemplo, deve abranger um maior volume de ativos que, até então, eram administrados de forma compartilhada. Também a resseguradora do grupo, que atua como player local, poderá receber mais negócios que eram divididos com o concorrente IRB Brasil Re por conta da participação da BB Seguridade na companhia.

Recompra
A espanhola ainda estaria, segundo fontes, otimista em relação à postura do BB no novo acordo. Vale lembrar que a revisão da sociedade foi provocada pelo próprio banco que, na gestão de Paulo Caffarelli, iniciou uma varredura nas parcerias e atividades da instituição em busca de melhores retornos. Na prática, o BB buscava ainda rentabilizar melhor o seu balcão, assim como a Caixa está fazendo neste momento com a sócia francesa CNP Assurances. Como o novo acordo estaria alinhado à vontade antiga do BB, a Mapfre espera que o foco do banco no negócio aumente e, com isso, gere melhores resultados à sociedade resultante.

Ao longo dos 90 dias em que o acordo vinculante deve ser desenhado, alguns detalhes ainda serão definidos, bem como as comissões pagas ao braço de distribuição do banco, a BB Corretora - que devem ser maiores -, e também as estruturas de pessoal e físicas.

Nos ramos em que seguirá carreira solo, a expectativa da Mapfre, detalham fontes, está ancorada numa recuperação futura que deve vir depois de ajustes operacionais em relação a risco e preço. Caso esse cenário se confirme, o grupo espanhol poderá ainda recuperar o novo investimento feito no País, uma vez que a operação adquirida poderá passar a valer mais. Por este ângulo, afirma uma fonte, o aporte de recursos faz sentido, visto que a espanhola recompra um ativo desvalorizado, mas com perspectivas de recuperação.

Embora tenha caixa no Brasil, a Mapfre deve receber, conforme uma fonte, um aporte da matriz para recomprar as áreas que ficaram de fora da sociedade do BB. O valor do investimento já está previamente acordado com o BB, conforme outra fonte, mas ainda está guardado a sete chaves.

A Mapfre já arrumou a casa no Brasil para enfrentar a nova fase. No final do ano passado, a companhia desligou executivos com cerca de duas décadas de carreira na instituição. No lugar, trouxe espanhóis e expatriados, numa sinalização clara de que a operação carecia de ajustes. Há quem considere, inclusive, que novas mudanças ainda podem ocorrer. Essa semana, inclusive, a diretora global de recursos do grupo espanhol desembarcou na filial brasileira. Executivos de mercado pontuam, na condição de anonimato, que a direção atual da seguradora terá um desafio importante de reconstruir a 'nova' Mapfre no Brasil que, na visão de alguns, ficou encostada nesses anos de parceria com o BB.

Além disso, o reforço de recursos no Brasil por parte da espanhola ocorre em um momento delicado do País, em que a Reforma da Previdência foi deixada de lado e a agenda fiscal segue fragilizada. O fato é que, embora a matriz espere mais, o peso da operação brasileira justifica o investimento. A Mapfre Brasil representa hoje mais de um terço dos resultados globais do grupo. Seu patrimônio líquido, de R$ 1,85 bilhão em 2010, antes da parceria com o BB, estaria atualmente ao redor dos R$ 4 bilhões.

Do lado do BB, entretanto, o desinvestimento, além de trazer um foco maior em segmentos com menos riscos, gera um alívio em termos de capital em um movimento semelhante ao feito pelos demais grandes bancos. Enquanto o Itaú Unibanco vendeu a sua operação de seguros de grandes riscos para a Ace, atual Chubb, o Bradesco fez uma joint venture com a suíça Swiss Re para operar neste segmento.

Procurada, a Mapfre informou que "os novos termos da parceria - com a BB Seguridade - produzirão incremento da participação acionária da Mapfre nos seus negócios no Brasil, permitindo avançar para uma estrutura de governança mais simples e eficiente e reduzir os custos internos, com melhora importante da produtividade e da rentabilidade dos negócios". A companhia informa ainda que está "sempre atenta a novas oportunidades de mercado que possam gerar valor à sua operação na região". (Aline Bronzati - aline.bronzati@estadao.com)
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