Economia & Mercados
02/06/2023 14:43

Especial: Sinal firme de queda da Selic e melhora fiscal devem renovar gás do Ibovespa em junho


Por Maria Regina Silva e Luís Eduardo Leal

São Paulo, 01/06/2023 - Mesmo após avanço de pouco mais de 4% em maio, que favoreceria alguma realização no mês seguinte, junho tem potencial para ser melhor do que o do ano passado para o Ibovespa, quando colheu a maior perda para o mês desde 2002 - o índice cedeu então 11,50%, comparado à queda de 13,39% registrada 20 anos antes. Analistas ouvidos pelo Broadcast dizem haver espaço para avanço do principal índice da B3, na esteira da melhora de percepção sobre o risco fiscal - e caso se mantenha também perspectiva firme de queda da Selic, com expectativas mais favoráveis sobre a inflação.

"Se tudo ocorrer bem, a Selic pode cair em agosto, e isso ainda não está totalmente precificado. Se houver um sinal positivo nessa direção, de queda, o mercado tende a reagir mais", avalia o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.

Dados de inflação, como o IPCA-15 de maio, têm ajudado a fechar a curva de juros no Brasil, com o mercado começando a antecipar um possível corte da Selic no segundo semestre, o que abre espaço também para uma interpretação menos negativa sobre o ritmo de atividade à frente. A divulgação da prévia sobre a inflação oficial de maio foi seguida de uma mudança na comunicação do Banco Central (BC), que reconheceu melhora do cenário para os preços, e a possibilidade de uma redução da Selic estar mais próxima do que se antecipava. (link para Campos Neto).

"A expectativa é de que a Selic vai cair, o que tende a ajudar a recuperar liquidez na B3. Tudo isso com um copo meio cheio lá fora", diz o head de análise e sócio da Levante Investimentos, Enrico Cozzolino. Em maio, até o dia 29, houve saída de R$ 2,184 bilhões em investimento estrangeiro da B3.

"A estimativa é de um mês de junho construtivo, especialmente se houver tendência de baixa nos juros longos. O Ibovespa ir a 115 mil pontos não seria inviável desde que o arcabouço avance bem no Senado e o governo comece a tratar da reforma tributária", diz o analista da Empiricus Research, Matheus Spiess.

Para o CEO e sócio da FMB Investimentos, Fernando Bento, o desempenho do PIB ao longo do primeiro semestre, em meio a dados que têm surpreendido positivamente, como os de emprego, não deve atrapalhar a expectativa de queda da Selic. Ele justifica com base no efeito tardio da política monetária na economia real. "O que será determinante é a inflação corrente, bem como as expectativas, se vão desacelerar [rumo à meta]", diz. Ainda em junho, o mercado espera decisão sobre a meta de inflação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que pode atualizar as projeções de IPCA.

Por isso, na avaliação do head de análise da Levante, não se pode afirmar que a obtenção e manutenção do nível de 110 mil pontos na maior parte dos fechamentos entre 18 e 29 de maio indique tendência de alta para o Ibovespa, em junho. "Pode ser um repique de curto prazo", diz. De todo modo, a marca dos 114 mil pontos seria o ponto de resistência ainda a ser enfrentado pelo índice de referência da B3. "Acima, precisaríamos ver os juros caírem", acrescenta Cozzolino.

Ventos externos

Além disso, o exterior inspira cautela, especialmente quanto ao rumo da política monetária dos Estados Unidos, que tende a deixar o 'carry trade' menos atrativo, caso o BC brasileiro comece a cortar a Selic enquanto o Federal Reserve ainda eleva ou mantém em nível alto a taxa de juros americana.

Nesse sentido, o relatório Jolts, métrica mensal sobre o mercado de trabalho americano focada no giro da mão de obra, mostrou ritmo forte de contratações em abril, acima do esperado, o que sugere que o Federal Reserve possa manter o aperto da política monetária, diz o especialista da Blue3 Investimentos, Gabriel Felix.

De fato, logo depois do relatório desta quarta-feira, a chance de o Fed elevar em 25 pontos-base os juros de referência subiu de 55% para 72% na reunião de junho pela manhã, mas o cenário se reverteu à tarde. "A ideia de que o Fed poderia estabilizar os juros no patamar atual volta a ficar distante, no momento", diz Felix.

As dúvidas sobre a demanda chinesa, após o fraco PMI industrial de maio - em contração pelo segundo mês seguido - e a perspectiva de mais altas de juros nos Estados Unidos colocaram a maioria das bolsas no negativo na sessão desta quarta-feira, assim como as commodities, com o petróleo estendendo as perdas do dia anterior, quando já havia cedido mais de 4%.

Na China, os indicadores de atividade têm mostrado perda de vigor, o que pode atrapalhar a demanda por commodities, enfraquecendo seus preços. Por outro lado, uma sinalização do fim do ciclo de alta dos juros americanos, ainda que improvável no momento, "melhoraria o apetite por risco, ajudando a Bolsa e o câmbio", contrapõe Sung, da Suno Research, que, não obstante, avalia que o mês de junho pode se mostrar volátil, ante o grau de incertezas que ainda enevoam o horizonte.

Contato: reginam.silva@estadao.com; luis.leal@estadao.com
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