Agronegócios
02/10/2019 12:56

Irice/Rubens Barbosa: Política ambiental é instrumento da política comercial


Por: Gustavo Porto

São Paulo, 2/10/2019 - A política ambiental passou a ser indissociável da política comercial e a retórica oficial do governo brasileiro está na contramão dos compromissos de desenvolvimento sustentável assinados pelo País nos últimos anos. A avaliação é do embaixador Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), e foi feita durante o Seminário sobre Agronegócio e Diplomacia Ambiental, realizado hoje em São Paulo (SP).

Entre compromissos assinados pelo governo que podem ser questionados caso a política ambiental não seja readequada está, segundo Barbosa, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e União Europeia. "Dos 21 capítulos do acordo, um fala especificamente sobre desenvolvimento sustentável e tem 17 artigos. O acordo precisa ser ratificado e o momento é muito delicado para as relações internacionais", disse o embaixador durante o evento organizado pelo Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e o Grupo Estado.

Ex-embaixador do Brasil em Washington e em Londres, Barbosa reafirmou que o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da Organização Internacional das Nações Unidas (ONU), na semana passada, trouxe atritos com o exterior e só dificultará as negociações comerciais pautadas em questões ambientais. "A atual percepção externa sobre o Brasil só tem precedentes nas décadas de 1970, 1980, durante governos militares, quando a imagem em relação às questões ambientais e direitos humanos foi muito afetada", disse. "Naquela época demoramos 20 anos para nos recuperar", completou.

Como o acordo Mercosul-União Europeia é de fundamental interesse para o setor privado, em especial do agronegócio, Barbosa considera que é hora de instituições e companhias dessa área começarem a agir. Ele citou o exemplo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que reuniu representantes de 50 multinacionais com operações no Brasil e os encaminhou um documentos sobre ações de desenvolvimento sustentável a ser enviado para as matrizes no mundo.

"O desafio do setor privado é muito grande, porque esse acordo é amplo e a assinatura, que deve demorar mais dois anos e meio e necessita de uma aprovação unânime dos países, acaba com 20 anos de isolamento do mundo", concluiu o embaixador.

Abag

No mesmo evento, o presidente da Abag, Marcello Brito, avaliou que o aumento do desmatamento no Brasil, com a perspectiva de que a área suprimida de florestas supere 10 mil quilômetros quadrados em 2019, é muito ruim no atual momento de discussão sobre mudanças climáticas. "O País não pode permitir que um número de dois dígitos de desmatamento seja entregue em 2019, o que não ocorre desde 2004 ou 2005", afirmou.

Segundo Brito, o "Brasil não se fez presente" no fórum econômico que reuniu 60 chefes de Estado e presidentes de 200 das maiores empresas do planeta, em Nova York, na semana passada. "O primeiro-ministro da Índia (Narenda Modi) deu um show e fez um discurso para angariar amigos e mostrar as possibilidades de investimento no país", exemplificou.

O presidente da Abag ratificou a necessidade de acordos comerciais pautados em desenvolvimento sustentável e procurou desmistificar a teoria de que, se o Brasil parar a produção, o mundo sofrerá com o abastecimento de alimentos. "Se o Brasil não produzir, outro país vai produzir, porque o espaço está aberto."

Contato: gustavo.porto@estadao.com
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