Agronegócios
17/09/2018 10:10

Perspectiva: mercado de grãos deve atentar para relatos de produtividade nas lavouras dos EUA


São Paulo, 17/09/2018 - Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começam a semana atentos à evolução das discussões comerciais entre Estados Unidos e China, aos relatos de produtividade da colheita norte-americana e à demanda externa. Quanto ao trigo, novidades sobre as exportações da Rússia, que tem sido importante concorrente dos EUA no mercado externo, também devem direcionar os preços em Chicago.

A soja fechou em baixa na CBOT na sexta-feira, esticando as perdas da véspera. O vencimento novembro caiu 2,75 cents (0,33%) e terminou a US$ 8,3050/bushel. O mercado aguarda novidades sobre uma possível retomada das negociações comerciais entre Estados Unidos e China. Os preços chegaram a subir na sexta-feira, mas depois passaram a recuar, sem novas informações sobre o encontro entre os dois países. Na quinta-feira, o Ministério do Comércio da China confirmou que recebeu um convite dos EUA para retomar o diálogo sobre comércio. Conforme o analista Matheus Gomes Pereira, da ARC Mercosul, operadores aguardam esclarecimentos sobre a possibilidade de reencontro entre líderes de governo dos EUA e China. "Não tem novidades, essa questão da possibilidade de negociações entre Donald Trump e Xi Jinping está esfriando, não tem nenhum movimento em direção a qualquer acordo comercial, a qualquer nova reunião, apesar de o governo chinês já ter aceitado o pedido de Trump", apontou Pereira. Segundo ele, a falta de notícias fez com que a CBOT oscilasse, sem um direcionamento definido, na sexta-feira. "O mercado chegou a tentar operar na alta, não teve sustentação. Chegou a operar em baixa mais agressiva, mas também não teve pressão suficiente. Acabou terminando bastante próximo da neutralidade."

Enquanto isso, a perspectiva de safra recorde norte-americana ainda pesa sobre Chicago. Em seu relatório de oferta e demanda de setembro, o USDA aumentou a projeção de produção de soja do país em 2018/19 de 4,586 bilhões de bushels (124,82 milhões de toneladas) para 4,693 bilhões de bushels (127,74 milhões de toneladas). O número mais alto veio em um período em que os preços já tendem a cair à medida que os agricultores começam a colher a safra, disse o analista sênior da Futures International, Terry Reilly, à Dow Jones. Quanto à passagem do furacão Florence, analistas disseram que algumas regiões podem ter campos inundados, mas não eram esperados prejuízos expressivos à produção norte-americana. A expectativa, inclusive, era de condições favoráveis ao avanço da colheita no Meio-Oeste, segundo a ARC. De acordo com a consultoria, nesta semana devem surgir mais projeções sobre os resultados das lavouras nos EUA. "Qualquer novidade sobre produtividades deverá tomar conta do direcionamento de preços em Chicago, assim como qualquer indício concreto de encontros entre a China e os EUA, situação que ainda é incerta", disse Pereira.

O Rabobank projetou na sexta-feira, no relatório trimestral Agroinfo, que os preços da soja na CBOT podem retornar para patamares entre US$ 8,70 e US$ 9 por bushel com a perspectiva de retomada das compras da China de soja norte-americana mesmo se as tarifas de importação impostas pelos chineses ao produto dos Estados Unidos forem mantidas. O Rabobank prevê que a China deve demandar entre 15 milhões e 20 milhões de toneladas de soja no último trimestre de 2018. "Com baixo volume disponível no Brasil, a expectativa é de que os norte-americanos forneçam a maior parte desse volume para os chineses, o que daria suporte aos preços da soja em Chicago", destacou o banco. Traders também monitoram as previsões do tempo no Brasil após mais Estados terem encerrado o período do vazio sanitário no último fim de semana. Segundo o serviço meteorológico DTN, eram esperadas chuvas no centro do Brasil nesta semana, aumentando a umidade do solo e permitindo o começo do plantio da soja, enquanto no Sul do País o solo úmido por causa das precipitações recentes também permitia a semeadura.

Quanto ao milho, os futuros fecharam em alta na sexta-feira na CBOT, com um movimento de correção após as perdas das últimas três sessões. O vencimento dezembro subiu 1,25 cent (0,36%) e terminou a US$ 3,5175/bushel. Além das compras técnicas, o milho foi influenciado pelos ganhos do trigo. Os dois cereais são substitutos em ração animal. Nas últimas sessões, o mercado vinha sendo pressionado pela maior oferta nos EUA. O USDA reajustou a previsão de safra em 2018/19 para 14,827 bilhões de bushels (376,60 milhões de toneladas), ante 14,586 bilhões de bushels (370,49 milhões de toneladas) em agosto. O volume, se confirmado, será o segundo maior já produzido no país. O mercado aguarda agora relatos de rendimentos do cereal à medida que a colheita avança no cinturão.

Com uma safra norte-americana volumosa, traders monitoram também a demanda pelo produto dos EUA. O USDA informou que as exportações totais do cereal no ano comercial 2017/18 foram de 57,473 milhões de toneladas, aumento de 4% na comparação com o ano anterior. Na semana encerrada em 6 de setembro, cancelamentos superaram vendas dos EUA em 171,6 mil toneladas de milho da safra 2017/18, segundo o USDA. Um total de 2,926 milhões de toneladas foi transferido para o ano comercial 2018/19. Para a safra 2018/19, foram vendidas outras 774,2 mil toneladas.

Com relação ao trigo, os futuros fecharam em alta na sexta-feira em Chicago, com um movimento de recompra de posições após as perdas dos três pregões anteriores. Além disso, traders voltaram a especular sobre menores vendas externas russas depois de o país anunciar que está reforçando a fiscalização sobre exportações, o que, segundo analistas, pode atrasar embarques. A Rússia vinha exportando trigo a um ritmo acelerado neste ano.

O mercado de trigo vinha sendo pressionado pelo maior estoque global em previsto pelo USDA. O departamento aumentou a previsão de estoque mundial de trigo em 2018/19, de 258,96 milhões de toneladas para 261,29 milhões de toneladas, contrariando a expectativa de analistas, que era de redução, para 257,2 milhões de toneladas. Na CBOT, o vencimento dezembro do trigo subiu 14,50 cents (2,92%) e terminou em US$ 5,1150 por bushel na sexta-feira.

Café: contratos caem 0,70% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 2,7% (275 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base dezembro de 2018. As cotações encerraram na sexta-feira (14), a 99,70 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 102,45 cents (sexta, dia 7) e mínima de 99,50 cents (sexta, dia 14).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que, aproveitando a escalada histórica do dólar em relação ao real, justamente na entrada no mercado da safra recorde de café do Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, operadores e especuladores pressionaram ainda mais os contratos de café na ICE Futures US e conseguiram jogar a cotação de dezembro próximo para baixo de um dólar por libra-peso.

Nos fundamentos, os participantes do mercado usam como pano de fundo para essa pressão especulativa o fato de o Brasil estar colhendo uma safra recorde. Repetem, dia após dia, como um "mantra", essa informação. "Não levam em consideração nas análises o fim, também histórico, dos estoques remanescentes brasileiros de café e que nossa safra recorde é apenas suficiente para o Brasil cumprir seus compromissos de exportação e consumo interno neste ano-safra", afirma Carvalhaes. "Em junho de 2019, o Brasil estará novamente com os armazéns vazios e colhendo uma safra de arábica de ciclo baixo", conclui.

Açúcar: mercado deve se sustentar acima de 12 cents
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE) tenta permanecer acima dos 12 cents por libra-peso no contrato março e dos 11 cents no vencimento outubro. O movimento de alta durante a semana passada foi frustrado pela forte liquidação de realização de lucros de fundos e especuladores na sexta-feira (14). Esse primeiro vencimento perdeu 52 pontos (4,45%) e fechou em 11,16 cents e o março recuou 43 pontos (3,45%) em 12,02 cents.

Relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), com posicionamento de traders mostrou que na semana encerrada em 11 de setembro, terça-feira passada, esses agentes estavam com saldo vendido de 163.835 lotes em comparação com o recorde 188.738 lotes no dia 4 de setembro. Analistas avaliam que esse movimento de redução de posição vendida continuou ao menos até sexta-feira e não foi uma aposta na alta do açúcar, mas uma tentativa de evitar perdas.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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