Agronegócios
21/07/2021 08:42

Milho: importação deve acontecer mesmo com washouts; exportação tende a ser menor


Por Isadora Duarte e Leticia Pakulski

São Paulo, 21/07/2021 - A consultoria mineira Céleres levantou junto ao mercado que 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas em contratos que seriam destinados à exportação já foram convertidos para o mercado interno. "Eventualmente o número pode ser maior. Depende de como a safra vai se consolidar, do nível de quebra", diz a analista de mercado da consultoria Daniely Santos. O motivo, segundo ela, é a diferença entre o valor pago no exterior pelo milho e o indicado internamente pelo cereal. Consumidores domésticos vêm pagando prêmio para atrair ofertas em um cenário de quebra da safrinha, primeiro pelos efeitos da falta de chuva durante o desenvolvimento e depois pela ocorrência de geadas. Na avaliação da Céleres, a safrinha 2021 deve ficar em torno de 61 milhões de toneladas, ante projeção anterior, que considerava apenas os efeitos da seca, de 72,3 milhões de toneladas.

A analista considera, contudo, que os washouts até o momento não configuram volume expressivo. "Temos ouvido falar, mas em casos isolados", afirma. "Apesar das perdas expressivas, o mercado começou a contabilizá-las um a dois meses atrás, e aí produtores começaram a se retrair e segurar um pouco da safra na expectativa dessa quebra." A consultoria não tem o detalhamento de quanto da safrinha foi comercializada para exportação e quanto para o mercado interno, apenas o total já negociado pelos produtores, que chega a 78% no Centro-Sul.

Daniely lembra que, no caso do milho, o grande influenciador do mercado é o consumo interno, por isso o volume a ser destinado ao exterior deve diminuir com uma produção menor no País. "Quando se tem quebra de safra, há uma redução da exportação." Segundo a analista, quando a consultoria esperava uma produção total de milho de 115 milhões de toneladas, no primeiro levantamento de safra, a expectativa era exportar 35 milhões de toneladas, mas agora projeta que saiam do País apenas 21 milhões de toneladas, diante de uma produção total projetada em 88 milhões de toneladas e um consumo doméstico entre 73 milhões e 74 milhões de toneladas. "Produtor, ao invés de vender para exportação, acaba destinando esse milho ao consumo interno, porque o mercado doméstico está remunerando melhor do que as exportações."

O analista de mercado de grãos da AgRural, Adriano Gomes, reforçou que a oferta de volumes previstos para exportação no mercado doméstico reflete o prêmio que consumidores do País pagam para tentar assegurar volumes do cereal. "Temos escutado rumores de algumas tradings em Mato Grosso terem virado volumes que seriam para exportação para o mercado interno." O analista destacou que essa operação depende de uma negociação de cada trading com os compradores lá fora. "Esse processo de virar volume de exportação para o mercado interno não é uma operação muito fácil, depende de cada contrato, de como vai ser feita essa negociação com o comprador internacional."

A AgRural estima a safrinha do Brasil em 59,1 milhões de toneladas, ante 64,6 milhões de toneladas previstas anteriormente, considerando as previsões da consultoria para o Centro-Sul e a projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para Norte e Nordeste. Para a consultoria, as exportações do País devem ficar abaixo de 20 milhões de toneladas entre fevereiro deste ano e janeiro do ano que vem.

Conforme as duas consultorias, há prejuízos na safrinha causados por adversidades climáticas principalmente no Paraná e em Mato Grosso do Sul, mas também em áreas de Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Minas Gerais. Ambas destacam que novos ajustes para baixo nas previsões de produção podem ser feitos após a ocorrência de novas geadas no País.

Mesmo com os washouts, consumidores locais precisarão trazer milho de fora para se abastecer, segundo Gomes. "Será preciso suprir a demanda do mercado interno." Entre novembro e a entrada da safra 2021/22 o Brasil terá compras do exterior do cereal maiores do que o normal para o período, segundo Daniely. "Essas importações virão para complementar o estoque da safra." A estimativa da Céleres é de que as importações da temporada 2020/21 alcancem 4 milhões de toneladas. "É mais do que o dobro da safra passada."

O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) reduziu a previsão de exportação de milho mato-grossense na safra 2020/21 de 20,96 milhões para 17,18 milhões de toneladas. Segundo o Imea, com o menor volume esperado na produção do Estado, aliado ao maior consumo mato-grossense na comparação com a temporada anterior e aos preços internos mais altos do que para exportação, a expectativa é de que os embarques do cereal apresentem "retração significativa" na atual temporada. "Com as projeções de esmagamento firme por parte das usinas de biocombustíveis, a produção do etanol deve continuar ditando o ritmo do consumo de milho em Mato Grosso, dado que o setor de proteína animal segue sendo afetado pelo aumento nos preços dos insumos (dentre eles o milho)", disse o Imea, em boletim.

A Associação Nacional de Exportadores de Cereais, que não quis comentar o assunto, prevê exportações de 3,035 milhões de toneladas de milho em julho. No primeiro semestre do ano, os embarques de cereal brasileiro somaram 3,648 milhões de toneladas, 12,6% acima do reportado em igual período do ano passado, segundo dados consolidados do Agrostat.

Contato: isadora.duarte@estadao.com; leticia.pakulski@estadao.com
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