Agronegócios
03/06/2019 11:00

Alimentos/Food Valley: Brasil tem tudo para ser referência em inovação da produção


Por Paulo Beraldo

São Paulo, 03/06/2019 - Já consolidado como um dos principais exportadores de produtos agropecuários do mundo, o Brasil tem também as qualificações necessárias - produção elevada, pesquisas consolidadas, indústrias e investidores fortes - para se tornar referência em inovação na produção de alimentos. A avaliação é do economista Roger Van Hoesel, diretor do Food Valley, uma espécie de Vale do Silício do agronegócio e da alimentação, localizado na Holanda, a cerca de 80 quilômetros de Amsterdã.

Questionado se o Brasil pode ser referência no setor, respondeu: "Não vejo razão para não ser. O Brasil é uma potência agrícola, há empresas fortes e excelentes universidades. Só é preciso determinar o valor que um cluster (polo) de inovação na produção de alimentos irá adicionar (ao agronegócio brasileiro)", respondeu ao Estadão/Broadcast, um dia antes de participar do International Food Tech Forum, que será realizado amanhã em Piracicaba (SP).

O evento discutirá como o Brasil pode criar um ecossistema de inovação na produção de alimentos e terá palestrantes da Inglaterra e de Israel, onde há experiências bem-sucedidas nesse tema, além de Van Hoesel e de pesquisadores e empreendedores brasileiros.

O especialista holandês afirma que vê vários países produzindo inovações nos sistemas alimentares e estabelecendo clusters, como o Brasil. Por aqui, a região que desponta no setor é o entorno da cidade de Piracicaba, a 160 quilômetros de São Paulo, onde dezenas de empresas foram criadas nos últimos anos para desenvolver tecnologias para diferentes segmentos da cadeia agroalimentar, as Agtechs.

A região de Piracicaba é favorecida pela presença de instituições como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a Esalq/USP, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), além de investidores. O Brasil tem hoje cerca de 300 Agtechs e mais de 100 estão na região.

Van Hoesel, que é uma das principais lideranças do agronegócio holandês, vê as parcerias entre instituições como fundamentais para o sucesso de qualquer hub de inovação. E diz que o aumento da produção de alimentos necessário para abastecer a população mundial passa pela tecnologia.

Ele defende que as empresas "façam a lição de casa" e saibam quais parceiros ou concorrentes estão trabalhando no seu mercado.

"Você não precisa reinventar a roda. Durante a última década, em muitos países os clusters foram estabelecidos onde as lições podem ser aprendidas", disse. Para Van Hoesel, a mesma lógica se aplica às novas tecnologias. "Muitas vezes vemos que as empresas trabalham em soluções semelhantes em diferentes países", afirmou.

Objetivos

O especialista ressalta, ainda, a necessidade de se definir com clareza os objetivos de um novo ecossistema de inovação. Segundo ele, é crucial saber quem serão os principais clientes - empresas, academia ou governo -, e avaliar quais serviços podem ser oferecidos. "Compreender as reais necessidades dos potenciais parceiros é definidor para o sucesso", garantiu.

Sobre as dificuldades de instalação de um polo de inovação, citou o medo de mudanças. "Enquanto não for claro para as partes individuais os motivos de se investir em novas tecnologias e serviços diferentes, as pessoas muitas vezes não se movimentam". Ele destacou, também, a necessidade de um cluster não ser limitado a um grupo de organizações, para que seja mais atrativo e tenha mais eficiência. "Devem ser sistemas abertos, e não exclusivos", explicou.
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